segunda-feira, 30 de maio de 2011

Os adolescentes como reflexo da sociedade


O caso das agressões entre adolescentes que escandalizou o país no final da semana passada merece uma reflexão que não se pode cingir à análise das imagens em si, mas à interpretação dos comportamentos, aos factores que determinaram as cenas absolutamente censuráveis que todos os portugueses puderam ver.
Não podemos cair na tentação de responsabilizar professores ou pais ou de culpar exclusivamente os autores das agressões e das filmagens. Devemos olhar para dentro de nós, de um nós que é parte integrante de uma sociedade que supostamente se deveria pautar por valores, pelo respeito, pela tolerância, pela procura do bem-estar colectivo.
Cair nessa tentação seria esquecer que nós somos nós e as nossas circunstâncias. E são as circunstâncias que estão a desencaminhar os jovens. Não podemos separar este episódio dos outros, como se fosse algo pontual, mas enquanto elemento caracterizador de um país jovem que se perde a cada dia.
As agressões entre alunos, as ameaças e agressões aos professores, a falta de autoridade de quem ensina dentro e fora de uma sala de aula. São factores que devem ser integrados com outros, de que todos somos responsáveis (como o facilitismo na educação, a leviandade com que se aborda, por exemplo, a educação sexual, o poder paternal que é exercido com ausência, distância, uma relação familiar que deixou de se basear na grandeza da fidelidade, da lealdade e da tolerância, que tão bem deveriam caracterizar as relações de família).
Menos responsável do que os agressores só mesmo a vítima das agressões, porque a causa primeira do acto é um problema colectivo que marca o Portugal actual.
Não podemos continuar a dar 20 valores a um aluno que não sabe para 10, dando, aos alunos, desde cedo, uma noção de facilitismo, que não prepara os jovens para os desafios de competitividade que viverá mais tarde. Não podemos continuar a permitir que os professores sejam troçados pelos alunos à frente da turma inteira. Não podemos continuar permissivos, admitindo o "direito à asneira", mas nunca o fazer ter como uma regra geral. E também não podemos continuar a descaracterizar o casamento, as relações familiares, a escola enquanto meio de ensino, a família enquanto meio de educação. Os pais e as mães têm de estar presentes. Junto dos filhos, longe de amantes. Assim é que devia ser.
Os outros problemas, que são sociais e económicos, resolvem-se com mais e melhor trabalho, com aumento da produtividade e da riqueza. Não se pode, neste aspecto, acabar com o Estado Social numa altura em que as famílias têm os seus problemas agravados e que, em ruas movimentadas de Lisboa, os jovens são forçados a roubar para poder ter dinheiro para sobreviver ao tempo em que cumprem com as suas obrigações escolares.
É ainda necessário que as autarquias locais se foquem no que acontece nos bairros sociais, cooperando com as forças de segurança. Nesses locais, nesta altura, há muitas crianças e adolescentes que são forçados a roubar com a iniciativa dos pais. Os pais roubam com os filhos.
E, se não acreditam, talvez devessem ter estado ontem à tarde na bomba de gasolina junto ao Estádio Universitário, em Lisboa.
O problema não é dos adolescentes. Mas os adolescentes começam agora a ser um problema. E a responsabilidade é de todos nós. Não as podemos recusar. Temos problemas. E temos de os resolver.
A complexidade deste problema e a responsabilidade que todos devemos assumir não nos pode fazer cair na tentação de condenar, como Marinho Pinto o fez, e com leviandade ainda por cima, as decisões dos tribunais. Porque, nos tribunais, aplica-se a Justiça em nome do povo. O povo censura a violência. E espera que a pena cumpra o seu papel de prevenção geral, não deixando de dar o exemplo, e de prevenção especial, não perdendo a oportunidade de dizer ao adolescente que cometeu um erro, que a sociedade censura esse erro, censura com veemência, e, por isso, merece ser punido por aquilo que fez. Como quem diz "à segunda já não fazes isso". E esse deveria ser o papel dos pais. Talvez Marinho Pinto, em vez de criticar a Justiça, se devesse ter virado para outro alvo. Faria mais sentido. Ou, pelo menos, teria um pouco mais de razão.
Este é um problema social que diz respeito a todos. É também um problema político.
Mudemos os políticos e as políticas, permaneçamos com firmeza na luta por uma sociedade com valores e de causas, sejamos mais exigentes nas nossas relações familiares, cedamos mais autoridade aos professores, acabemos com facilitismos de todo o tipo. Isso, sim, é preparar os adolescentes. Isso, sim, é ser moderno e responsável. Isso, sim, é preparar o futuro. Está nas nossas mãos. E, atenção. A alternativa é não prestar atenção, é esconder e não agir, criando uma nova geração que cresceu de mãos dadas com o crime.

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