segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Passos Coelho 2010/11


Apesar de não ter sido um apoiante de primeira hora e incondicional de Pedro Passos Coelho, e de ainda não ser, não se pode dizer, agora que fazemos o balanço de 2010, que este foi um ano mau para o "novo" PSD.

É certo que, num partido alternativo de poder, não se pode fazer uma proposta de revisão constitucional em cima do joelho, com uma série de propostas mal estudadas e avulsas, numa lógica incoerente. Essa foi a grande mancha para o PSD em 2010, mas que vai de encontro ao que o líder social-democrata tem dito: o PSD não tem pressa de ser poder. E, sejamos francos, quem não está preparado não pode ter pressa para o que quer que seja, muito menos para governar um país.

No que respeita ao seu papel enquanto oposição construtiva, o PSD teve sentido de Estado quando “deixou passar” o Orçamento. O mérito, nesse aspecto, não é só de Eduardo Catroga e da sua equipa negocial, mas é partilhado também com quem a escolheu. E quem a escolheu terá, certamente, sido Pedro Passos Coelho.

Possivelmente empurrado por um eixo ganancioso e, porventura até, "maldoso" do PSD, Passos Coelho foi longe demais no discurso que fez na reentré de Verão.

A partir desse momento e da aprovação do Orçamento, depois de aprender a lição recebida aquando da precipitada proposta de revisão constitucional, Passos Coelho foi mais moderado, esteve mais contido e apareceu menos. Quase não falou. E, curiosamente, esta altura, que coincide com o final do ano, será provavelmente aquela em que Passos Coelho tem uma melhor imagem junto dos portugueses.

Estando à frente nas sondagens, também para não atrapalhar uma provável vitória que será oferecida por Cavaco Silva, mas que, certamente, o PSD a fará “vender” como sua, Passos Coelho tem, de facto, revelado mais sabedoria e mais sentido de estratégia do que nos seus primeiros tempos enquanto líder.

Os primeiros meses de 2011 farão com que os portugueses sintam as medidas duras resultantes da governação socialista e aumentarão a diferença entre PS e PSD nas intenções de voto. Entretanto, Cavaco Silva estará eleito e vão estar reunidas as condições para mudar de governo em Portugal.

O impacto da austeridade terá muito maior peso do que a ameaça de uma crise política e, nessa altura, como em Agosto passado, Passos Coelho será empurrado para as feras por algumas facções do PSD. E do próprio PS.

Será essa a altura crucial para a sua liderança.

Se conseguir resistir à tentação, tornará o PSD ainda mais consistente aos olhos dos portugueses. Daqui por um ano estaremos a falar de um partido mais unido, mais democrático e, por isso, mais mobilizado em torno de propostas concretas detalhadamente preparadas. Não será Primeiro-Ministro daqui por um ano mas sê-lo-á, certamente, no futuro. Será Primeiro-Ministro por longos anos, provavelmente liderando dois governos responsáveis pela recuperação económica em Portugal.

Caso contrário, vamos ver repetida a mesma história de sempre, que quase já se confundiu com o “fado português”. Um governo incompetente pode ser substituído por outro governo. Mas este segundo governo, do PSD, porque não estará preparado, durará pouco tempo. Mesmo que tenha legitimidade eleitoral, uma maioria parlamentar e a cooperação presidencial será devorado nas ruas e pela pressão, incluindo a que vem de fora. E poderemos ter, ao fim desse tempo, um governo de um PS coeso que, pressinto eu, já está a ser preparado nos bastidores. Com Costa, Seguro, Assis ou seja com quem for. O PSD voltará à caminhada no deserto, o país ficará ainda mais próximo de África e ainda mais distante dos parceiros europeus. Portugal estará, novamente, num beco sem saída.

Estamos, nós, PSD, numa situação muito difícil, semelhante à do rato que vê um pedaço delicioso de queijo suíço mesmo à sua frente. O queijo está mesmo muito perto e faz cair baba da boca. Mas tem ratoeira. E isso, também o sabemos, é fatal.

Oxalá que o PSD seja um rato inteligente. Que resista à primeira tentação. Que se prepare muito, que se discuta muito e que aproveite o resto do tempo para se mobilizar. Que arranje uma estratégia sábia para chegar vivo ao queijo ou, pelo menos, sem se magoar.

E há que ter atenção porque o queijo pode também ser um presente envenenado!

Sejamos prudentes. E confiemos em Passos Coelho. A segunda metade do seu primeiro ano de liderança não deixa grandes razões para não confiar.

5 comentários:

maria disse...

Feliz 2011 :)

Bjs :)

António Lopes da Costa disse...

Obrigado Maria.
Um Feliz 2011 também para si e para a sua família.

Um beijinho

Alexandre Poço disse...

Bom resumo da actuação de PPC enquanto líder do PSD. Em relação à revisão constitucional, concordo em parte, pois o processo não foi bem feito e a comunicação falou. A proposta do PSD saiu cá para fora pela boca da oposição, que como é óbvio, não perderam a oportunidade para a diabolizar. Talvez tivesse sido melhor esperar para depois da reeleição de Cavaco. Contudo, esta proposta tem méritos, destaco um. Pedro Passos Coelho foi muito ciriticado por ter apresentado um projecto que se baseava neste pressuposto: não há dinheiro para sustentar este Estado. Este problema vem sendo ignorado pela nossa esquerda e PPC foi o único que teve a coragem de no meio da procissão dizer que o "rei ia nu". Tal como se fazia em Roma, matou-se (ou tentou "matar-se") o mensageiro que traz as más notícias. Em Portugal, a verdadeira realidade não é bem vinda, a classe política prefere andar distraída. Como tal e com uma comunicação social a adoptar a postura da esquerda o julgamento ocorreu e o verão foi difícil de passar para Pedro Passos Coelho e para o PSD.

