terça-feira, 31 de julho de 2012

Brincar aos polícias e ladrões!

Passos Coelho, ao dizer que os portugueses se podem sentir seguros, mostra uma de duas coisas. Ou não sabe o que diz, ou mente, sabendo do que fala.
Onde trabalho, fizemos 1700 queixas de crimes de que a empresa foi alvo. 1700 em 7 meses. Na sua maioria, esmagadora, tratam-se de crimes de furto.
Nas últimas semanas, tenho sido confrontado com diversas notícias de furto. Aliás, há quinze dias, furtaram-me duas cabeçadas à portuguesa, no valor total de cerca de 200 euros.
No domingo, havia gente que, sem consentimento dos proprietários, entrou numa herdade de família, de onde não queriam saír, nem mesmo quando foram convidados por um dos proprietários e a sua mulher.
Ontem, entraram dois automóveis numa quinta na Chamusca, a horas "decentes" e com gente em casa.
Quando a GNR foi contactada, o que queriam saber é se os proprietários tinham disparado tiros e se, em caso afirmativo, tinham licença para o fazer.
Mas o que é isto?
Que polícia miserável é esta que temos?
Que Justiça é feita a esta tipo de criminosos?
Que Estado é este que, em vez de andar atrás dos ladrões (e de os punir), se vira contra as vítimas?
E ainda temos de pagar impostos? Para quê? Ou para quem?
Onde é que anda o CDS, tão atento a estas matérias?
Onde é que anda o Ministro?
Passos, esse, e como na imagem, deve andar a apanhar bonés. Mas já chega.
Já chega!
Caso contrário, além do telemóvel e da carteira, mais vale que os portugueses se façam acompanhar de uma pistola. Por uma questão de segurança. Até que o Estado as venhas tirar, criando as novas auto-estradas, que é o caminho livre que deixam para que os ladrões nos venham roubar.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Portugal a arder


É difícil compreender como é possível que, perante as dificuldades que vivemos, estejamos todos, quase a entrar no mês de Agosto, a brincar ao Carnaval. De facto, estamos perante uma espécie de vírus carnavalesco que tem contagiado pessoas que vão desde os sindicatos aos jornalistas, passando necessariamente por outras classes profissionais, pelos portugueses comuns.
A postura dos sindicatos, olhados na sua generalidade, assemelha-se à postura do Bloco de Esquerda na altura em que foi formado. Em vez de defenderem os interesses dos trabalhadores, pelos quais se deveriam bater, os sindicatos de hoje vestem máscaras, reunindo meia dúzia de pessoas com alergia ao trabalho em teatros de rua.
A comunicação social vai atrás. Porque sempre adorou minorias, preferindo o espectáculo, por mais triste que seja, aos assuntos sérios. E quem devia colocar assuntos novos na ordem do dia continua preso a um homem chamado Miguel Relvas. É uma luta em vão. É um não-assunto. Que não diz respeito ao Governo, mas a uma pessoa e a uma Universidade.
Aliás, todas as tentativas de aglomerar um conjunto de pessoas para pedir a demissão de Relvas foram pífias. Quase tão pífias como as cenas tristes que os sindicatos (esses, sim, sem nenhum sentido de responsabilidade) têm encenado.
O que me enerva é aquilo que não consegue enervar os sindicatos, os jornalistas e aqueles radicais de esquerda que, por vestirem o seu fato, são responsáveis por construir opinião.
O país está a arder. E é importante perceber a razão.
Ora, na minha opinião, mais do que outras razões que dizem respeito aos tribunais, existem razões políticas que são causa de grande parte do Portugal que ardeu nesta época de incêndios.
Há meios que não foram accionados a tempo. Porque não havia dinheiro. Mas será que a falta de dinheiro justifica poupanças a este nível? O resultado está à vista de quem tem olhos e consegue ver.
E, claro está, já nos falam que há 100 milhões de euros para reflorestar. Os 100 milhões que não houve para desmatar, que não houve para acionar os meios de combate aos incêndios, que não houve para prevenir que o drama se repetisse.
Isto, sim, merece reprovação. Porque isto, sim, é política. E há responsáveis políticos pelos incêndios que assolaram o país.
Mesmo que não queiram falar disto, que não queiram chamar os bois pelos nomes, poderemos sempre discutir este tema a propósito dos debates que têm sido feitos sobre a troika, a Europa e a senhora Merkel.
De uma vez por todas, temos de apurar responsabilidades políticas e temos de levar este assunto aos locais onde deve ser discutido.
Não nos podemos esquecer que estamos numa União, que tem objectivos ao nível agrícola e ambiental. Temos de nos consciencializar disso e de reclamar pelos nossos direitos.
Mesmo em tempo de crise, trata-se, afinal, da integridade do nosso território. E é neste ponto que o dinheiro não pode faltar.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

El (nuestro) Crá!


