terça-feira, 27 de agosto de 2013

Outra ameaça à paz mundial


O mundo é pequeno e começa a ficar cada vez mais perigoso. Não falo das tendências cada vez mais autoritárias que os alemães têm mantido em relação a uma Europa contra quem, noutros tempos, já combateram, tendo precisado da ajuda daquela para se reerguer enquanto país, e enquanto potência económica. Não me refiro, também, à constante frieza russa, país cuja relação tenta ser preservada, por todos os países, de uma forma sempre delicada. Também não refiro à persistente ameaça norte-coreana, país que, isolado do mundo moderno, continua a intimidar a mais poderosa potência económica.
A situação na Síria não faz adivinhar nada de bom para uma Europa que continua a não sair da cepa torta, que estagnou e, sem saber o que quer de si própria, continua a falar através de várias e diferentes vozes. Um ataque na Síria, com fundamentos semelhantes aos que desencadearam a guerra no Iraque, seria também ruinoso para os Estados Unidos, cuja economia continua com enormes dificuldades, sendo previsivelmente superada pelo dinamismo chinês, ainda que seja construído através de sucessivos ataques à dignidade da vida humana.
Não sei o que fundamentou o cancelamento unilatera
l (pelos Estados Unidos) do encontro que estava previsto realizar-se com a Rússia, em Haia. Não sei, também, se existe algum fundamento para crer que houve um ataque feito através de armas químicas na Síria. Mas parece-me que, ainda para mais na atual conjuntura económico-financeira, os Estados Unidos e os seus aliados europeus deveriam ser mais prudentes relativamente a uma eventual intervenção militar no país liderado por Bashar al-Assad.
É perfeitamente compreensível, para o comum ocidental, que os Estados queiram reprimir o “uso” de civis inocentes para desencadear um ataque químico que mata indiscriminadamente. É, também, compreensível que se repudie o atraso sírio em aceitar o pedido da comunidade internacional de permitir o acesso de inspetores das Nações Unidas ao local onde o referido ataque alegadamente terá ocorrido.
Impulsivamente, a posição dos Estados Unidos ficou mais dura, havendo uma pressão de alguns congressistas no sentido de enviar navios para a Síria para atacar o território através de mísseis. A má vontade, que me parece ser inequívoca, por parte dos sírios, ajuda a esse impulso.
Todavia, numa altura em que persiste o medo relativamente a ameaças permanentes, como a russa ou a norte-coreana, mas também de movimentos islâmicos radicais, há que ser especialmente cauteloso com a questão da Síria, sobretudo após os avisos do Irão e da China, que apontam para retaliações em caso de ataque.
O cenário que ficou montado com o alegado ataque químico era totalmente indesejável pela comunidade internacional, mas, depois da “agressividade” na forma como os norte-americanos disseram que esse ataque era indesmentível, defendendo-se um ataque imediato ao território sírio, não pode deixar de se ter em conta os avisos ameaçadores do Irão e da China.
A bola está no lado de Obama, que tem finalmente a sua prova de fogo, e a quem cabe evitar (ou não) um ataque que pode ter consequências gravíssimas, sobretudo na atual conjuntura, para os Estados Unidos e para os aliados ocidentais e que, a ocorrer, terá certamente repercussões, também, em Portugal.

Veremos o que nos dirão os próximos capítulos, com a expectativa de quem receia que esta história, que começou torta, possa não acabar direita. 

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