Por essas razões, nas alturas de
maior tristeza, tendo a recuperar, na memória, as coisas boas que aconteceram,
tentando confortar-me com a última festa e o último beijo que dei na manhã de
ontem, naquele que foi o último dia da vida feliz da Bê.
Subiu montados, percorreu
quilómetros, sempre corajosa diante do gado bravo. Foi terna com as pessoas,
protetora do território, deu sempre sinal quando julgou necessário.
Foi leal até ao último instante.
Até ao último instante. Mas, antes disso, deu a conhecer a Herdade à Bolota,
que lhe faz companhia há uns meses. Levou-a a Santo Estêvão, aturou
brincadeiras, mostrou-lhe o perigo das valas e ensinou-lhe as formas de passar
pelas vedações. Ensinou-a a caçar coelhos, a estar desperta perante a visita noturna
dos javalis e a entreter-se atrás da raposa.
A Bê foi uma lutadora, com uma
dignidade e um carácter de tal forma imensos que envaidecem os seus donos. E,
em vez de deixar um vazio, deixa um legado. Um legado de amor àquele local, um
legado de proteção, um legado de trabalho.
Morreu ontem naquela que foi, e
continuará a ser, a sua casa, vestindo a camisola até ao último segundo.
Tendo sido sempre feliz,
conquistou a imortalidade pela sua postura exemplar que continuará a inspirar
os vivos, continuando, por isso, a fazer parte da história das coisas boas que
aconteceram na Formiga.