quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Avante!

 
Em Lisboa, numa coligação com outros dois partidos, obtiveram 51 mil votos, que não chegavam para encher o estádio da Luz, e 22%, muito menos de metade dos 51% que obteve António Costa, numas eleições em que o Bloco e o PCP também foram a votos. Em comparação com o resultado de 2009, perderam mais de 50 mil votos e 3 vereadores. E a culpa é de quem? Do Paulo Rangel, do Marco Almeida, do António Capucho, da Manuela Ferreira Leite ou do Rui Rio?
 
No Porto, uma maioria absoluta de 47,5% transformou-se num 3º lugar. 21% com apenas 24 mil votos, que, mesmo bem distribuídos, não chegavam a uma meia casa no estádio do Dragão. O PSD, no concelho do Porto, é o partido das “zero freguesias”. E a culpa é de quem? Do Paulo Rangel, do Marco Almeida, do António Capucho, da Manuela Ferreira Leite ou do Rui Rio?
 
Em Gaia, de 62% desceu-se para 20%. As contas não são difíceis. São menos 42%, quase 65 mil votos. De vereadores, cortou-se a parte esquerda do 8. Agora são 3. E foi por pouco que não ficaram no lugar 3, por uma diferença de menos de 400 votos. E a culpa é de quem? Do Paulo Rangel, do Marco Almeida, do António Capucho, da Manuela Ferreira Leite ou do Rui Rio?
 
Em Sintra, outra maioria absoluta em 2009, outro 3º lugar em 2013. Feitas as contas, sempre de subtrair, são menos 31%, são menos 45 mil votos (que dava para encher 16 vezes o estádio do Sintrense, e ainda ficava gente cá fora). Como no Porto, em Sintra, o PSD também ficou sem qualquer freguesia. Zero. E a culpa é de quem? Do Paulo Rangel, do Marco Almeida, do António Capucho, da Manuela Ferreira Leite ou do Rui Rio?
 
Poderia, e talvez até devesse, continuar a exemplificar. Mas não vale a pena. Já encontraram os culpados. Culpados que são sempre os outros.
 
Mas a verdade é só uma. Quiseram que o Luis Filipe Menezes fosse para o Porto. Acharam que Seara seria a escolha natural e que, pela consensualidade, poderia remediar os previsíveis danos em Lisboa. Não quiseram apoiar Aguiar em Gaia e preferiram avançar com um candidato contra Marco Almeida, quando este já tinha apresentado a candidatura.
 
A responsabilidade também não é do governo. E não estou a ser irónico. As pessoas sabem distinguir as coisas. O problema é que, no PSD, não se preparam as coisas. Não se decide com base em projetos ou objetivos. Decide-se com base nos nomes e nas caras.
 
Daí que seja necessário perseguir quem apoia candidatos que não são apoiados pelo PSD, fazendo censura. Censura política, a que se refere o camarada Cunhal. Perdão, censura política a que se refere o camarada Aguiar Branco.
 
Avante com as expulsões e, qualquer dia, já não sobra ninguém!

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Um adeus à Bê

 
Aprendi, sobretudo no último ano, que o fundamento de uma desilusão é uma grande ilusão. Conformei-me. Não vale a pena vivermos com ilusões. E, sendo certo que a maior ilusão se prende com a eternidade ou a imortalidade, temos de aceitar a falibilidade, a efemeridade e a mortalidade como algumas das poucas certezas que temos.

Por essas razões, nas alturas de maior tristeza, tendo a recuperar, na memória, as coisas boas que aconteceram, tentando confortar-me com a última festa e o último beijo que dei na manhã de ontem, naquele que foi o último dia da vida feliz da Bê.

Subiu montados, percorreu quilómetros, sempre corajosa diante do gado bravo. Foi terna com as pessoas, protetora do território, deu sempre sinal quando julgou necessário.

 
Trabalhou dia e noite, entre o gelo dos graus negativos e o calor infernal dos verões. Brincou, caçando. Foi uma autêntica professora para a Bolota, com quem sempre demonstrou toda a paciência.

