Os holofotes acendem-se. A curva, unida como há muito não se
via, já está pronta para a missão impossível. O hino da competição começa a
tocar e entram em campo os onze herdeiros da esperança, honrosamente vestidos
de verde e branco. O mundo divide a sua atenção entre os milionários de
Manchester e os guerreiros de Lisboa num jogo dos milhões contra o trabalho, da
arrogância contra a humildade, do dinheiro contra a história, mas dos onze
contra onze.
Depois de Figo e Ronaldo, da noite épica de Alkmaar, entra
tantas outras mais, eis que surgem os leões de Lisboa, uma vez mais, para concretizar
o Sonho que os fundou. Ser grande, tão grande, como os maiores da Europa.
Com uma vantagem mínima, Portugal e o mundo tinham
curiosidade para ver a reacção dos leões. A expectativa, deva-se dizê-lo, era a
de que, em poucos minutos, um Sporting com dois autocarros à frente da baliza
estivesse apenas e já a lutar por uma questão de honra. Na verdade, todos
tinham dúvidas sobre as nossas capacidades. Todos menos nós. Porque não desistimos.
O medo de perder foi substituído por uma enorme vontade de
ganhar. Fomos, desde o início, para cima deles. Com respeito, porque o que lhes
custou um dos avançados é idêntico ao valor do orçamento anual da nossa equipa,
mas com vontade, com garra e gana de dar sentido ao Sonho, de dar asas à
Esperança, de concretizar aquilo que serviu de razão para fundar o Sporting.
A primeira parte teve sentido único. Além de um golão de um
mágico chileno e do sentido de oportunidade do Ricky, houve um penalty por marcar,
além de duas outras situações de perigo.
Ao intervalo, comentei que o jogo não estava acabado. Nem
teria sentido, se estivesse. Porque ganhar sem sofrer é como pão sem sal.
Aguentámo-nos. Aguentaram-se os jogadores, que apenas cometeram três erros. Aguentámo-nos
nós. Que sentíamos o coração a bater forte. Mas conseguimos.
No último segundo, num lance que guardaremos nas nossas
memórias, o melhor guarda-redes do mundo teve reflexos e frieza para desviar
uma bola que vinha directamente da cabeça do guarda-redes internacional inglês
para a nossa baliza. Foi por milímetros. Mas foi ao lado.
A vitória impossível aconteceu. Esta foi uma das noites em
que o Sonho, o Sonho Sporting, se concretizou. Com sorte, porque a sorte
protege os audazes. Mas por força do trabalho, inteligência e raça que Sá Pinto
incutiu nos jogadores.
Foi uma noite absolutamente memorável. Que fez por merecer
que a noite de Lisboa ficasse preenchida de cachecóis do Sporting. E que exigiu
a recepção apoteótica no aeroporto, onde estive. Com milhares de pessoas que
esperaram durante várias horas, festejou-se o Sporting e o feito que acabara de
alcançar.
Sporting. Lisboa. Portugal. Além de já saberem quem somos,
já não nos esquecem.
E nós não vamos esquecer a noite de quinta-feira, celebrada
com grande entusiasmo por uma massa associativa apaixonada. Mais do que ter
ficado registada nas câmeras e nos telemóveis de adeptos e jogadores, o que
vivemos ontem ficará guardado na nossa memória.
É por isto que valeu a pena ter escolhido ser diferente e
ser do diferente. Vale a pena ser do Sporting. Vale mesmo a pena. E isto, isto
é que é o Sporting!
Estamos vivos. Não temos medo. Não desistimos. Porque,
herdeiros de José de Alvalade, nós temos um Sonho, tudo fazemos para o tornar
real, participamos empenhadamente e apoiamos em todas as circunstâncias.
E há dias em que os sonhos acontecem.
A História faz-se. E, se a esperança existe e o Sporting
vive, então, a lenda continua…
1 comentário:
Obrigada pelo post. Arrepiou-me e fez-me reviver esses momentos tão preciosos da nossa existência como Sportinguistas.
Ass: Leoa Ferrenha
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