quarta-feira, 9 de abril de 2008

O espelho de uma geração



Às vezes é importante ouvirmos um contraditório.
Têm sido sucessivas as notícias das agressões dos jovens. A opinião pública condenou, desde o princípio, os actos dos estudantes. Numa primeira fase, também condenei esses actos, porque sou contra qualquer tipo de acto violento.
Mas reparemos: esta geração, de que tanto se tem falado e criticado, nasce numa conjuntura que é importante caracterizar. Ao contrário de outras gerações, herdamos uma sociedade descrente, um regime corrupto, uma falsa democracia e um país falido, tanto no domínio económico como noutras matérias, dentre das quais destaco os valores.
Crescemos numa sociedade em que não nos foram incutidos os mais elementares valores, como, por exemplo, o da família. Cada vez mais se adopta o divórcio como regra e todos os motivos explicam a instabilidade emocional dos jovens.
A estas situações podemos juntar o facto de se ter passado do 8 para o 80 demasiado rapidamente. Quis-se mudar tudo de um dia para o outro. Do dia para a noite, juntaram-se raças diferentes, sem serem devidamente integradas na sociedade, querendo-lhes conferir estatutos sociais que nunca tiveram. Está, deste modo, aberto o caminho para uma crise social sem precedentes em Portugal. Mais uma crise que a minha geração herdará e terá de resolver por culpa das gerações antecessoras…
Ainda para mais, por muito que se queira maquilhar esta ideia, a sociedade portuguesa não é uma cidade virada para o futuro. É, basicamente, uma sociedade vingativa, intolerante e, repito, corrupta. Mas voltemos aos jovens. Esta geração está quase 3 décadas na escola e na universidade, para depois se deparar com uma de três situações: o desemprego, o trabalho precário ou o trabalho mal remunerado. Esses três factores têm levado os jovens a procurar emprego noutros países, perdendo assim o país várias mais-valias. E esse é um problema para as famílias, porque se desagregam, para os jovens, que se vão, e para o Estado que perde os jovens, investindo na sua educação completamente em vão.
Esta geração cresceu com críticas constantes e destrutivas feitas pela sociedade. Cortaram as asas aos jovens e estes, sem esperança, sem valores incutidos por famílias desagregadas e por uma educação completamente falhada, são claramente diferentes dos mais velhos. Com isto não digo que sejam menos capazes, menos competentes, menos reformistas ou até menos empreendedores. E desengane-se quem pensa que o problema que nos deixarão não será resolvido por esta geração, que tanto se critica.
Passei por vários colégios, conheci, porventura, milhares de pessoas, desta geração. Por ter conseguido esse número tão alargado de conhecimentos, tenho muita esperança no futuro.
Lembro-me, agora, de uma frase do ex-Primeiro-Ministro Durão Barroso, que dizia que Portugal estava de tanga. Hoje, Portugal está nu. Sem dinheiro, sem valores, sem esperança. A Justiça está feita à medida do criminoso, a Saúde é insuficiente, atrasada e ineficaz, a Educação é o que se vê, a Segurança, meu Deus, essa há muito que deixou de existir. Num país sem dinheiro, onde o desemprego salta à vista assim como 1/5 da população que vive abaixo do limiar da pobreza, o Governo anuncia várias obras megalómanas. Ainda para mais, sem estudar alternativas, sem a certeza de que é a melhor opção possível. Mas isso é outra coisa e hoje eu quero mesmo falar dos jovens.
Há, como referi, vários factores que levam a comportamentos semelhantes aos que temos vindo a assistir. Não quero dizer, com tudo isto, que os jovens não são responsáveis pelos seus actos. Certamente que o são. Mas há outros factores, há uma situação complexa e grave que herdamos e julgo que uma condenação, ainda para mais, pública aos jovens torna este cenário ainda mais perigoso.
Não queria alongar-me muito mais sobre este assunto. Talvez volte a escrever sobre este assunto.

Só mais umas linhas para explicar que falo na primeira pessoa do plural, porque sou um jovem e me incluo numa geração que se quer ver como geração “rasca”, mas que com a situação caótica que se vive no país e que se agrava de dia para dia é cada vez mais uma geração “à rasca”. E porque a defesa é importante e a realidade não é só aquilo que os nossos olhos vêem.

3 comentários:

Anónimo disse...

Um Bom Texto sem dúvida. Dou-lhe os parabéns e concordo completamente consigo. Embora ache que a culpa nao é dos pais mas sim deste país, eles são obrigados a trabalhar (muito) para por comida na mesa e dar-lhes uma "boa vida". E por consequência nao dão uma educação cuidada, só isso. Mas tem aqui um belíssimo texto argumentativo.

Anónimo disse...

Nunca tinha pensado dessa forma. Mas até pode ser verdade pois uma geração como à nossa não se cria sozinha! A culpa é desta "Terra". Ultimamente não há um factor bom neste país.. educação 0; Saúde -1 e Educação nem ve-la!! Quero ir viver lá para fora, estou farta disto tudo! Não há um politico decente..

Anónimo disse...

até nos resultados para ver quem vai ficar em 2º lugar do campeonato tu tentas aldrabar e metes o sporting como favorito!!Impressionante!