É difícil compreender como é
possível que, perante as dificuldades que vivemos, estejamos todos, quase a
entrar no mês de Agosto, a brincar ao Carnaval. De facto, estamos perante uma
espécie de vírus carnavalesco que tem contagiado pessoas que vão desde os
sindicatos aos jornalistas, passando necessariamente por outras classes
profissionais, pelos portugueses comuns.
A postura dos sindicatos, olhados
na sua generalidade, assemelha-se à postura do Bloco de Esquerda na altura em
que foi formado. Em vez de defenderem os interesses dos trabalhadores, pelos
quais se deveriam bater, os sindicatos de hoje vestem máscaras, reunindo meia
dúzia de pessoas com alergia ao trabalho em teatros de rua.
A comunicação social vai atrás.
Porque sempre adorou minorias, preferindo o espectáculo, por mais triste que seja,
aos assuntos sérios. E quem devia colocar assuntos novos na ordem do dia
continua preso a um homem chamado Miguel Relvas. É uma luta em vão. É um
não-assunto. Que não diz respeito ao Governo, mas a uma pessoa e a uma
Universidade.
Aliás, todas as tentativas de
aglomerar um conjunto de pessoas para pedir a demissão de Relvas foram pífias.
Quase tão pífias como as cenas tristes que os sindicatos (esses, sim, sem
nenhum sentido de responsabilidade) têm encenado.
O que me enerva é aquilo que não
consegue enervar os sindicatos, os jornalistas e aqueles radicais de esquerda
que, por vestirem o seu fato, são responsáveis por construir opinião.
O país está a arder. E é
importante perceber a razão.
Ora, na minha opinião, mais do
que outras razões que dizem respeito aos tribunais, existem razões políticas
que são causa de grande parte do Portugal que ardeu nesta época de incêndios.
Há meios que não foram accionados
a tempo. Porque não havia dinheiro. Mas será que a falta de dinheiro justifica
poupanças a este nível? O resultado está à vista de quem tem olhos e consegue
ver.
E, claro está, já nos falam que
há 100 milhões de euros para reflorestar. Os 100 milhões que não houve para
desmatar, que não houve para acionar os meios de combate aos incêndios, que não
houve para prevenir que o drama se repetisse.
Isto, sim, merece reprovação.
Porque isto, sim, é política. E há responsáveis políticos pelos incêndios que
assolaram o país.
Mesmo que não queiram falar
disto, que não queiram chamar os bois pelos nomes, poderemos sempre discutir
este tema a propósito dos debates que têm sido feitos sobre a troika, a Europa
e a senhora Merkel.
De uma vez por todas, temos de
apurar responsabilidades políticas e temos de levar este assunto aos locais
onde deve ser discutido.
Não nos podemos esquecer que
estamos numa União, que tem objectivos ao nível agrícola e ambiental. Temos de
nos consciencializar disso e de reclamar pelos nossos direitos.
Mesmo em tempo de crise,
trata-se, afinal, da integridade do nosso território. E é neste ponto que o
dinheiro não pode faltar.
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