O mundo é pequeno e começa a
ficar cada vez mais perigoso. Não falo das tendências cada vez mais autoritárias
que os alemães têm mantido em relação a uma Europa contra quem, noutros tempos,
já combateram, tendo precisado da ajuda daquela para se reerguer enquanto país,
e enquanto potência económica. Não me refiro, também, à constante frieza russa,
país cuja relação tenta ser preservada, por todos os países, de uma forma
sempre delicada. Também não refiro à persistente ameaça norte-coreana, país
que, isolado do mundo moderno, continua a intimidar a mais poderosa potência
económica.
A situação na Síria não faz
adivinhar nada de bom para uma Europa que continua a não sair da cepa torta,
que estagnou e, sem saber o que quer de si própria, continua a falar através de
várias e diferentes vozes. Um ataque na Síria, com fundamentos semelhantes aos
que desencadearam a guerra no Iraque, seria também ruinoso para os Estados
Unidos, cuja economia continua com enormes dificuldades, sendo previsivelmente
superada pelo dinamismo chinês, ainda que seja construído através de sucessivos
ataques à dignidade da vida humana.
Não sei o que fundamentou o
cancelamento unilatera
l (pelos Estados Unidos) do encontro que estava previsto
realizar-se com a Rússia, em Haia. Não sei, também, se existe algum fundamento
para crer que houve um ataque feito através de armas químicas na Síria. Mas
parece-me que, ainda para mais na atual conjuntura económico-financeira, os
Estados Unidos e os seus aliados europeus deveriam ser mais prudentes
relativamente a uma eventual intervenção militar no país liderado por Bashar
al-Assad.
É perfeitamente compreensível,
para o comum ocidental, que os Estados queiram reprimir o “uso” de civis
inocentes para desencadear um ataque químico que mata indiscriminadamente. É,
também, compreensível que se repudie o atraso sírio em aceitar o pedido da comunidade
internacional de permitir o acesso de inspetores das Nações Unidas ao local
onde o referido ataque alegadamente terá ocorrido.
Impulsivamente, a posição dos
Estados Unidos ficou mais dura, havendo uma pressão de alguns congressistas no
sentido de enviar navios para a Síria para atacar o território através de
mísseis. A má vontade, que me parece ser inequívoca, por parte dos sírios,
ajuda a esse impulso.
Todavia, numa altura em que
persiste o medo relativamente a ameaças permanentes, como a russa ou a
norte-coreana, mas também de movimentos islâmicos radicais, há que ser
especialmente cauteloso com a questão da Síria, sobretudo após os avisos do Irão
e da China, que apontam para retaliações em caso de ataque.
O cenário que ficou montado com o
alegado ataque químico era totalmente indesejável pela comunidade
internacional, mas, depois da “agressividade” na forma como os norte-americanos
disseram que esse ataque era indesmentível, defendendo-se um ataque imediato ao
território sírio, não pode deixar de se ter em conta os avisos ameaçadores do
Irão e da China.
A bola está no lado de Obama, que
tem finalmente a sua prova de fogo, e a quem cabe evitar (ou não) um ataque que
pode ter consequências gravíssimas, sobretudo na atual conjuntura, para os
Estados Unidos e para os aliados ocidentais e que, a ocorrer, terá certamente repercussões,
também, em Portugal.
Veremos o que nos dirão os
próximos capítulos, com a expectativa de quem receia que esta história, que
começou torta, possa não acabar direita.
Sem comentários:
Enviar um comentário