De manhã, a RTP dá as notícias. A seguir passa um programa de
entretenimento para idosos. Uma espécie de programa do Goucha, sem o
Goucha. Três horas depois, novas notícias, que antecedem uma tarde de
telenovelas e programas de entretenimento. Depois, novas notícias,
nomeadamente locais. E é a partir daí que a RTP joga com todas as
cartas. O Preço Certo enche a casa dos portugueses. E a de Fernando
Mendes também, com a quantidade de pratos, camisolas, galhardetes e
chouriços que lhe oferecem. A seguir, as notícias. Segue-se o Quem Quer
Ser Milionário com esse ou outro nome, sempre com formatos semelhantes e
comprados. Curiosamente, depois aparecem os dois programas que mais
gosto (Portugueses pelo Mundo e 5 para a meia-noite). A partir daí, não
sei bem o que dá. Provavelmente, filmes para adultos.
Pergunto.
Onde é que está o serviço público? O que é que a RTP faz que os privados
não têm feito? Será que os nossos impostos devem financiar uma imitação
dos privados? É que, ao fim-de-semana, não é diferente. Dão filmes
estrangeiros durante tardes inteiras.
Para mim, é completamente
indiferente vender ou concessionar a RTP1 porque nunca percebi a
necessidade de ter um canal público de televisão.Nunca aceitei bem a
ideia de que os meus impostos deveriam servir para financiar algo que,
"sem custo para o telespectador", já é feito, e bem feito, pelos
privados.
Serviço público? Onde?
Querem-no? Criem leis, façam imposições aos privados, fiscalizem e regulem, com verdade e intensidade, a sua actividade!
Dá
lucro ao Estado? Às vezes, dizem que sim. Mas nunca ninguém fez a conta
que interessa. Porque parte considerável da publicidade na RTP é de
entidades públicas. Ou seja, parte das receitas da RTP somos nós que a
pagamos, pelas mais diversas vias.
Quanto à RTP 2, a questão pode
ser diferente. É importante que se pense, e repense, sobre o que se quer
fazer da 2. Há espectáculos, eventos, entre outras coisas que têm de
chegar a casa dos portugueses e que não sei, se os privados o conseguem
fazer. Cultura, História, festividades locais, desporto (sobretudo, as
modalidades amadoras).
Mas a RTP, a 1, não sei para que existe.
Não sei e também não quero pagar. Até porque prefiro que o pouco que
tenho, o pouco com que posso contribuir, seja utilizado para
salvaguardar direitos fundamentais.
Com todo o respeito por quem
tem dormido mal com as notícias sobre a RTP, e a sua transição para os
privados, esta é uma questão me diz pouco. Ou nada. E, aliás, até me
sinto mais aliviado por sentir que o poder político, o Governo e o(s)
partido(s) que o suporta(m), deixam de ter um acesso tão privilegiado ao
controlo de órgãos da comunicação social.
A questão da RTP não me tira o sono. Mas, numa altura em que o Estado está falido, o facto de ver os principais partidos de poder a discutir o futuro do canal público de televisão deve tirar o sono aos portugueses. Porque, enquanto discutem estas coisas supérfluas, esquecem-se de debater a forma de satisfazer os direitos essenciais dos cidadãos, esquecem-se de debater o meio de nos tirar do buraco, esquecem-se de debater o caminho que nos vai fazer crescer. E, se isso diz muito sobre os partidos e os responsáveis políticos que temos, também explica muita coisa sobre o estado em que deixaram o país.
1 comentário:
Quem me dera que fosse assim tão "simples" como tu o vês....
Dormes bem e eu também, porque não temos culpa nem maldade, mas garanto-te que Relvas se tiver um mínimo de noção de decência não dorme como nós!!!!!
Portas já deu o murro tão esperado em cima da mesa e posso dizer-te que agora sim, Relvas tem os dias contados. Pode até e para "inglês ver" e por puro fingimento de que tudo está bem, não ser demitido, mas o "poder" acabou. Fará como fazia Sócrates na Covilhã. Os amigos faziam os projectos e ele só assinava.......Pois é......
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