Pedro Passos Coelho, quando
chegou a Primeiro-Ministro, fê-lo em circunstâncias adversas num ambiente em
que se projetavam, logo aí, grandes dificuldades para os portugueses, com a
quebra da atividade económica, com os portugueses obrigados a viver com a corda
ao pescoço e com as empresas em sérias dificuldades para continuar a laborar.
Esse cenário, que se antecipava com certezas absolutas na altura das últimas
eleições legislativas, foi resultado de um redondo fracasso de intermináveis
anos de governação socialista.
Os portugueses fazem, hoje, o seu
balanço sobre a primeira metade do mandato deste governo de coligação, que,
para muitos, não pode ser positivo tendo em conta que, para muitos cidadãos,
não há, sequer, poder de compra. Nem muito, nem pouco. Contam-se os cêntimos
para chegar até final do mês e será certamente curioso saber qual foi a
percentagem de portugueses que viram o seu saldo bancário baixar para valores
negativos.
Se, numa empresa, é possível que
o ativo possa, momentaneamente, ser inferior ao passivo, sem que isso baste
para pôr em causa a sua solvabilidade, o mesmo não se pode dizer para as
famílias, que têm forçosamente de pagar as contas e ter, após esse pagamento,
pelo menos uma margem mínima para poder sobreviver.
Como jovem, licenciado,
trabalhador por conta de outrem mas também por conta própria, como alguém que
sempre olhou para Portugal como um país em crise, onde seria difícil reunir as
mínimas e necessárias condições para poder construir uma vida sustentável, vejo
que existem pontos deste governo que são positivos.
Independentemente do memorando,
foi o Governo de Passos Coelho aquele que, após quase quarenta anos de
democracia, pôs fim ao Estado Gordo, aquele que sustentou a geração que me
antecedeu, aquele que todos viam como o guarda-chuva a que, gratuitamente, se
recorria em casos de necessidade.
Foi o Governo de Passos Coelho
que olhou para o Estado Social com o intuito de o tornar sustentável,
controlando custos, restringindo-o a funções básicas e constitucionais do
Estado, salvaguardando a sua existência.
Durante anos, referi-me a um país
que teria de se fazer profundas alterações na sua estrutura, criando condições para
que pudesse crescer. Falei de problemas como a desertificação do interior, a
saturação das grandes cidades, facto que viciou a nossa economia. Novos serviços,
demasiada competitividade, baixa exagerada dos preços, mas menos poder de
compra, menos receitas, prejuízos, necessidade de despedir. Este flagelo urgia
ser combatido e certo é o facto de que está mesmo a ser.
O tempo soube trazer um novo tipo
de empreendedorismo. Este não é só o tempo para que aqueles que pouparam
invistam. É também o tempo dos visionários, daqueles que conseguem ver novos
modelos de negócios e dos que, não se encaixando nesse perfil nem tendo
trabalho, possam rumar a novos espaços do país, reabitando-os, cultivando as
terras, criando gado, invertendo o ciclo que parecia estar a levar o país rural
para um buraco sem saída.
Não conheci os governos antes
daquele que foi liderado por Cavaco Silva, mas, entre aqueles que vi, não
consigo lembrar-me de outro que, ainda para mais perante as circunstâncias com
que se depara o Estado Português, tenha feito tanto no incentivo aos jovens ou
novos agricultores.
O país está a assistir a um
momento de viragem neste aspeto, que não pode ser apenas interpretado na mera
lógica de combate à desertificação do interior. Relançar-se-á, a médio prazo, a
economia local, contribuindo para o crescimento do produto interno produto,
combatendo o desemprego e sustentando a balança comercial a favor do país.
Mais do que algumas reformas
setoriais, Portugal tem assistido a uma verdadeira mudança de paradigmas. É um
ciclo que se inverte.
No meu entendimento, parece-me
que, no futuro próximo, nada fará baixar o desemprego. Pelo contrário. As
empresas, sobretudo as grandes (que ainda têm lucros) estão cheias de gente com
vícios, gente dos direitos adquiridos, que, por não contribuírem para a
construção de riqueza, terão forçosamente de ser despedidas.
Esse fenómeno, que não tem que
ver apenas e diretamente com o atual governo, ao qual já estamos a assistir – a
que as empresas, com a natural falta de coragem para chamar os bois pelos
nomes, têm chamado de reestruturações – tem ocorrido também na função pública,
que, tantos anos depois, está verdadeiramente a ser reformada. E, neste aspeto,
revejo-me integralmente na lógica de requalificação dos quadros, na tentativa
de pôr fim à velha e viciada visão de funcionalismo público, bem como na
tentativa de rescisão por mútuo acordo.