Depois de pegar na bola e de a colocar no chão, o silêncio apenas era interrompido pelos flashes das máquinas fotográficas e pelo bater do coração dos adeptos. Era um remate que se adivinhava num ar quase sufocante. O mundo parou à espera do que Matias era capaz de fazer.
O momento foi acompanhado num ansioso silêncio em Lisboa, em Manchester e por todo o mundo. A partir daí, do momento em que corre para a bola, colocando-a direitinha na baliza de Joe Hart, perante todo um mundo incrédulo, continuo a não saber explicar o que senti.
Esforçando-me por fazê-lo, ouço apenas o som da bola a bater na rede. A alegria das lágrimas que queriam cair dos meus olhos não me fizeram aperceber de que o coração aos saltos, algures entre o peito e a cabeça, quase me impedia de respirar. Os abraços e os gritos de golo, daquele golo de Matias Fernandez e do Sporting, são coisas que dificilmente irei esquecer.
Foi um tiro demasiado certeiro, um remate exageradamente perfeito. Foi um golo que fica para a memória. O próprio Matias, demasiado concentrado na genialidade com que marcou aquele livre, nem conseguiu ter mais imaginação para o festejar.
Foi História. Escrita a verde e banco.
Mesmo assim, não há maior injustiça que possa ser feita do que resumir o tempo que Matias passou no Sporting àquele golo, por mais vibrante que tenha sido. Porque falamos de um mágico, de um fora de série, daqueles que tratava a bola com a delicadeza com que se deve tratar uma princesa.
São jogadores como Matias Fernandez que fazem com que os miúdos sonhem. Concretiza a ideia romântica de que um futebolista, mais do que um atleta, é um artista.
Matias, mais do que futebolista, mais do que artista, era e é genial.
Há quem, não sendo do Sporting, não compreenda o facto de, neste momento de despedida, não estarmos suficientemente tristes. E, de facto, não estamos. Porque Matias vai, mas o que fez fica. Porque o que fez é intemporal, como intemporal também é o nosso Sporting. O nosso, meu. O nosso, teu. O nosso, do Matias.
Ainda não sendo oficial a sua saída, mas não deixando de ser provável, para Matias, as portas estão sempre abertas. Era melhor, muito melhor, se ficasse connosco. Mas, se não ficar, temos de respeitar a sua decisão, despedindo-nos com um agradecimento.
É que há quem, do lado de lá da segunda circular, tenha levado a mal que o Rojo (encarnado em espanhol) se tenha tornado Verde. São aqueles de Carnide, das jogadas dos túneis e dos balneários, onde, posso-o confirmar, quando não são agressivos, são deselegantes. E não têm pejo em dizer que mandam e que querem mandar, custe o que custar.
Matias, segundo o que se diz por baixo do campo, que é onde normalmente joga o Benfica, recebeu um convite para receber muito mais dinheiro do que recebe no Sporting. Tinha mais um ano de contrato, mas foi educado, cordial e sportinguista quando o transmitiu a responsáveis do seu clube.
É legítimo que Matias queira ganhar mais dinheiro. É, aliás, saudável, porque faz parte das ambições naturais de qualquer pessoa. Mas daí a faltar ao respeito ao clube que o acolheu, e onde escreveu páginas bonitas da sua história, vai um passo demasiado grande. Demasiado grande para que Matias o pudesse dar.
E, segundo o que dizem os jornais, estando de saída, a um ano de terminar o contrato, o Matias vai para outras paragens. Para a capital mundial dos românticos. Para a capital mundial da arte. Vai para um clube com mística, para um clube que é querido de todos nós.
O que eu desejo é que Matias seja feliz em Florença. E que faça aqueles adeptos tão felizes quanto nos fez a nós.
Estamos gratos. Muito gratos.
E, se quiser voltar, as portas estarão sempre abertas para El Crá.