Quanto ao futuro, acredito em Passos Coelho e partilho da tua ideia da necessidade de o PSD estar muito bem preparado para evitar os erros que cometeu da última vez que foi chamado a governar.

Por último, desejo ao António e aos seus um bom ano de 2011.

Abraço

António Lopes da Costa disse...

Alexandre,
Sobre o que escreveste e sobre Pedro Passos Coelho, devo dizer que 2011 deverá ser um ano, sobretudo, de maturação. E de mobilização das hostes. Apesar das diferenças internas, creio que nos devemos unir em torno da ideia comum de racionalizar recursos, conter a despesa do Estado e reequilibrar as finanças públicas.
Esse é o ponto de partida e o traço que é comum de Manuela Ferreira Leite, Paulo Rangel, Marques Mendes, Passos Coelho, Pedro Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa e, porventura também, de Luís Filipe Menezes.
Portugal tem uma série de problemas estruturais para resolver nas próximas décadas, mas esses problemas só podem ser resolvidos, se as contas públicas estiverem em ordem.
Quanto à revisão constitucional, estou de acordo que a intenção foi a melhor.
Gostava de te aproveitar para dizer ainda uma coisa: tenho acompanhado o teu percurso político. Tens a energia que tem faltado, mas, se me permites, deixa-me dar-te um conselho. Não escolhas nunca o caminho mais fácil. Será muito complicado, mas tens energia e ideias e o futuro será de social-democracia.
O mundo da política activa, ao qual, de certa forma, renunciei, está imune de ordem, ausente de justiça e valores e deixou de haver meios razoáveis para atingir fins.
O nosso partido vive uma situação como nunca antes terá vivido. Muitas vezes, chego-me a perguntar se será mesmo um partido ou um mero núcleo da máfia, onde, sem escrúpulos, se entra num jogo de inimizades levadas quase ao extremo, de falsos boatos, de ameaças e corrupção.
Como eu, muita gente boa renunciou à actividade política activa. É que não há ninguém suficientemente inteligente, com um percurso estudantil, académico e cívico feito, na previsibilidade de constituir família que queira, mesmo que com espírito de missão patriótico, correr o risco de ver o seu bom-nome ser jogado na lama.
Nós os dois não temos tido sempre as mesmas ideias, as mesmas convicções e, por isso também, as mesmas posições. Mas podes contar com a minha ajuda, naquilo que precisares, e se precisares, no futuro.
Espero que tenhas muita força e que aproveites 2011 para melhorar ainda mais as tuas qualificações, de modo a que as possas vir a aplicar, no futuro, à JSD, ao PSD e ao País.
Um Feliz Ano para ti e para a tua família.

Um abraço. Leonino. E social-democrata.

;)

Alexandre Poço disse...

Caro António,

não posso deixar de agrradecer o conselho. És mais velho, já estás na política à mais tempo do que eu e como sei que a experiência conta muito, tenho em consideração o que me sugeriste. Estou na JSD à cerca de 1 ano e tal, o que é pouco tempo. Contudo, já experienciei algumas coisas: eleições autárquicas, congressos e eleições internas do PSD, estive na Universidade de Verão de 2010 e por fim, fui delegado ao congresso da JSD. De todas estas situações, destaco altos e baixos, vitórias e derrotas, mas também a capacidade de ver que a política (tal como se diz nas ruas e como tu referiste) é um campo onde se joga muito sujo. A título de exemplo, no último congresso da JSD tive, por vezes, vergonha de actos a que assisti, quer por parte de companheiros ligados à candidatura que apoiei (a do Carlos Reis, como deves saber) quer da candidatura do Duarte Marques. Verifiquei que se nós, jovens, estamos sempre a insistir na necessidade de trazer para a política uma nova atitude, uma nova forma de estar e de fazer as coisas, essas mesmas vontades ficam nos discursos, pois reparei quer ao palanque quer no jogo de bastidores que há atitudes (as que censuramos nos mais velhos) que continuam a persistir, ou seja, que parece que são dotadas de hereditariedade. Isso entristeceu-me. Porém, não me faz renunciar (apesar de perceber muito bem os teus argumentos), pois a política é uma verdadeira paixão que tenho e que ao longo deste tempo em que tive oportunidade de agir politicamente, senti-me muito bem - e não me refiro a conselhos distitais nem a congressos ou eleições - mas sim, às actividades que desenvolvi para a sociedade (nomeadamente no conselho de escolas que estou a coordenar e no acompanhamento autárquico que estou a fazer da freguesia de Paço de Arcos). Isso é política, o resto e apesar de fulcral para se poder fazer essa "política", é politiquice.

No futuro, caso precise não hesitarei em contactar-te.

Um abraço social-democrata. E tal como dizes, também leonino (apesar da situação estar muito difícil no nosso clube).