quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Heróis!


Vivem em locais onde não chega a mensagem de Sócrates e Passos Coelho.

Porque aqueles locais não dão votos.

Ali não há Estado para ajudar.

O Estado, quando aparece, é para pedir centenas de euros ao pobre do homem que tem uma vaca, uma cabra, um cavalo, números que se multiplicam quanto maior for o número do gado.

O Estado também aparece para lhes complicar a vida, impondo-lhes registos e mais registos, burocracias e mais burocracias.

E depois, quase por descargo de consciência e para dar uso aos fundos comunitários, o Estado divide uns trocos por aquela gente.

Aquela gente, que trabalha por baixo de quarenta graus no verão, também não pede ajuda. Porque ninguém os compreende.

A maioria das pessoas das grandes cidades teve, de facto, conhecimento de um tornado. Pensam que foi uma tempestadezeca, lá para um desses sítios perdidos no meio de coisa nenhuma.

Comovem-se, essas pessoas, com os feridos, com os telhados que foram literalmente ao ar, com os estragos na escola.

Não fazem a mínima ideia da enorme injustiça que é aquele gente sã dormir ao relento.

Nem sequer pensam nos prejuízos que aqueles agricultores vão ter, depois de tanto trabalho, duro, nas mais agrestes condições climatéricas. Nem no investimento que foi ao ar no meio daquele tornado.

Mas aquela gente é muito mais importante que nós todos juntos. Se não fossem eles, não havia aldeias, não havia gente no interior. Eles pagam para trabalhar, para explorar a terra, para fazer a economia funcionar. Pagam, e pagam mais do que deviam pagar, para que nós, que vivemos na cidade, não tenhamos fome ou, pelo menos, para que não sejamos ainda mais pobres.

E, depois da tempestade, não esperaram pelo Estado. Estão, há várias horas seguidas, a ajudar-se mutuamente. Fazem-no sem meios. Porque eles não conseguem ter meios. Fazem-no por eles e por todos nós.

Tenho falado muito deste Portugal completamente esquecido. Alguns poderão não compreender o facto de se falar desta gente, que até tem menos qualificações que eu. Mas, a pretexto do tornado de ontem, não poderia deixar de realçar a sua importância social e económica e de mostrar a minha admiração por todos eles, porque são eles os grandes heróis portugueses do início do século XXI.

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