Nota

Depois de reflectir sobre o tempo que deixei de ter disponível para me dedicar a este blogue, pensei colocar-lhe um ponto final. Pensei que tudo tem o seu tempo. E que, sem tempo, não iria valer a pena manter o blogue no activo. Pensei escrever o último texto, publicando-o amanhã, dia 27 de Julho, dia em que morreu o meu avô materno. 
O texto estava praticamente concluído. Era uma homenagem ao meu avô, mas, jogando com os números, era também uma homenagem à minha avó paterna, que também faleceu num dia 27. De Maio. Dia em que nasci. Fazem, os dois, muita falta aqui, ao pé de mim e, sobretudo, dos meus pais. Mas tenho a certeza absoluta de que me acompanharam no texto que lhes escrevi e que sabem que a intenção de o publicar existiu.
O dia de amanhã é simbólico, mais ainda porque é o dia em que nasceu a minha prima Madalena. O 27 é um número especial, também, porque conjuga o meu número preferido com o número preferido da minha namorada. E Julho traz o 7, o meu 7.
Fui ver o número de visitas que aqui recebo, de gente que, gentilmente, tem a simpatia de me vir aqui ler. Lembrei-me de uma série de ideias, de um conjunto de opiniões, de imagens de paisagens por onde tenho passado. Senti a obrigação de continuar a partilhá-las, ainda que com menor regularidade do que aconteceu nos últimos seis anos.
É isso que vou continuar a fazer. Com paixão em cada palavra, com energia em cada frase, bebendo e dando a beber a liberdade. Com Voz Própria, como sempre.
Por hoje é tudo. E eu, eu...
...Tenho dito.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Celebrar Lisboa!

A seguir ao Jamor, pelo simbolismo da final da Taça e por promover a festa das famílias, o estádio português de que gosto mais é o do Restelo. Com uma vista inigualável sobre o Tejo, e com a barriga cheia de pastéis de Belém, ver futebol ali tem outro encanto. 
Temi, durante bastante tempo, que não iria voltar a ver futebol ser jogado naquele estádio. Estava enganado.
Hoje, num torneio triangular de jogos de 45 minutos, vou ver os três clubes de Lisboa de que gosto mais. Sporting, Belenenses e Atlético. Com três identidades diferentes, estes três clubes têm prestado um contributo decisivo ao desporto. São os três clubes que mais dizem à cidade, pela sua humildade, pelo seu sentido de esforço, militância e dedicação. 
Quem é adepto ou simpatizante de qualquer um destes três clubes não pode faltar. O lugar é perfeito. E o que vamos fazer é festejar o desporto, e é celebrar Lisboa.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Muito bom!


O Sporting confirma, este ano, que, a mudança na estrutura de futebol trouxe um novo paradigma no que respeita à política de contratações. Sendo evidente que o Sporting está aberto a propostas para todos os seus jogadores, desde Patrício a Wolfswinkel, todos verificamos que lacunas que foram identificadas na época transacta estão a ser cirurgicamente preenchidas.
A contratação de Labyad foi, sem dúvida, a mais sonante. Trata-se de um prodígio que vagueava pela Europa à espera da sua confirmação. Pode jogar em várias posições no meio-campo e é, sobretudo, no jogo ofensivo que irá trazer mais qualidade.
Fernandes, internacional A pela Suiça, com experiência no futebol europeu, vem acautelar o treinador para um eventual atraso na recuperação de Fito Rinaudo. 
Cedric terá a sua oportunidade, bem como Wilson Eduardo. São dois bons jogadores, portugueses e jovens, cujo caminho até à selecção nacional não está vedado. Quanto a Adrien, confesso que tenho as minhas dúvidas. É um bom jogador, uma opção interessante que preenche a saída de Aguiar. Mas estou hesitante por força da sua cabeça, que pode estar noutras paragens. Vou esperar para ver.
Hoje foi apresentado Pranjic, internacional croata, experiente, vindo de Munique, onde não conseguiu ter os mesmos minutos que jogou na época anterior. Acrescenta experiência e a sua polivalência no lado esquerdo é importante. Ataca e defende. E é isso que queremos no plantel do Sporting.
Falta, pelo menos, um central para o lugar de Polga e Rodriguez. E um avançado que dê luta ao Ricky. Se dependesse de mim, o investimento maior seria feito no central, porque Ricky dá garantias de golos e Wilson Eduardo promete mobilidade e eficácia. E, se fosse eu a decidir, ia ao mercado buscar um lateral direito.
Interessante tem sido, também, a composição da equipa B, que conta com um indiano e um chinês. É uma operação de marketing, uma tentativa de chegar a outros mercados. Mas, além desses, há, na B, uma série de jogadores que podem dar que falar, chegando, já nesta época, a poder ser alternativas à equipa principal. Falo, por exemplo, de Ilori e Nuno Reis, de Pedro Mendes (que veio de uma experiência no Real Madrid) e Dier (que esteve emprestado ao Everton). De Stojanovic (capitão dos juniores do Partizan), Patinho (já vestiu a camisola da canarinha nas camadas jovens), João Mário (pretendido pelo Liverpool), Betinho (futuro 9 da selecção nacional), Etock (formado no Barcelona) ou Bruma (guineense promissor).
Tem tido razão quem, há ano e meio, me dizia que iria votar numa determinada lista por causa de Duque e de Freitas. Têm tido da razão. É que eles não brincam.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

E sem Relvas?



