terça-feira, 11 de novembro de 2008

Um Portugal abandonado


Passei por uma vila, no fim-de-semana passado, e quando vinha no carro para Lisboa, pensei que existe um Portugal esquecido, abandonado, cujos problemas se agravam, por falta de dinheiro, de emprego e de pessoas.
Há um contraste evidente entre o interior rural e as grandes cidades. Mas existe um contraste crescente dentro das próprias vilas e das próprias aldeias. Porque, nesses locais, contrastamos a vitalidade das paisagens paradisíacas com o envelhecimento das gentes.
O comércio praticamente deixou de existir, exceptuando a farmácia, um grande supermercado (que fez fechar todas as mercearias, talhos e mini-mercados que se confundiram, durantes dezenas de anos, com o quotidiano da vila). Continua, também, aberto o Café Central, e um outro café, que resistem, a custo, à fuga das novas gerações para as capitais de Distrito ou mesmo para o estrangeiro.
Tudo se fechou ali. Até o sonho das pessoas, que sonhavam, outrora, por uma vila mais próspera.
Nos concelhos rurais, as grandes herdades, parcialmente abandonadas, por falta de incentivos do Estado, vão sendo assaltadas sucessiva e continuadamente. Os bandidos ficam à solta.
Nas vilas, deixou de haver movimento e a esperança esfumou-se.
Nas aldeias, vive-se, porventura, a sua última geração.
Quando fecho os olhos e me lembro daquilo que vejo interior (que, aliás, onde fui, não é assim tão interior quanto isso), a imagem que me aparece é a de um enrugado idoso, só e abandonado, sentado num banco colocado sobre uma calçada à portuguesa, construída pelo Antigo Regime. Por detrás do banco, visualizo uma parede de uma casa devoluta, com cartazes de corridas de toiros afixados.
Continuando por este caminho, deixará de haver vida nas vilas e nas aldeias, a médio-prazo. E, depois, essas vilas e aldeias deixarão de existir. Talvez, daqui por muitos anos, apareça um povo a descobrir ali destroços a testemunhar que, há muito tempo, houve vida naquele local.
Bem sei que me limitei a relatar um problema esquecido, colocado em tempo inoportuno. Mas este é um Portugal que morre, diante dos portugueses, assassinado pela indiferença e inoperância do Estado. Só porque estas vilas e estas aldeias não dão votos.

1 comentário:

Polvo disse...

Foi por tudo o que escreve que decidi apresentar uma moção ao XX Congresso da JSD subordinada a essa temática. Espero que possa contribuir para uma nova forma de encarar o país de um ponto de vista global e estrutural.