segunda-feira, 29 de junho de 2009
A obamania (parola) à portuguesa
As eleições americanas tiveram, de facto, um impacto estrondoso em todos os cantos do mundo, porque foram disputadas por dois fortíssimos candidatos. De um lado estava um herói de guerra, que representava o sacrifício pessoal pela pátria aliado à glória de um povo. Do outro estava um negro, que derrotou uma mulher reconhecida por grande parte da sociedade norte-americana pelas suas capacidades políticas.
O facto de serem dois candidatos mesmo muito fortes cativou a atenção de cada um de nós e Barack Obama acabou por sair vencedor.
Houve quem gostasse e quem odiasse a Obamania, mas ninguém ficou indiferente ao efeito Obama, nem que seja pelos resultados que essa onda conseguiu ter. Contudo, poucos perceberam em que consistia aquela forma de fazer passar a mensagem.
Na minha opinião, a Obamania teve três pontos:
Primeiro, tinha como raiz um candidato negro (o que ainda não é indiferente para as pessoas) e competente, que veio da sociedade civil e acabou, por mérito próprio, por estudar numa das mais conceituadas universidades do mundo, onde foi muitíssimo bem sucedido. Era um homem que cresceu a pulso e fez crer às pessoas que todos dependem de si próprios. Era um virar de página num conceito preconcebido de que quem governa devem ser políticos profissionais. Todas as etapas da vida e todo o percurso académico, profissional e político de Obama geraram uma mensagem de esperança numa mudança necessária e os americanos (e a maioria dos povos do mundo) acreditavam que Obama iria refrescar a vida política. Mais do que quererem um presidente, as pessoas quiseram fazer História.
Segundo, a mensagem era verdadeira. O seu suporte não eram estatísticas nem utopias. Eram factos. Os desafios da mensagem coincidiam com os sonhos da sociedade. Mas se o grande suporte da mensagem não fosse verdadeiro (ou pelo menos, não parecesse ser), a estratégia seria, certamente, um fracasso.
Terceiro, mas não menos importante, o candidato, que aliava a competência com a espontaneidade. De resto, vale a pena ler as biografias sobre Barack Obama.
Foram esses três pontos que deram a vitória a Obama. Não chegava ter o apoio dos afro-americanos, apesar de ter mobilizado esse eleitorado. Foi preciso chegar às pessoas que, como eu, desejavam um virar de página, conscientes de que essa intenção correria o risco de fazer com que o país mais poderoso do mundo fosse governado por um rei da retórica, uma pessoa ideologicamente muito forte que, no poder, poderia não conseguir pôr em prática os discursos magnificamente belos e deliciosamente históricos. Ninguém poderia garantir que a opção por Obama poderia dar mau resultado. Obama nunca nos tinha dado provas do contrário. Mas também nunca nos tinha dado a prova disso.
Obama era um risco. Que merecia a pena ser corrido. Porque os prós eram mais do que os contras. E, entre os prós, estava a possibilidade de escrever os próximos capítulos da História do Mundo e de fazer com uma mensagem de incentivo e esperança chegasse aos que deles mais precisam, entre várias outras ideias, nomeadamente a da ruptura com vários pontos errados da política externa seguida até então. O "YES, WE CAN" traduzia todos esses prós, verdadeiros, e a campanha desenvolveu-se em torno de uma comunicação excepcionalmente humana, acessível a toda a gente, sensibilizando as pessoas.
Como qualquer bom azeiteiro admirado com as grandezas e modernices dos norte-americanos, José Sócrates e o PS quiseram montar uma imagem semelhante à de Obama: a imagem de homem forte, mas bom, a imagem da mudança e da esperança. Nessa política de comunicação, também trabalhavam centenas de pessoas, umas nas redes sociais e outras nos outdoors, nos ecrãs de fundo, nas bandeiras e em tudo o que pode influenciar as pessoas, como os diversos fóruns e programas de opinião na comunicação social, em que pessoas tentam construir opinião. Até chamaram pessoas que trabalharam na campanha de Obama e tudo.
O problema é que os socialistas não perceberam que Sócrates não é Obama. Não tem o percurso académico e político de Obama. De resto, há dúvidas sobre a licenciatura do Primeiro-Ministro. Sócrates, ao contrário de Obama, não é espontâneo e, nos últimos tempos, ora é "animal feroz", ora é "bichinho domesticado". Sócrates, ao contrário do Obama, já governou e as suas promessas (quase tão magníficas como as de Obama) não foram cumpridas.
