terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A AD de Passos Coelho

Por princípio, sou social-democrata, militante do PSD, e apoiante de uma aliança com o CDS.

Em certos assuntos ou matérias, estou na fronteira entre os dois partidos.

Sou apoiante de uma AD antes das eleições e sou apoiante de uma AD depois das eleições.

Mas uma AD, antes de eleições, só é viável, se tiver uma só voz.

Será sempre viável depois de eleições, sobretudo quando essa aliança tiver como ponto de partida um acordo alargado para governar o país, responsabilizando-se, assim, dois partidos.

E pode haver AD, tendo, o PSD, obtido maioria absoluta. Ou tendo apenas maioria relativa.

Não me parece que possam haver outras possibilidades de AD fora dos contextos que acima referi: ou os dois partidos vão juntos a eleições, falando a uma só voz, ou os dois partidos, separados na altura das eleições, juntam-se para efeitos governamentais após o acto eleitoral.

Assim sendo, por princípio, agrada-me a ideia de Pedro Passos Coelho.

Mas anunciar AD sem haver AD e, ainda por cima, não estando ainda em cenário de eleições legislativas, é cair numa precipitação própria de quem não tem estratégia.

Porque, quando se anuncia uma AD para depois de eleições (que ninguém sabe quando vão ter lugar), tem de haver, pelo menos, um acordo de princípio entre os dois partidos.

Assim não sendo, Passos Coelho corre o risco de ver o CDS ter uma posição diferente do PSD. Bastará isso para que os socialistas, os comunistas e os jornalistas alertem: se não se entendem antes das eleições, como poderão entender-se depois?

Abre-se também a possibilidade de sermos forçados a ouvir um novo pedido de desculpas ao país e ver o líder social-democrata dar o dito por não dito, ameaçando governar sozinho. Nesse caso, dando mais espaço ao Partido Socialista. E força ao CDS.

Ou seja, há mais argumento contra o PSD, contra a AD, contra Pedro Passos Coelho. Um argumento oferecido de bandeja a todo aquele que, atento, o queira utilizar.

É um risco desnecessário.

E revela, numa altura de enorme frustração dos portugueses relativamente ao governo do Partido Socialista, que o PSD tem medo de, na eventualidade de eleições, poder não ter maioria absoluta. Revela fraqueza.

Mas esta imprudência de Passos Coelho terá sempre efeitos negativos.

Porque na outra possibilidade, de não haver divergências entre PSD e CDS e existindo uma vontade enorme de afastar José Sócrates, os portugueses poderão dar como certa a vitória do PSD. E muitos desses portugueses, que já sabem que será indiferente votar no PSD ou no CDS, não vão optar pelo voto útil. Ou seja, o PSD perde espaço para o CDS, facto que, no limite, também pode comprometer uma vitória eleitoral.

Concluindo, este anúncio de uma AD para um dia que não sabe bem quando, mais do que um tiro no escuro, foi mais um tiro no pé. Outro. E o PSD, que lidera nas sondagens, volta a ver, inacreditavelmente, o PS a aproximar-se.

Parece-me evidente que os portugueses, querendo derrubar Sócrates, têm muitas dúvidas relativamente à alternativa. Porque a alternativa tem sido pouco consistente. E tem oferecido muitos argumentos contra si própria.

Muitas imprudências e trapalhadas num partido muito pouco mobilizado e num clima demasiado morno para forçar eleições e governar o país.


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