quarta-feira, 18 de junho de 2014

A seleção, espelho de um país


Todos nós, nas nossas vidas, já tivemos derrotas com que não contávamos. Refiro-me às situações em que, apesar de estarmos bem preparados, entramos com o pé esquerdo e, na “hora h”, escorregamos e metemos a pata na poça. São coisas que acontecem, que custam a digerir, que nos tiram o sono e nos fazem ter outro tipo de preparação para os episódios seguintes das nossas vidas.

A derrota com a Alemanha custa ainda mais a digerir. E não pode haver bodes expiatórios quando foi evidente que todos estiveram a um nível inexplicavelmente baixo face aos mínimos que poderíamos expectar.
Analisadas bem as coisas, o que a seleção nacional fez naquele terrível jogo de segunda-feira foi espelhar, ao mais ínfimo pormenor, a verdadeira imagem do país. Portugal é aquilo. E não me refiro apenas à falência de uma lógica de mais do mesmo.

Comecemos pelo princípio. A fase de apuramento tinha sido muito turbulenta. E a escolha dos vinte e três retrata, na perfeição, o que está a matar boa parte das empresas portuguesas. Os jovens talentos foram preteridos. As ultrapassadas e influentes velhas guardas continuam presentes, mas escondidas, simplesmente à caça dos prémios. A estes somam-se dois ou três atletas com valor duvidoso, que estão apenas para picar o ponto e fazer número.

O chefe, mister Bento, é, mais do que os 23, o elo mais fraco. Esconde-se, não dá o corpo às balas e desresponsabiliza-se, como se tivesse feito o que podia. Com medo de inovar e de impor um espírito ganhador e de equipa, já tem o que queria. Refiro-me ao seu contrato, milionário.

Por uma questão de respeito, delicadeza e educação, não vou referir-me aos que estão acima de Bento e que chegaram às funções da forma que é pública. Digo apenas que são responsáveis pela escolha de Bento (que, olhando para o seu contrato, está para ficar), dos vinte e três e do descalabro anunciado que ocorreu no jogo contra a Alemanha.

É tudo muito fraquinho. É o que é. Mas o que, de diferente, poderíamos esperar? Que a coqueluche levasse a equipa às costas? Que o guarda-redes nos defendesse de todos os erros? Além dos jornalistas e dos vendedores de ilusões, só um tarado poderia exigir isso.


Esta seleção leva, ao Brasil, o retrato do que Portugal é hoje, dando, por isso, uma ideia de mediocridade.  Mas oxalá que, na seleção, tal como no país, os poucos que têm valor saibam ser profissionais e deixem, pelo menos, uma imagem digna, não daquilo que somos, mas do que poderíamos ser.

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