terça-feira, 9 de julho de 2013

Brumices


Faz capas de jornais, é tema para páginas e mais páginas de um folhetim diário, é o assunto na ordem do dia das televisões sempre que falam do Sporting. Falo do Bruma, da novela. 
Imaginem o que seria, se o Sporting não quisesse ficar com o jogador. Imaginem o que seria, se o Bruma não adorasse o clube e não quisesse mesmo ficar.
Todos sabem que o melhor, para Bruma, é ficar em Lisboa, vestindo de verde e branco. Sabe Bruma. Sabe o Sporting. Sabe o único clube que verdadeiramente acredita nas suas potencialidades, que oferece milhões (três Nolitos e meio, três David Villas) para que o jogador fique emprestado no Sporting. Sabe o seu empresário e sabe o seu advogado, pobre incompetente que pensa ter descoberto o  petróleo.
Penso que a novela, que existe, terá um fim. Bruma fica no Sporting, potencia-se, assume o lugar de Nani na selecção, dá o salto a troco de uma pequena, mas justa, fortuna, e vai assumir-se como um dos grandes jogadores do mundo.
A outra possibilidade seria a de Bruma sair já, para um clube onde não será titular, perdendo o combóio do Mundial e correndo o risco de, tal como Paim, ter de se dedicar aos saltos para a piscina.
Mas o que registo, que é apenas o que pressinto saber, é que Bruma, em Portugal, só jogará de verde e branco, jogando, em Alvalade, pelo menos mais um ano.
Registo ainda outras coisas.
O caso Bruma irá resolver-se em benefício para todas as partes, mas há outros Brumas, Brumas verdadeiros em Portugal, que estas falsas peripécias ligadas ao verdadeiro Bruma têm escondido.
Quantos Brumas existem no FC Porto? É mais provável Atsu jogar no Sporting ou no Benfica do que ficar no Porto. É um bom jogador, que sairá pela porta dos pequenos, vendido por uma pechincha. E Rolando? O tal que o Porto tenta oferecer ao seu rival? Ninguém fala dele? 
Mas não é só na invicta que há brumices. Em Lisboa, também as há.
Imaginem, agora, que Bruma tinha feito mais do que meia dúzia de jogos. Que era uma peça fundamental. Que tinha sido a terceira contratação mais cara da História do clube. Que era o grande goleador. Aquele que resolvia. Que tinha marcado, em jogos oficiais, na equipa principal do clube, mais de uma centena e meia de golos. Imaginem que o clube queria despachar esse jogador, detentor de um pé esquerdo que decidia jogos, um dos melhores avançados da Liga, um dos melhores goleadores da história do clube.
Imaginem, já agora neste "suponhamos", que o clube punha, no mercado e em desespero, o passe do jogador. E que o mercado, sorrindo, nada dizia, apenas se oferecendo propostas irrisórias por esta peça fundamental, vindas de um clube recém-promovido em Inglaterra e de um clube de um campeonato secundário que está impedido de ir às competições europeias.
Nós, no Sporting, não temos 105 jogadores, estamos em fase de uma reestruturação que reduzirá orçamentos, mas temos dinheiro para ir fazer um estágio lá fora. Não somos uma empresa de compra e revenda de jogadores, nem uma empresa de televisão. Não ganhamos, também, à conta da fruta, do chocolate ou da meia de leite.
Temos, para resolver, a situação de Bruma. Iremos resolvê-la. E fá-lo-emos no devido tempo, provavelmente numa altura em que o Atsu estará, lá para Gaia, a correr sozinho e numa altura em que Cardozo continuará vinculado a um clube, que não o quer, e onde aquele, de todo, também não quer ficar.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Seja, então, o tempo novo!