Enfim. Apesar de não haver ainda
grandes resultados, por força da conjuntura, é inegável a ideia de que o atual
governo está a levar a cabo reformas que são cruciais. O erro crasso deste
governo prende-se com a política financeira, que está muito ligada ao memorado
de assistência financeira assinado pelo governo anterior.
Parece-me evidente que não há
país que resista a tanta austeridade, e a tanta austeridade durante tantos
anos. Parece-me, também, que é inevitável fazer-se um acordo com os credores no
sentido de permitir que, económica e financeiramente, o país possa recuperar,
bem como outros países da União Europeia que passam por dificuldades
semelhantes, facto que contribui para que o projeto europeu esteja a fracassar
a olhos vistos.
Com esta carga fiscal, não há
economia que possa funcionar. É preciso aliviá-la, criando, dessa forma,
condições para que o país possa voltar a ser suficientemente aliciante até para
que consiga captar investimento externo, muito necessário.
Nesse sentido, creio que é
inevitável começar a romper com a política financeira de Gaspar,
aproveitando-se a oportunidade para alterar o ministro das finanças e fazer uma
remodelação governamental, não meramente cirúrgica, mas que permita dar um novo
fôlego ao governo.
Estamos a meses de eleições
autárquicas, que exigiam atenção acrescida, visto que muitos dos históricos
autarcas do PSD não podem, do ponto de vista legal, voltar a recandidatar-se. O
PSD, que tinha todo o tempo do mundo, não aproveitou o mesmo para se preparar
devidamente para estas eleições.
Cometeu o erro de afrontar
decisões judiciais apenas por ter uma interpretação diferente de uma lei que o
próprio partido ajudou a fazer aprovar.
A meu ver, o PSD agiu mal. Este
era o tempo para abrir o partido à sociedade civil, renovando os quadros e os candidatos
ao poder local, criando ainda as condições necessárias para aquelas sucessões
que, do ponto de vista da sociedade civil, pareciam naturais.
É inconcebível que o PSD tenha
perdido a oportunidade de apoiar candidatos como Rui Moreira ao Porto ou Marco
Almeida a Sintra. Foi um erro que, certamente, sairá muito caro ao partido, por
serem candidaturas fortes que irão forçar a dispersão dos votos.
Concretamente, prefiro não me
pronunciar sobre outras candidaturas, umas que são mais do mesmo, outras apenas
tiros ao lado, sendo que as demais são autênticos tiros nos pés.
De qualquer forma, não podemos,
como militantes do PPD/PSD que somos, dar como perdidas as próximas autárquicas,
apesar da impopularidade do Governo e da falta de preparação do próximo ato
eleitoral.
Numa altura de sacrifício
nacional, chegou o momento de voltar a mobilizar os militantes, chamando, a
esta onda de mobilização, o eleitorado social-democrata e cidadãos
independentes.
Parece-me, por isso, que o PSD
deveria fazer um Congresso antecipado, ou um ato institucional semelhante em
que vários militantes pudessem participar, de forma a limpar a imagem,
renovando-a, e chamando todos os militantes para o combate nesta hora difícil
do país, mas, necessariamente, também, do partido.
Este é o momento do relançamento.
Do arejamento. Do apelo à unidade, ao sentido patriótico e de Estado. Este é o
momento de dar um novo e necessário alento a este governo.
Se não for agora, o PSD
arrisca-se a discutir-se num momento em que, liderando um governo frágil, pode
sair esmagado das autárquicas, entregando, ao fim de décadas, o poder local aos
socialistas.
Num período crítico da vida deste
governo, num momento em que o país enfrenta uma crise com precedentes distantes,
Portugal não pode continuar a ter um PSD apagado e frouxo. Pelo contrário,
exige-se um partido interventivo e impulsionador do movimento de mudança que se
quer assistir no país, assumindo, todos os militantes, total solidariedade com
o Primeiro-Ministro e a missão espinhosa que tem enquanto líder do Governo.
3 comentários:
Amigo António.
Bem vindo ao teu blog, já tínhamos saudades dessa cabeça lúcida, dessa forma de escrever.
Li com atenção apesar de longo porque conheço-te e sei como acabas as coisas que começas.Bem.
Tens razão em quase tudo no princípio e total no meio e no final, sob meu ponto de vista,lógico.
Não sou do PSD,como sabes, mas da família e tenho carinho por esse Partido.
Tenho muitos amigos tambêm no PSD. Gosto que seja um Partido forte.
