quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Um dia D


Foi num ambiente aparentemente familiar que António Costa deu, esta noite, uma entrevista na SIC Notícias. Muitas considerações prévias poder-se-iam fazer agora, mas prefiro, desta vez, abster-me delas e deixar as pessoas prosseguirem o raciocínio pelas suas próprias cabeças.
Voltando à entrevista, esta não poderia, na minha opinião, ser mais esclarecedora. Desde logo, pelas perguntas que ficaram por fazer. E bem sei que não é da Ana Lourenço não estar a par dos assuntos dominantes das entrevistas que faz, pelo que estou ainda a digerir o facto de se falar de várias questões sem se tocar em assuntos de grande relevância, todos eles contra aquilo que o dr. António Costa pensa, acredita ou defende.
Falou-se do facto de Santana Lopes ter dito, com enorme coragem e honestidade, que, se perder, não ficará na Câmara como vereador. Por que razão não se colocou a António Costa a mesma pergunta? Neste assunto, a colocação dessa pergunta naquele contexto era algo que se impunha.
Falou-se de coligações com a CDU e não se pegou nas relativamente recentes afirmações de Ruben Carvalho, vereador da CDU, em que este dizia que António Costa "continuou a estrangular a Câmara do ponto de vista económico e financeiro". Ou, do mesmo vereador, a afirmação do final do ano passado, em que Ruben Carvalho afirmava que "este ano está muito próximo de ter sido mais um ano perdido".
Ao falar-se da proximidade com Helena Roseta, quando esta assumiu responsabilidades camarárias, Ana Lourenço esqueceu-se de lembrar os espectadores e o entrevistado de que esta, no balanço de um ano de mandato de Costa falou, sobre esse período, como "uma sensação de paralisia e ineficiência da Câmara". Nessa altura, Roseta anunciou a sua intenção em candidatar-se, porque dizia que António Costa até esse tempo, tinha "sido incapaz de mudar o estado de coisas".
Quando se falou da existência de dinheiro para construir, estive à espera de um elogio ao dr. Pedro Santana Lopes, na medida em que de acordo com o Sá Fernandes, vereador independente eleito nas listas do BE (partido que posteriormente lhe retirou a confiança política), "o dinheiro que Lisboa não recebe do Casino e que não tem sido gasto vai agora começar a ser". Ora, a quem se deve as receitas vindas do Casino? Pois, eu sei que não convinha dizer. Nem era conveniente perguntar. Trata-se do maior adversário nas próximas eleições...
Falou-se de património da Câmara, de regulamentos, de casas e não se falou do polémico caso da vereadora socialista Ana Sara Brito (que tem o pelouro da habitação!), que desfruta, ela ou familiares seus, de uma casa da Câmara, por tuta e meia. Impunham-se as perguntas: foi Ana Sara Brito uma das que entregou as chaves, por não estarem reunidos os requisitos? Ou estão reunidos? E a renda é, ou era, a adequada?
Pelo facto de ser na SIC Notícias, onde Costa participa num programa às quintas-feiras, pensei que iríamos ficar a saber se o presidente da Câmara vai continuar no programa na altura da campanha, ou se vai sair, como fez Pedro Santana Lopes, quando participava no programa Jogo Falado, da RTP?
A este propósito, quero ver o que fará esta estação: se vai convidar Santana Lopes para um programa de televisão ou se vai pedir o afastamento, ainda que temporário, ao autarca socialista. De outro modo, não será garantida a isenção que se exige ao canal, o qual, se tudo continuar na mesma, privilegiará, publicamente, um dos candidatos.
Curioso que António Costa fala da situação da Câmara como se esta exigisse atenção exclusiva (e não duvido que mereça), tendo reuniões de oito ou nove horas, e faz o "part-time", como comentador na televisão.
Enfim. Foi tudo muito estanho. Muito forçado. Muitas foram as perguntas que ficaram por fazer e aquelas que deixei são meramente exemplificativas.
Tudo o resto desta entrevista não faz sentido. Como pode uma pessoa, numa mesma entrevista, dizer que não havia dinheiro e que, de repente, surge verba para fazer obras no Terreiro do Paço e arranjar cinquenta ruas? Sim, cinquenta. Foi isso que António Costa disse.
Quem pensa que a entrevista foi boa só pode ter esse pensamento por uma única razão: não vive, não estuda, não passeia, não passa, não conhece a cidade de Lisboa. E muito tenho eu andado por aí, passando por vários pontos desta cidade. O que vi, hoje, feriado, foram ruas vazias por não viver ninguém no centro. O que vejo, quando me desloco no meu carro, são enormes buracos um pouco por todas as estradas. Ainda no outro dia, fui passear para o pé do Tejo e vi a Torre de Belém no meio de lixo, que não é recolhido. Vejo uma cidade adiada, quase abandonada, sem projecto, sem esperança e com pouca vida. Por isso, e por outras razões, a entrevista que o presidente da Câmara deu esta noite não poderia mesmo ter sido mais esclarecedora.
E estou cada vez mais convicto de que o dia das próximas eleições autárquicas, em Lisboa, para o dr. António Costa, vai ser, esse sim, o dia D: D, de derrota.

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