Quando foi divulgada, nos órgãos
de comunicação social, a notícia da demissão de Paulo Portas, tive a clara
percepção de que o país, finalmente, caíra no precipício.
No decorrer de um plano de
assistência financeira, tive a sensação de que o país, após dois anos de
políticas de empobrecimento, não tinha soluções. Pensava, aliás, que Portugal
se confrontava com o pior de todos os mundos, numa conjuntura particularmente adversa,
em que, perante a, na altura, provável queda do Governo, tinha a pior oposição
desde que Portugal se democratizou, tendo, simultaneamente, o pior Presidente
do Portugal democrático.
Compreendi os motivos que levaram
à carta de demissão de Portas que, imprudentemente, foi tornada pública.
Revi-me na forma como entendeu ter chegado o tempo para uma mudança de
políticas, mais orientadas para o crescimento económico, de forma a dar um novo
impulso às famílias e empresas, eventualmente descendo alguns impostos, sem
comprometer os objetivos propostos e as receitas fiscais.
Uma pessoa engole um sapo. Engole
dois. Engole até três, quatro, dez, vinte ou cem. Fá-lo com a consciência de
que, a cada sapo engolido, contribuía para a solidez de um governo que, caso
caísse, levaria Portugal para uma situação semelhante à grega, em que, numa
fase de desespero, se mostrava ingovernável aos olhos dos portugueses e dos
credores.
Não acredito que Paulo Portas
tivesse a certeza absoluta de que a sua saída seria irrevogável. Pelo
contrário. Creio que sabia que colocaria a batata quente nas mãos de um
Presidente que, rapidamente, a iria passar para uma Assembleia da República sem
propostas ou para um Primeiro-Ministro forçado a ceder. Terá sido esse o
contexto em que Portas escreveu ao Primeiro-Ministro, sem conhecimento de mais
ninguém, nem mesmo do próprio partido que liderava e lidera.
Numa altura em que o risco é
total, há que jogar todas as cartas. E foi isso que Portas fez, desiludindo,
pelo menos momentaneamente, aqueles que votaram em si.
O governo demorou tempo a
remodelar-se, nas políticas, nos ministros. Era tarde para que surgisse,
novamente, com a cara lavada, com uma nova energia para uma segunda fase do
mandato em que, a um ano da saída da Troika, se começa a discutir o Portugal
pós-Troika.
Não sei, se Portugal assistiu, na
semana passada, a uma brincadeira de miúdos, a que muitos chamaram de garotos.
Não sei. Pelo menos, pareceu.
Partilhei o nervosismo que
assolou a casa de quase todas as famílias portuguesas. Partilhei o sentimento
de condenação perante aquilo que considerei ser a imprudência de Portas, a
falta de flexibilidade e diálogo de Passos e a inação permanente de um
Presidente da República, que não ajudei a eleger, e que nunca exerceu, pelo
menos de uma forma inequívoca e visível, os poderes que lhe estão legalmente
confiados, incluindo na Lei Fundamental.
Hoje, tenho uma percepção
diferente. Como teria sido com outro que não Portas? Como teria sido com outro
que não Cavaco?
Sem Portas, Portugal estaria sem
governo, com um governo minoritário ou com um governo maioritário mas sem
comunhão de ideias.
Sem Cavaco, Portugal estaria a
caminho de eleições (estando, pelo menos durante dois meses, sem governo) ou
com um governo de iniciativa presidencial numa coligação alargada ao Partido
Socialista, o que, em caso de fracasso, poderia pôr em causa o fraco, mas necessário, sistema
partidário existente.
Talvez Portas tenha agido bem.
Talvez a inação de Cavaco tenha, finalmente, dado frutos. Hoje, em vez da
ansiedade, temos esperança. Numa maioria refrescada, num governo onde todos
estão em sintonia, numa política diferente que permita, ao país, dar uma
nova resposta perante as dificuldades.
O tempo novo chegou a Portugal. E
oxalá que, daqui em diante, se ponha o interesse nacional à frente de um
compromisso que nos tem levado à miséria, castrando o nosso futuro.
Renegoceie-se a dívida, peça-se o perdão de parte dela, ressuscitem-se os
portugueses, dando-lhes um pouco mais de ar.
A partir de agora, apenas pedimos, e mesmo por favor, que sejam responsáveis.
E nunca se esqueçam que, sem
dinheiro e sem economia, não se pagam dívidas.
1 comentário:
Amigo António
Comungo das tuas palavras em 99%.
No meu caso Portas não me desiludiu,aliás dei-lhe pelo pedido de demissão os Parabêns bem conscientes de que não havia outra alternativa para a actitude contínua de Pedro Passos Coelho.
Quando me dizem que Portas teve que engolir agora um sapo enorme,rio.
Engoliu milhentos no passado mas desta vez devolveu um Javali gordo imenso que Passos teve que engolir de uma só vez e sem engasgar!!!!
Ganhou Passos mesmo que não tenha consciência disso, ganhou o País.
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