Não me vão ver, aqui, a escrever sobre  a licenciatura de Miguel Relvas. Aliás, o que penso não se distingue do que está escrito, e bem escrito, no texto que Pedro Santana Lopes escreveu no seu blogue pessoal, onde expõe ideias que partilho num texto que subscrevo na íntegra.
O que me preocupa não é Miguel Relvas. É, em vez disso, o tempo que o país perde a discutir o sexo dos anjos, quando deveria concentrar-se naquilo que é essencial para a governação do país. Preocupa-me, também, a finalidade que têm aqueles que, por mera conveniência, colocam notícias no ar, que são apenas fait-divers, divulgando-as com objectivos que não são nada mais, nem nada menos, que políticos.
Sendo certo que Relvas é um homem forte deste governo, não escondo que me preocupa esta irresponsabilidade de uma série de pessoas que o quer ver fora do governo. Pensam, e talvez não pensem mal, que o governo, sem Relvas, teria uma duração de vida muito reduzida. 
O que aconteceria numa situação dessas? Numa altura em que há portugueses a passar fome, a devolver casas e automóveis aos bancos, e sem emprego, como seria se, eventualmente, o país perdesse o governo ou, pelo menos, tivesse um governo muito mais fragilizado?
Sei bem que há quem pense que pagar a dívida é uma ideia de criança. É gente que não se distingue de Relvas pela licenciatura que tirou, mas que tem, em relação ao senhor ministro, uma diferença que é, essa sim, preocupante e que se encontra na falta de provas dadas durante uma vida inteira. 
O passado, que já foi, é completamente irrelevante. O que interessa, e nos deve alertar, é o presente e o futuro. Que deve ser encarado com acrescido sentido de responsabilidade.
Sem Relvas e sem este governo, iriamos voltar aos tempos que nos trouxeram até aqui, onde dois Primeiros-Ministros, pelo seu pé, se afastaram ao assumir que, estando a deixar o país no pântano, não eram mais capazes de combater uma situação que eles próprios criaram.
Sem Relvas e sem este governo, o país tornar-se-ia num navio sem rumo perdido alugres no meio de um mar turbulento. Porque a alternativa ao PSD, e ao CDS, não é nada. Nada. É vazia, frouxa, incoerente, inconsistente. E, em período de marés vivas, já sabemos que são os primeiros a saltar para fora. Salvam-se a eles, mas deixam o resto da tripulação entregue à sua sorte.
Felizmente, parece-me que o país já aprendeu a lição. E, pelas dificuldades por que passamos, já levámos uma injecção de tal maneira grande, que já sabemos, pelo menos, a direcção que não devemos seguir.
Não percamos mais tempo a discutir teorias da conspiração, a comentar novelas que, sendo verdadeiras ou não, não nos deixam avançar.
Este é um tempo de trabalho e sacrifício, em que temos de ter coragem e ousadia, determinação e espírito de missão, estando solidários com aqueles que, quando o navio naufragava, aceitaram tomar o leme.
E tão grande foi o exemplo que nos deram. E tão grande é o exemplo que nos dão.
O país não pára nem pode parar, e nenhum de nós pode desviar a sua concentração, perdendo a sua atenção com assuntos que não nos levam a lado nenhum.
Portugal está a mudar. O tempo é de trabalho. E todos temos de fazer a nossa parte. 
Esperemos que nós, os portugueses vivos, sejamos recordados pelos sacrifícios que fizemos e pelo sucesso que tivemos quando, depois da queda no abismo, fomos vindo, centímetro a centímetro, a sair do buraco onde nos deixaram.
Não há tempo a perder. Portugal não pode esperar. E estamos muito melhor com Relvas do que sem ele.
Imaginem só o que seria, se Relvas não estivesse neste governo, ou o que seria, se Portugal tivesse outro governo que não este, onde também está Relvas. 
Mesmo sendo só imaginação, mesmo sendo só um cenário, essa é uma hipótese que nos deixa, aos portugueses lúcidos e com memória, assustados. Mesmo muito assustados.
E, nas últimas duas décads, já apanhámos sustos a mais... 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