Quando foi divulgada, nos órgãos de comunicação social, a notícia da demissão de Paulo Portas, tive a clara percepção de que o país, finalmente, caíra no precipício.
No decorrer de um plano de assistência financeira, tive a sensação de que o país, após dois anos de políticas de empobrecimento, não tinha soluções. Pensava, aliás, que Portugal se confrontava com o pior de todos os mundos, numa conjuntura particularmente adversa, em que, perante a, na altura, provável queda do Governo, tinha a pior oposição desde que Portugal se democratizou, tendo, simultaneamente, o pior Presidente do Portugal democrático.
Compreendi os motivos que levaram à carta de demissão de Portas que, imprudentemente, foi tornada pública. Revi-me na forma como entendeu ter chegado o tempo para uma mudança de políticas, mais orientadas para o crescimento económico, de forma a dar um novo impulso às famílias e empresas, eventualmente descendo alguns impostos, sem comprometer os objetivos propostos e as receitas fiscais.
Uma pessoa engole um sapo. Engole dois. Engole até três, quatro, dez, vinte ou cem. Fá-lo com a consciência de que, a cada sapo engolido, contribuía para a solidez de um governo que, caso caísse, levaria Portugal para uma situação semelhante à grega, em que, numa fase de desespero, se mostrava ingovernável aos olhos dos portugueses e dos credores.
Não acredito que Paulo Portas tivesse a certeza absoluta de que a sua saída seria irrevogável. Pelo contrário. Creio que sabia que colocaria a batata quente nas mãos de um Presidente que, rapidamente, a iria passar para uma Assembleia da República sem propostas ou para um Primeiro-Ministro forçado a ceder. Terá sido esse o contexto em que Portas escreveu ao Primeiro-Ministro, sem conhecimento de mais ninguém, nem mesmo do próprio partido que liderava e lidera.
Numa altura em que o risco é total, há que jogar todas as cartas. E foi isso que Portas fez, desiludindo, pelo menos momentaneamente, aqueles que votaram em si.
O governo demorou tempo a remodelar-se, nas políticas, nos ministros. Era tarde para que surgisse, novamente, com a cara lavada, com uma nova energia para uma segunda fase do mandato em que, a um ano da saída da Troika, se começa a discutir o Portugal pós-Troika.
Não sei, se Portugal assistiu, na semana passada, a uma brincadeira de miúdos, a que muitos chamaram de garotos. Não sei. Pelo menos, pareceu.
Partilhei o nervosismo que assolou a casa de quase todas as famílias portuguesas. Partilhei o sentimento de condenação perante aquilo que considerei ser a imprudência de Portas, a falta de flexibilidade e diálogo de Passos e a inação permanente de um Presidente da República, que não ajudei a eleger, e que nunca exerceu, pelo menos de uma forma inequívoca e visível, os poderes que lhe estão legalmente confiados, incluindo na Lei Fundamental.
Hoje, tenho uma percepção diferente. Como teria sido com outro que não Portas? Como teria sido com outro que não Cavaco?
Sem Portas, Portugal estaria sem governo, com um governo minoritário ou com um governo maioritário mas sem comunhão de ideias.
Sem Cavaco, Portugal estaria a caminho de eleições (estando, pelo menos durante dois meses, sem governo) ou com um governo de iniciativa presidencial numa coligação alargada ao Partido Socialista, o que, em caso de fracasso, poderia pôr em causa o fraco, mas necessário, sistema partidário existente.
Talvez Portas tenha agido bem. Talvez a inação de Cavaco tenha, finalmente, dado frutos. Hoje, em vez da ansiedade, temos esperança. Numa maioria refrescada, num governo onde todos estão em sintonia, numa política diferente que permita, ao país, dar uma nova resposta perante as dificuldades.
O tempo novo chegou a Portugal. E oxalá que, daqui em diante, se ponha o interesse nacional à frente de um compromisso que nos tem levado à miséria, castrando o nosso futuro. Renegoceie-se a dívida, peça-se o perdão de parte dela, ressuscitem-se os portugueses, dando-lhes um pouco mais de ar.  
A partir de agora, apenas pedimos, e mesmo por favor, que sejam responsáveis.

E nunca se esqueçam que, sem dinheiro e sem economia, não se pagam dívidas.