segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A Feira da Golegã


A Feira de S.Martinho, realizada anualmente na Golegã, é uma tradição de Portugal, levando larguíssimos milhares de pessoas àquele local meio perdido num Ribatejo abandonado.
Parecia que os hábitos se iam transformando, que o país se ía modernizando, mas aquela tradição da água pé, ao som de fado, montando um belo cavalo lusitano, exibindo o mérito do cavaleiro e das coudelarias no ano que passou desde a última Feira, permanecia, como uma tradição portuguesa.
A Feira de S.Martinho tinha a graça de ter os cavalos, Puro Sangue Lusitano, de ter a água pé e de toda aquela vila nos levar, por dois fins-de-semana, a um passado algo distante.
Os tempos mudaram muito nas últimas décadas. Contudo, este ano, a Feira estava diferente. Apesar de se ter sentido o Verão de S.Martinho, nunca, desde que vou à Golegã, tinha visto tão pouca gente na Feira. Não sei porquê. Mas talvez, olhando para o que se passou nestes últimos anos, possa haver alguma pista.
É verdade que as pessoas não têm dinheiro para fazer 100 km para ir ver cavalos e apanhar uma bebedeira, também ela à moda antiga. Mas há outros factores, no meu entender.
Primeiro, a vila, nos últimos tempos, afastou-se um pouco da essência, bem portuguesinha, que apaixonava os visitantes. Dá-me a sensação que a Golegã, ou a respectiva autarquia, se tem tentado tranformar numa Sevilla, em miniatura. Quando passo pelas ruas, dá-me a sensação de que tudo, ali, é amarelo e branco. Quando entro na Golegã, via Chamusca, vejo várias estátuas, rotundas e até prédios. Este ano, na entrada, até construíram uma espécie de Arco do Triunfo, à moda da Golegã. Pode ser bonito, pode significar que foi feita obra, mas desvia-se, por completo, da Golegã, vila do cavalo, que nos apaixonou a todos.
Pior do que tudo isso é a própria organização da feira. Ninguém tem já paciência para festas em que há muito mais gente do que espaço. Servem-nos mal e ainda pagamos o preço que pagaríamos, por uma bebida branca, num bom bar de Lisboa, ou de Milão.
Há que ter noção das coisas. Porque se não a tivermos, essas coisas acabam por perder a graça.
Depois, a verdadeira essência da Feira, do traje à portuguesa e do fado, tem-se substituído pela invasão de cavalos montados de qualquer maneira, por pessoas vestidas à maneira que o cavalo é montado, geralmente de etnias, estranhas à cultura e à criação do cavalo Puro Sangue Lusitano, que é uma das melhores coisas que se protege, estima e cria em Portugal.
No próprio Largo do Arneiro, o vinho ou a água pé e o fado foram substituídos pela caipirinha e pelo samba.
Concluindo, e para não ser demasiado crítico (porque espero que as coisas mudem), a Feira de S.Martinho mudou. Para (muito) pior, mas mudou. E eu, na minha modesta opinião, penso que o facto de não ser tão bela e tão portuguesa como era dantes tem responsáveis.
Termino, deixando um apelo a esses mesmos responsáveis, para que repensem a própria feira, no sentido de a fazer regressar à sua essência e às suas origens.
De outro modo, a Feira, certamente, acabará.

1 comentário:

rei dolce disse...

Caro Antonio,
Percebo o que diz, mas não concordo.
A Golegã continua a ter uma magia única, que não encontro em lado nenhum.
Continua a ter muitos e belos cavalos lusitanos.
Continua a ter cavaleiros e amazonas trajados a rigor.
Continua a com aquela mística, do nevoeiro misturado com o fumo das castanhas e aquele frio bom.
Continua a ter belas “tasquinhas” onde se pode comer e beber bem, (mas é preciso conhecer bem a Golegã)
Continua ter bons espectáculos equestres, mas aqui, julgo que já tiveram um cartaz melhor!
Mas também tem,
Cavalos montados por quem não deve, como sempre teve, aliás, é uma tradição a venda de cavalos pelos ciganos.
Continua a ter “restaurantes” onde os preços são muito elevados, alguns com gente super antipática.
Também tem barracas de caipirinha e sambas, como em todas a feiras agrícolas que conheço deste país, principalmente nos últimos 5 anos.
Resumindo, esta feira tem características únicas, “castiças”, que fazem dela o ponto de encontro para quem gosta de cavalos.
E eu gosto, e muito, é por isso que não faço 100 km para ir a Golegã, mas sim quase 300km para um lado e para o outro!
Para o ano há mais, esperemos que melhor, com mais gente (foi a crise não tenha duvidas).
Cumprimentos e saudações equestres.