"Carta de despedida aos amigos", Gabriel Garcia Marquez

“Se por um instante Deus se esquecesse que sou uma marioneta de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo.
Daria valor às coisas não pelo que valem, mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais.
Entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos 60 segundos de luz.
Andaria quando os outros páram, acordaria quando os outros dormem.
Ouviria quando os outros falam e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate…
Se Deus me oferecesse um pouco de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto não apenas o meu corpo, mas também a minha alma.
Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre gelo e esperava que nascesse o sol.
Pintaria com um sonho de Van Gogh as estrelas de um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que oferecia à Lua.
Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas…
Meu Deus, se eu tivesse um pouco mais de vida, não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas.
Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo Amor.
Aos Homens, provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar.
A uma criança dar-lhe-ia asas, mas teria de aprender a voar sozinha.
Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês Homens…
Aprendi que todo o mundo quer viver em cima de uma montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta com sua pequena mão, pela 1ª vez, o dedo de seu pai, o tem agarrado para sempre.
Aprendi que um Homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me hão-de servir realmente de muito, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer…”


Gabriel Garcia Marquez

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Nem vitórias morais, nem falsas verdades.

Se falarmos dos doze clubes que têm ficado do quinto lugar para baixo, a situação é dramática. Não há dinheiro para ordenados, para inscrição da equipa nas competições europeias. Não há dinheiro para pagar os juros da dívida, nem sequer para fazer a época até ao fim.
Os outro quatro clubes vivem, também eles, sérias dificuldades. Um deles está falido. Outro já não tem para pagar aos bancos e é forçado a vender ao desbarato. Os outros dois, do norte, vão sobrevivendo. O maior à custa dos prémios, títulos e créditos que tem de várias grandes transferências que fez. O mais pequeno, cuja situação conheço mal, parece estar a crescer de uma forma relativamente consolidada.
A ideia que vendemos é que, estando todos falidos, ou muito perto disso, não vale a pena investir aqui. Eu desconfio dessa ideia, destrutiva e que apenas olha aos meios financeiros.
Os clubes portugueses são dos melhores da Europa. Em 10 anos, 5 chegaram a meias-finais de competições europeias e 3 finais foram ganhas por uma equipa portuguesa.
A nível de qualidade, com menores orçamentos, os nossos clubes são muito melhores que os holandeses e que os franceses. Batemo-nos, de igual para igual, com os colossos ingleses. Tem-nos faltado capacidade para lutar com alemães e com os dois maiores clubes espanhóis.
Temos algumas das melhores equipas do mundo. Temos o melhor jogador do mundo. Temos o melhor treinador do mundo. Temos, também, aquele que é, neste momento, o melhor árbitro do mundo.
Vejo que os clubes portugueses não colocam portugueses a jogar. É um erro estratégico. Ainda ontem, nos sub-19, pude ver a qualidade dos jogadores que formamos. A formação do Sporting é melhor, por uma questão de vocação e profissionalismo. Mas o Porto e o Benfica têm grandes jogadores. Grandes mesmo. E esses jogadores, trabalhados, valem muitos milhões.
Sabendo que será difícil o papel de quem dirige a Liga e a Federação, por uma questão de poupança de custos, "impõe-se que se imponha", aos clubes, a colocação de jogadores portugueses. Se assim fosse, não tenho dúvidas de que as equipas não perderiam qualidade. Em dois, três ou quatro anos, teriamos uma selecção renovada, cheia de talento. Teriamos equipa para lutar por campeonatos da Europa e do Mundo. E equipas a lutar por vitórias nas competições europeias.
Ora, sendo certo que esta crise afecta todos, a solução tem de passar por todos. Incluindo Godinho, Vieira e Pinto da Costa. Com iniciativa de quem dirige a Liga e o futebol português. Temos tudo aquilo que é preciso para crescer. Temos tudo e mais alguma coisa. Temos tudo o que quase ninguém tem. 
Não me digam, por isso, que os nossos clubes não são atractivos, que há jogos em risco e salários por pagar. Não me digam que não temos condições para encontrar investidores capazes de resolver o único problema que todos temos.
Não me digam. Porque é mentira. E, em mentiras, eu não acredito. 
O que acredito, e que é certo para mim, é que faltam visionários, é que falta inovação, naqueles que dirigem os clubes, naqueles que conduzem o nosso futebol.