sexta-feira, 13 de junho de 2008

As touradas, o interesse público, a educação e RTP


Às vezes é importante voltar atrás, rever objectivos e ajustar decisões.
Falei, há dias, do facto de terem sido proibidas, pelo tribunal, as corridas de touros no canal público de televisão até às 22 horas e 30 minutos. Independentemente de ser uma grande tradição portuguesa, de séculos, e de ser um dos meus grandes interesses, não é apenas o facto de se estar a proibir as touradas que está em causa. Também é, obviamente, mas a minha estupefação vai além disso.
No outro dia, na RTP, estava com o meu pai a ver televisão e apareceu, em pleno telejornal, por entre as várias notícias relativas ao Euro, uma notícia sobre os clubes de strip-tease na Suiça, em que se viu uma mulher completamente nua a dançar. Então e as crianças? Quando se fala de prostituição e se aumenta a preocupação mundial pelo tráfico de mulheres, é esta a educação que lhes queremos dar? Será que essa foi uma notícia boa para as crianças? Será, também, que essa notícia era, de facto, de interesse público?
Esta notícia não foi uma excepção. Vejamos a quantidade de desenhos animados, em que se matam os inimigos, as telenovelas que passam às crianças, por meio dos seus actores preferidos, princípios completamente errados, além dos filmes com inúmeras obscenidades. Então e as crianças?
Quando olhamos para a programação da RTP1, constatamos uma coisa que ainda é mais grave. Não há um único programa, que possa fazer das crianças o seu público-alvo. Eu cresci a ver a Rua Sésamo, que complementava aquilo que aprendia na escola. Hoje, a televisão pública limita-se a, de quando em vez, pôr uns desenhos animados no ar. A RTP demitiu-se de educar e as crianças não são, de todo, o seu público.
Sendo assim, deste raciocínio poderemos retirar várias conclusões. Em primeiro lugar, há que rever a legislação. Em segundo, há que alterar o sentido da jurisprudência. Depois, dever-se-á rever o papel que a RTP visa desempenhar na sociedade assim como a noção e o alcance do interesse público. Todos estes passos devem ser dados no intuíto de dar alguma coerência à "coisa".
É que não faz sentido que sejam lícitas imagens de protistutas, de bonecos que se matam uns aos outros, de cenas obscenas, de telenovelas ou de filmes com pessoas nuas e seja proibida a transmissão de uma tourada, que é tradição. É um costume e o costume, não nos devemos esquecer, também é fonte de direito.
Escrevo isto porque não admito que se fundamente esta decisão, errada, do tribunal com base naquilo que é melhor para as crianças. Porque, se o motivo desta proibição fossem mesmo as crianças, então não devia haver outras situações. Mas há. E bem piores! Com ou sem touradas, esta decisão do tribunal de Lisboa é tão ridícula como incoerente. E essa incoerência pode-nos levar a crer que se estão a perseguir aqueles que gostam de touradas e se está a destruir uma tradição.
Já agora, o que era bom é que a RTP fosse, de facto, de interesse e de utilidade públicos e se preocupasse, nem que fosse só por uns minutos, por aquilo que é melhor para a educação e para o futuro das crianças.

1 comentário:

Anónimo disse...

Apoiado! e como já disse tudo noutro post, não repito.