Concordo contigo quando falas na reestruturação da função pública mas temos que ter muito cuidado com isso. Há famílias inteiras a trabalhar para o Estado e cada caso devia ser analisado à lupa.
Nunca se devia permitir que um casal com filhos em idade escolar ou na Faculdade, fosse despedido ao mesmo tempo.
Temos famílias já a passar fome.
Classe média.
O Banco alimentar pôs à luz números assustadores de gente que não comia há 2 dias quando eles os contactaram.
Estamos a atravessar uma crise imensa,talvez maior que na 1ª República.
É muito perigoso o que este Governo está a fazer porque não se pode resolver um problema de 90 anos em 2.
E nisso certamente me darás razão.
O Governo devia ter começado pelas Empresas públicas para dar o exemplo e não ter feito o que o PS sempre faz, meter os boys em tudo quanto é sítio a ganharem fortunas.
Sabes onde andam todos os amigos do BPN,por exemplo?A estragar o que restou.Nas Empresas públicas criadas para os "albergar". Nada mudou. Picam ponto às 11 da manhã,quando não é ao meio dia.vão tomar café e comer um pastelinho de nata com canela,depois fazem uns telefonemas que pagas tu e eu e depois já são 4 e meia da tarde e "têm" que sair para já não voltar mais.
Vou mais longe. Mal tratam os colegas que os confrontam com essa "Life Style". Carros, motoristas, you name it. NADA MUDOU.
Tudo isto nas barbas do Tesouro.Do nosso amado Gaspar.
Temos neste momento Gestores a ganhar 1000 euros por dia. Ora isso é pornográfico.
O Estaleiros de Viana do Castelo, outro exemplo de vergonha nacional.
Como pode Gaspar permitir que os Gestores que nada fazem e gerem menos ganham aqueles ordenados? Até a TV por cabo nós lhes pagamos!
CONTINUA
CONTINUAÇÃO
Um Governo que tira dinheiro a pensionistas que ganham 400 por mês não pode, repito, não pode pagar 1000 por dia a ninguêm. É imoral, repugnante,imundo.
Os Swap, por exemplo. Alguns Gestores foram afastados....E não vão a Tribunal porquê?
Se tu ou eu fizéssemos algo parecido numa empresa não éramos postos em tribunal pela mesma?
Continuam os contractos sem concurso público. O mesmíssimo Ministro das Finanças contractou técnicos a peso de ouro sem dar cavaco a ninguêm. O mesmo Ministro que vai à carteira dos pobres que sustentam este Estado podre.
É por isso que ninguêm já os pode ver nem lhes tem respeito.
Sabes o que penso do Senhor Sócrates e do peso negativo e imoral que ali está.
Pois eu tinha-lhe um mínimo de respeito institucional, de ser PM. ( Não como pessoa,lógico, é imundo, imoral )
Eu perdi completamente o respeito ao meu PM e seu Governo.
Mas completamente.
São mentirosos e não nos respeitam, porque deveria eu respeitar?
Não pelas reformas necessárias de que tu, e bem, falas.
Pela forma como tratam as situações e o povo. De forma inumana, desalmada. Implacável e ditatorial.
Passos Coelho não tem estructura intelectual nem emocional para lidar com estas necessárias reformas. Eu pensei que tinha. Enganei-me.
Gaspar tem uma inteligência plana.
Não se pode dar a pasta das finanças a um rato de biblioteca que vê o País em Excel.
São duras as minhas palavras mas está na hora de falar verdade, sem rodeios.
Não preciso chamar palhaço a ninguêm como fez o meu homónimo, porque não podemos pedir às pessoas o que elas não nos podem dar.
Cada um dá o que tem.Mas não nos imponham incompetentes nas áreas tão importantes e depois por teimosia e infantilidade não os mudam.
Não podemos ser arrogantes e o PM ainda não viu isso.
Não há espaço para teimosias, nem infantilidades, nem fingir que não se vê.
Vivemos tempos tão difíceis como importantes, como frisaste.
Não podemos desperdiçá-los.
Não podemos dar-nos a esse extremo luxo e......e eles estão a fazer tudo isso.
Começaram bem na forma, erraram tremendamente o conteúdo e perderam a razão. Diria que as duas razões..............
Concordo plenamente com o que escreveu e achava uma grande idéia avançarmos para a prática com o "todos com Passos Coelho". Numa altura em que todos os "contras" se manifestam e em que o PSD está "envergonhado por ser governo" é necessário que venha alguém dizer - "eu estou com Passos Coelho, pela sua rectidão, pela sua honestidade e pelo seu patriotismo".
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