O Patrício tem idade para ser meu
avô. Vive no Algarve e a sua reforma, mesmo muito bem gerida, não chega para
pagar as despesas de um português médio. Vai e vem de Lisboa de quinze em
quinze dias, com excepção dos dias de semana em que também há jogo. Vai de
norte a sul do continente e às ilhas. Vai com o futebol, com o futsal, com o
andebol e com o hóquei. Vai à Alemanha, à Suíça, a Inglaterra. Vai a Donetsk,
vai a todo o lado. Aterra em Lisboa de madrugada e segue, de comboio, em
direcção a casa, no Algarve.
O Rúben é desempregado. Com uma
poupança que juntou, foi em direcção a Kharkiv para ver o Sporting apurar-se
para as meias-finais da Liga Europa, mas só comprou a viagem de ida, porque o
dinheiro que tinha não chegava para ir e voltar. Acabou por regressar com a
ajuda de outros sportinguistas, mas foi nessa incerteza que festejou o
apuramento do clube do seu coração.
O Vasco acabou o seu curso e já
trabalha. Para a sua idade e para o currículo que tem, não ganha mal. Mas não
teve férias, com excepção de três dias que pediu pelo Natal, porque os dias que
tinha foram utilizados para poder ir, com amigos, nas viagens do seu Sporting
na Europa.
Não sei ao certo em que curso está,
mas o Zé Maria ainda está na faculdade. Como tinha tido 9 na primeira
frequência, precisava de ter positiva na segunda para não chumbar numa cadeira.
Essa frequência foi marcada para o dia em que o Sporting jogou em Bilbao. O Zé
Maria não hesitou em deixar essa cadeira para o ano que vem. Era “Dia Sporting”,
arrumou a mochila e pôs-se a caminho.
O Francisco tem dinheiro
suficiente para poder olhar com indiferença para o futebol. É casado, pai, tem
sucesso na vida. Não perde um jogo. E num dia crítico em que estava em causa a
honra e o futuro do seu Sporting, às seis da manhã, estava presente na defesa
dos interesses do seu clube. Sem causar qualquer problema, caiu com violência
numa carga policial. No fim-de-semana a seguir, já estava, outra vez, no estádio
a apoiar a equipa.
O João tem menos dois anos que
eu. Perdeu um sapato numa ida ao estádio da Luz. Não hesitou em seguir em
diante. Viu o jogo e voltou a Alvalade, por cima de pedra, asfalto e terra
batida.
O António, que sou eu, teve Gripe
A. Com febre, bastante febre, tinha uma viagem marcada com o Henrique para ir
ver o Sporting em Berlim, onde estava uma temperatura de vários graus
negativos. Não hesitou em fazer a mala, apanhar boleia para o aeroporto e ir
apoiar o Sporting no meio do “gelo” da capital alemã.
O Bruno trabalhava num café.
Ganhava o salário mínimo, que era mais do que suficiente para sobreviver, que é
o mesmo que dizer que tinha dinheiro para poder ir ver o Sporting a qualquer
parte. O problema é que não tinha
férias, nem folgas. Trabalhava todos os dias desde as cinco da manhã nesse
café, que já não me lembro se era em Espinho ou na Póvoa do Varzim. Sem
bilhete, arriscou perder o trabalho para estar às cinco e meia da manhã em
Lisboa para tentar arranjar um último bilhete que lhe permitisse ir até Madrid
ver o jogo com o Atlético.
A Manuela vive em Loures e tem 51
anos, idade mais do que suficiente para ter juízo. A paixão que tem pelas
modalidades amadoras e a forma tão pessoal como sente o Sporting fez com que
criasse uma claque só para essas modalidades. Vai de norte a sul do país, quase
sozinha, para motivar os atletas para a conquista de novas vitórias.
A Maria José fez agora 79 anos. A
sua paixão pelo Sporting fez com que fosse escolhida para interpretar a marcha
do seu clube. Com essa idade, mantém, no cabelo, uma madeixa pintada com a cor
do sangue que lhe corre nas veias.
A caminho dos 90 anos, Maria de
Lurdes, sócia do Sporting desde que nasceu, e como demonstração da devoção ao
clube, atirou-se de pára-quedas. Foi a pessoa mais idosa a fazer queda livre.
O Gonçalo ainda não tinha a carta
nem carro. Com uma mochila às costas, foi, debaixo de chuva, até Olhão para ver
o Sporting.
O Nuno é um conhecido fotógrafo e
já terá estado em quase todos os países do mundo. É autor de livros e também
trabalha para a televisão. Leva o cachecol e a bandeira do Sporting até todos
os pontos do mundo.
O Mustafa esteve preso durante
alguns anos e poucos eram os dias em que poderia ter a mínima liberdade. Passava
o Natal longe da sua família, por sua própria iniciativa, aproveitando os dias
disponíveis para ver ao vivo os dérbis do Sporting.
O Dário é um jovem com 21 anos e
pertence uma claque. Quando viu um jogador do Sporting dirigir-se à bancada
onde estava, perdeu toda a racionalidade. Não conseguia pensar em mais nada,
senão no sonho de agarrar a camisola do craque. Caiu ao fosso, partiu um braço.
Mas continua a ser um dos leões presentes nos jogos do Sporting.
Não sei o nome, mas houve um
sportinguista que, no festejo de um título, subiu um dos postes da ponte sobre
o Tejo para, lá em cima, colocar uma bandeira do Sporting.
Houve também jovens que morreram,
acidental ou criminosamente, por amor ao Sporting.
Todas estas são histórias reais e
mostram que todos somos muito diferentes. Mas há uma coisa, uma paixão, um
amor, que nos une. É uma união que faz superar todas as diferenças. Partilhamos
o Esforço, a Dedicação, a Devoção. Partilhamos a Fé. Partilhamos as alegrias,
as vitórias e as euforias. Partilhamos as tristezas, e muitas delas ainda estão
por consolar.
Vivemos tempos difíceis, tempos
muito difíceis. Mas nós não desistimos, nunca desistimos. E nunca vamos
desistir.
Nunca vamos desistir.
Bom fim-de-semana. E viva o Sporting!
3 comentários:
Faltou falar da fantástica D. Maria de Jesus, proprietária do café Brasil, em Coimbra. Ainda se lembram que nessa casa o café manteve-se ao preço de 2.50 escudos até se quebrar o jejum de 18 anos em 2000?
Viva o Sporting!
Agostinho Costa
Vila Nova de Famalicão
Faltou falar da fantástica D. Maria de Jesus, proprietária do café Brasil, em Coimbra. Ainda se lembram que nessa casa o café manteve-se ao preço de 2.50 escudos até se quebrar o jejum de 18 anos em 2000?
Viva o Sporting!
Agostinho Costa
Vila Nova de Famalicão
Que belo post.
Digno de sair no nosso jornal "Sporting"
Envie-o para lá. Todos os Sportinguista por esse mundo fora deverião lê-lo.
Parabéns
Ass: Leoa Ferrenha
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