O problema também é que o PS não é "a força da mudança" como aparece em alguns slogans, mas o partido que governou durante 12 anos na última década e meia, que levou o país a afastar-se dos congéneres europeus. O problema também é o facto de os socialistas terem uma mensagem que não é verdadeira, ao contrário da mensagem de Obama. E, na mensagem, não basta parecer ser humano, é preciso mesmo que o lado humano e social seja verdadeiro. Em Obama, isso acontecia. Com Sócrates, enfim, já sabemos.
Também não me lembro grandes slogans da campanha de Obama. Porque Obama era Obama. Era a mudança. Não era o candidato do "Grande Partido da Esquerda Moderna e Democrática".
O resultado da Obamania, com Obama, foi uma vitória histórica. Os resultados da Obamania parola são os que estão aí. E, a cada dia, as probabilidades de derrota do PS nas legislativas aumentam, o que demonstra que poucos foram suficientemente inteligentes para perceber que a Obamania à PS não ía pegar: os comentadores desdobravam-se em elogios à máquina do PS que funcionava, aos comícios e ao próprio Congresso dos "socialistas" portugueses que diziam ser uma enorme encenação. Aí estavam certos: no PS era encenação, com os Democratas duvido que o fosse. Pelo menos, não aparentava ser. Era mais verdadeiro e muito mais espontâneo.
Os Democratas diziam o que eram os Democratas. O PS diz o que não(!) é o PS.
Enquanto o PS perdeu tempo numa estratégia de comunicação "à Obama" elogiada por todos, o PSD esteve de norte a sul do País fazendo debates e escutando as pessoas. A imagem que está nos cartazes é à imagem e semelhança da líder. E tantos criticaram a "política de imagem" social-democrata...
Esta é uma lição que muitos deveriam aprender. Porque esta parolice à volta de uma falsa obamania vai culminar com três derrotas para o Partido Socialista. Às vezes mais vale sermos verdadeiros, sensatos ou, pelo menos, sermos iguais a nós próprios. Mal do país em que as pessoas votem em função da imagem e das encenações. É que a política não é circo. É algo nobre, que é para ser levado a sério. O objectivo é chegar ao Governo para governar de acordo com as ideias que se propõem nas eleições. E não tentar fazer passar mensagens falsas às pessoas, enganando-as no intuito de garantir mais quatro anos de "tacho". É isso mesmo que tem feito o PS, numa estratégia que não tem, nem irá ter, qualquer sucesso.
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3 comentários:
Grande Post!
De facto este virar de personalidade de José sócrates não engana nem aos do próprio PS quanto mais ao Povo Português.
A única coisa que poderia José Sócrates ter feito para garantir que essa "mudança" transparecia com clareza para o eleitorado seria uma renovação no Governo, que cobardemente não fez, com medo de perder os amiginhos e dar poder aos do António Costa. Mas Sócrates já tem dado provas de cobardia política, uncluindo as dezenas de vezes que dizia mal da TVI e de Moura Guedes, mas sem ter a tomateira para aceitar um convite da própria para um entrevista no canal.
Só espero, quero e desejo, que as sondagens continuem a favorecer o PSD. Ainda acredito numa Maioria Absoluta, com MFL á frente para finalmente meter verdadeiramente "as contas em ordem"!
Com vóz própria se diz o que os analistas, comentadores políticos e colunistas de jornais deixam por dizer. O marketing político socialista por ser copiado do marketing de Obama está desenquadrado da realidade política e social da nossa nação.
Falta apenas confirmar-se a derrota do PS nos próximos dois atos eleitorais para que tudo bata certo neste teu post. O marketing político em excesso vai funcionar como aquele ditado: vira-se o feitiço contra o feiticeiro.
Cumprimentos cordiais e social-democrata,
Carlos Alves
Se o PSD fizesse exatamente a mesma coisa, e até era capaz de fazer, seria espantoso. Como são os outros é uma parolice. A velha dama é que não gosta. Mas não falta gente no partido que gostaria de muito foguetório na campanha. Hoje discordam, amanhã estão de acordo. É por isso que os dois partidos de governo são tão parecidos...
Quanto a maiorias absolutas, Deus nos livre. Espero que nunca mais. Seja ros ou laranja.
David Soeiro
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