terça-feira, 4 de março de 2014

Apelo aos sportinguistas,

Na altura em que escrevo, deve haver quem, no Benfica, já tenha encomendado as faixas e quem, nesse mesmo clube, já tenha recebido instruções para procurar, nos armazéns refundidos do estádio, todos os confettis e material de festa que ficou guardado das festas adiadas do ano passado.

Simultaneamente, a norte, vive-se o princípio do fim de um império que, durante décadas e imbuído de um enorme espírito de podridão, arruinou a verdade desportiva no futebol português, realidade de que quase não restam vestígios.

Não tendo sentido a necessidade de escrever sobre o Sporting, mas, passado um ano da difícil eleição de Bruno de Carvalho, que apoiei com entusiasmo desde as primeiras eleições e com noites mal dormidas pelo meio, sinto o dever de reavivar a memória daqueles que têm aquela característica doentia, ou criminosa, da memória seletiva.

Há um ano, o Sporting viveu a pior época da sua História, que não o foi apenas no âmbito desportivo, que certamente todos lembrarão. Há um ano, vivia-se um desnorte de liderança e a falência de um projeto que quase fez o clube terminar.

Certamente, poucos são o que o saberão, mas, há menos de um ano, havia uma alternativa que passava por uma espécie de refundação deste Clube centenário, entregue à banca e com algumas contas em atraso, sem poder financeiro, sem capacidade para honrar os compromissos e sem condições desportivas para, com lucro, conseguir fazer face a essas dificuldades.

O caminho seguido foi o mais duro, o menos popular, a última alternativa para salvar o Sporting, deixando o clube com uma equipa principal constituída por um plantel de quinze jogadores, baratos, complementados por soluções emergentes oriundas da Equipa B e, portanto, da formação do clube.

A conjuntura ajudou. 

Ainda que sendo, previsivelmente, campeão, com um plantel irresponsavelmente milionário, Jesus, no Benfica, já foi chão que deu (melhores) uvas. No Porto, vive-se o fim de um período que, para o mal ou para o mal, foi marcante. E em Braga, em Paços de Ferreira, a poeira acabou quando se lhe foi o vento.

Com isso, a nove jornadas do fim, o Sporting está no segundo lugar sem que, em qualquer momento, tenha cometido o erro de assumir a candidatura a um título que, face aos rivais, não tinha condições práticas para vencer.

É importante, agora, continuar com os pés no chão, olhando o futuro com a prudência de quem sabe que, se tiver o azar que não têm tido os nossos rivais, o Sporting pode, daqui a um ano, estar a competir, novamente, com clubes do seu estatuto, mas com condições financeiras e desportivas (conjunturalmente) superiores, como o Barcelona, o Bayern, o Chelsea, o Real Madrid.

E, fazendo o paralelo com o período que vive o país, é crucial que, após a austeridade (ou da intervenção externa), não se deite tudo a perder, pondo, simplesmente, a austeridade na gaveta.

Mais do que os cinco - na prática, seis - pontos que nos afastam do clube que, ao colo, tem sido levado até ao título, os sportinguistas devem continuar cientes das dificuldades que o clube atravessa, participando ativamente no dia-a-dia do clube, indo ao estádio, comprando merchandising, reunindo poupanças para ter o canal do Sporting em casa, assinando ou comprando semanalmente o jornal do clube.

E sempre, sempre olhando com desconfiança para quem segue nos lugares atrás de nós, sem vergonha de não assumir aquilo que não temos condições práticas para ser, exige-se que, no domingo, haja uma invasão de leões a Setúbal e, depois, uma enchente de gente apaixonada pelo verde, no jogo contra o Porto, em Alvalade.

Nós somos assim, diferentes e leais, cientes das nossas responsabilidades. E, sem exigir aos outros o que não exigimos de nós, este é o momento em que, mais do que nunca, a História pede pela nossa comparência.

Viva o Sporting!