Há quem pense que as migalhas tiram a fome, que o circo, quando montado, desconcentra o povo e que, para que o circo possa entreter seja forçosamente necessário haver palhaços.
A questão é que só é palhaço quem quer, que a vida não pode ser só circo e que é muito mais provável que, à fome, morra a cigarra cantadeira que a formiga trabalhadora e silenciosa.
Querem fazer com que o Presidente do Sporting seja visto como um Vale e Azevedo, pensando que os benfiquistas se confortam com esse facto, aliado ao lugar que o Sporting obteve na época que terminou. Não vale a pena tentarem fazer isso. O Sporting já teve o seu Vale e Azevedo. Ou até teve vários. Cometeram loucuras financeiras, desconhecendo a mística que identifica o clube e o distingue dos outros. Estiveram no Sporting, não para ajudar o clube, mas para se governar, a si e aos seus, em lógicas de compadrios (a que, educadamente, alguns quiseram chamar de reinado).
Querem, também, pisar o Sporting, algo típico daqueles burgessos do FC Porto, clube que teve décadas de vitórias desportivas que nós, sportinguistas, não reconhecemos por não terem sido obtidas com mérito.
É verdade. O Sporting, no tempo dos Vale e Azevedos, fez maus negócios com o FC Porto. Esses negócios fazem parte de uma história que nos envergonha, mas que está ultrapassada e perfeitamente enterrada.
O Sporting voltou a ser o que sempre quis ser desde 1906, pioneiro na luta pela verdade desportiva. Nesse sentido, não temos relação com o clube da fruta, assumindo, porém, a fraqueza, por não termos capacidade de conviver saudavelmente com gente deseducada, filha da podridão e do dinheiro, sem qualquer tipo de categoria e carácter.
Não queiram, porém, fazer esquecer que, no momento do desentendimento público, se realizou uma final entre equipas dos dois clubes. Mandaram-nos passear. Chamaram-nos bananas. Perderam. E, no que depender de nós e do nosso trabalho, sem fruta nem chocolate, vão mesmo ter de se habituar a perder.
Quiseram dar uma bicada, como se fossem abutres, dizendo que se reforçaram com um jogador da cantera. Como foi que disseram? Um dispensado que fez alguns jogos de juniores e uma série de jogos na equipa B que não se contam com dedos de mais de uma mão?
Que vão passear. Que se divirtam com os milhões. Que continuem a esbanjá-los em jogadores da nossa formação e a pagar favores, a árbitros, empresários e prostitutas!
Se querem que o circo continue, pois então que prossiga o espectáculo. Mas substitua-se o palhaço. Ponham, nesse papel, o homem dos gases, o tal papa das brasileiras, o bimbo cujas chamadas telefónicas a deturpar a veracidade no desporto chegam, diariamente, a nossa casa através do novo canal do Correio da Manhã!
Já não se aguentam as historietas compradas dos pasquins que muita gente ainda compra ao engano, escritas por gente que, por estarem entre o homem e o animal, não sabe para mais do que para escrever a história da carochinha.
A propósito destas imitações ranhosas das maravilhosas fábulas de La Fontaine, já enjoa o que se tem escrito sobre a constituição do plantel do Sporting para a próxima época. Por que não dizem que o treinador do Sporting era aquele que estava contratado (!) pelo FC Porto?
Quanto ao defeso, admito que tenho as minhas expectativas, próprias de quem se revê numa lógica de premiar o profissionalismo dos atletas, mas também olha para a próxima época como um ponto de partida em que se deve jogar com jogadores próprios para fazer um campeonato que nos catapulte, de novo, para as grandes lides europeias.
Acho, por isso, que o Sporting deve vender jogadores. Entre Schaars, Rojo, Boulahrouz e Capel, acho que o Clube pode, e deve, fazer dinheiro. Acho, também, que Rui Patrício deve sair. Para seu bem. Merece lutar para ser campeão numa das melhores ligas do mundo. Admito a possibilidade de venda, mas admitiria também a possibilidade de ser emprestado, fazendo dinheiro com outros jogadores.
Preocupa-me, apenas, um jogador. Labyad. O talento deve valer mais do que o dinheiro. Deveria ficar.
Quanto a Bruma, é um talento, um craque em potência, para ser lançado, rentabilizado e, talvez depois, transferido. Estou certo de que será o que vai acontecer, independentemente do que for sendo escrito naquele desperdício de recursos a que, talvez apenas por cortesia, chamamos de jornais.
Ilori é outro nome, envolvido na mesma história, talvez por ser do mesmo empresário. O que se escreve dá jeito ao empresário, mas não interessa a mais ninguém, até porque Ilori, mesmo tendo apenas como concorrente o Nuno Reis e o Rojo, ou mesmo o Boulahrouz ou o Onyewu, que ainda pertencem ao clube, não seria titular de caras. Se não o é no Sporting, quem acredita que o seria num outro clube, de um outro campeonato, com um outro tipo de poderio financeiro neste momento?
De qualquer forma, parece-me que Ilori será, também, jogador para ficar, pelo que as páginas que se têm escrito sobre ele serão para guardar e utilizar, em estado de necessidade, quando faltarem acendalhas para a lareira que nos aquecerá no próximo inverno.
Não me parece, por isso, que os sportinguistas possam deixar de estar suficientemente entusiasmados. Não podemos negar as dificuldades com que vivemos, mas, pior do que não ter dificuldades, por muito grandes que sejam, é não viver. E, estando vivos, vale a pena fazê-lo de acordo com uma identidade centenária, confiando num Presidente que, não se deixando iludir, tem perfeita consciência de que, apesar da humildade e espírito trabalhador que nos caracteriza, no Sporting, temos a obrigação de pensar em grande. No mercado e na competição.
Para o ano, estamos de volta. Seremos nós, novamente. Com dificuldades acrescidas, por força dos tentáculos do polvo que tudo comanda. Mas não vamos competir em duelos de lama nem nos vamos bater apenas pela honra. Essa, por muito que nos queiram tirar, ficou eternamente gravada na nossa História. Vamos lutar para ganhar. Jogo a jogo. Com brio.
Estão autorizados para continuar o circo. Mas não ousem sequer tentar domar os leões. Basta brincarem aos palhaços, às aves raras e amestradas, que assistência continua a aplaudir.
Pode ser que, um dia, caia a máscara, a corda estique demais e o artista caia no chão.
Pode ser que, um dia, a tenda venha abaixo.
Saber esperar é sinal de sapiência.
Pois, então, aguardemos.
Viva o Sporting!
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