sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A RTP


De manhã, a RTP dá as notícias. A seguir passa um programa de entretenimento para idosos. Uma espécie de programa do Goucha, sem o Goucha. Três horas depois, novas notícias, que antecedem uma tarde de telenovelas e programas de entretenimento. Depois, novas notícias, nomeadamente locais. E é a partir daí que a RTP joga com todas as cartas. O Preço Certo enche a casa dos portugueses. E a de Fernando Mendes também, com a quantidade de pratos, camisolas, galhardetes e chouriços que lhe oferecem. A seguir, as notícias. Segue-se o Quem Quer Ser Milionário com esse ou outro nome, sempre com formatos semelhantes e comprados. Curiosamente, depois aparecem os dois programas que mais gosto (Portugueses pelo Mundo e 5 para a meia-noite). A partir daí, não sei bem o que dá. Provavelmente, filmes para adultos.
Pergunto. Onde é que está o serviço público? O que é que a RTP faz que os privados não têm feito? Será que os nossos impostos devem financiar uma imitação dos privados? É que, ao fim-de-semana, não é diferente. Dão filmes estrangeiros durante tardes inteiras. 
Para mim, é completamente indiferente vender ou concessionar a RTP1 porque nunca percebi a necessidade de ter um canal público de televisão.Nunca aceitei bem a ideia de que os meus impostos deveriam servir para financiar algo que, "sem custo para o telespectador", já é feito, e bem feito, pelos privados.
Serviço público? Onde?
Querem-no? Criem leis, façam imposições aos privados, fiscalizem e regulem, com verdade e intensidade, a sua actividade!
Dá lucro ao Estado? Às vezes, dizem que sim. Mas nunca ninguém fez a conta que interessa. Porque parte considerável da publicidade na RTP é de entidades públicas. Ou seja, parte das receitas da RTP somos nós que a pagamos, pelas mais diversas vias.
Quanto à RTP 2, a questão pode ser diferente. É importante que se pense, e repense, sobre o que se quer fazer da 2. Há espectáculos, eventos, entre outras coisas que têm de chegar a casa dos portugueses e que não sei, se os privados o conseguem fazer. Cultura, História, festividades locais, desporto (sobretudo, as modalidades amadoras). 
Mas a RTP, a 1, não sei para que existe. Não sei e também não quero pagar. Até porque prefiro que o pouco que tenho, o pouco com que posso contribuir, seja utilizado para salvaguardar direitos fundamentais.
Com todo o respeito por quem tem dormido mal com as notícias sobre a RTP, e a sua transição para os privados, esta é uma questão me diz pouco. Ou nada. E, aliás, até me sinto mais aliviado por sentir que o poder político, o Governo e o(s) partido(s) que o suporta(m), deixam de ter um acesso tão privilegiado ao controlo de órgãos da comunicação social.
A questão da RTP não me tira o sono. Mas, numa altura em que o Estado está falido, o facto de ver os principais partidos de poder a discutir o futuro do canal público de televisão deve tirar o sono aos portugueses. Porque, enquanto discutem estas coisas supérfluas, esquecem-se de debater a forma de satisfazer os direitos essenciais dos cidadãos, esquecem-se de debater o meio de nos tirar do buraco, esquecem-se de debater o caminho que nos vai fazer crescer. E, se isso diz muito sobre os partidos e os responsáveis políticos que temos, também explica muita coisa sobre o estado em que deixaram o país.

1 comentário:

miguel vaz serra....... disse...

Quem me dera que fosse assim tão "simples" como tu o vês....
Dormes bem e eu também, porque não temos culpa nem maldade, mas garanto-te que Relvas se tiver um mínimo de noção de decência não dorme como nós!!!!!
Portas já deu o murro tão esperado em cima da mesa e posso dizer-te que agora sim, Relvas tem os dias contados. Pode até e para "inglês ver" e por puro fingimento de que tudo está bem, não ser demitido, mas o "poder" acabou. Fará como fazia Sócrates na Covilhã. Os amigos faziam os projectos e ele só assinava.......Pois é......