Foi leal até ao último instante. Até ao último instante. Mas, antes disso, deu a conhecer a Herdade à Bolota, que lhe faz companhia há uns meses. Levou-a a Santo Estêvão, aturou brincadeiras, mostrou-lhe o perigo das valas e ensinou-lhe as formas de passar pelas vedações. Ensinou-a a caçar coelhos, a estar desperta perante a visita noturna dos javalis e a entreter-se atrás da raposa.

A Bê foi uma lutadora, com uma dignidade e um carácter de tal forma imensos que envaidecem os seus donos. E, em vez de deixar um vazio, deixa um legado. Um legado de amor àquele local, um legado de proteção, um legado de trabalho.

Morreu ontem naquela que foi, e continuará a ser, a sua casa, vestindo a camisola até ao último segundo.

Tendo sido sempre feliz, conquistou a imortalidade pela sua postura exemplar que continuará a inspirar os vivos, continuando, por isso, a fazer parte da história das coisas boas que aconteceram na Formiga.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Liberdade para os vianenses


Haja liberdade, haja tradição e democracia.
Viva Portugal!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O escândalo de Bale


Ninguém tem dúvidas de que Bale é um grande jogador, que desequilibra, que joga e faz jogar, que traz qualidade ao jogo, que marca e dá a marcar, fazendo a diferença. Mas Bale é galês, joga no Tottenham, que, apesar de ter uma belíssima equipa que foi construída nos últimos cinco anos, “está a milhas” dos principais colossos europeus.
Por muito bom que seja, Bale valerá metade do que vale Messi, metade do que vale Ronaldo. Valerá, talvez, pouco mais do que vale Di Maria, valor que terá, neste momento, apenas por estar numa equipa com menor dimensão, sendo, por esse motivo, mais decisivo do que, previsivelmente, poderia ser numa equipa de maior nomeada.
Não sendo certo que a transferência venha mesmo a consumar-se, colocar-se a hipótese de haver um clube com um passivo milionário, de um país que vive uma crise profundíssima, disposto a pagar uma centena de milhões de euros por Bale é um escândalo universal.
Outro escândalo, da mesma dimensão, é o facto de Platini dizer publicamente que pensa que o valor é perfeitamente normal, ignorando a real situação financeira do Real Madrid (que está muito distante dos milhões virtuais que esse clube, anualmente, queima em falsos reforços), a situação económica espanhola e a profunda crise que persistentemente assola o continente europeu.
Bale não vale cem milhões. É inaceitável que se possa pensar que possa valer mais do que esses cem milhões. Ou que valha pouco menos de cem milhões mais jogadores ou outras contrapartidas.
A novela “Bale”, que marca este período de transferência, apenas tem o mérito de demonstrar, aos jovens, o exemplo que ninguém deve seguir, porque, além de ser condenável que se ofereça esta fortuna em tempos de crise, com o apoio dos principais responsáveis por essa atividade profissional, a atitude do internacional galês – que nunca chegará aos pés dos melhores jogadores do mundo – é de repudiar com veemência.
Faltar ao trabalho, incumprir o contrato, forçar a saída de um clube que tudo lhe deu é um ato vergonhoso, constituindo um sinal de absoluta falta de profissionalismo, que se está a alastrar por todos os clubes de todos os campeonatos, e que merece reprovação por parte de todos os agentes desportivos, por todos os agentes não desportivos, por todos os cidadãos do mundo.

Talvez haja motivos para desafiar a Judite Sousa, que, nesta fase da sua vida profissional, não está “a dar uma para a caixa”, a entrevistar o Florentino Pérez, sugerindo-lhe que, em vez de pagar estes milhões por quem não os vale, o clube merengue distribua essa quantia obscena pelos pobres que há no mundo, começando, claro está, pelos milhões de desempregados espanhóis.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Outra ameaça à paz mundial


O mundo é pequeno e começa a ficar cada vez mais perigoso. Não falo das tendências cada vez mais autoritárias que os alemães têm mantido em relação a uma Europa contra quem, noutros tempos, já combateram, tendo precisado da ajuda daquela para se reerguer enquanto país, e enquanto potência económica. Não me refiro, também, à constante frieza russa, país cuja relação tenta ser preservada, por todos os países, de uma forma sempre delicada. Também não refiro à persistente ameaça norte-coreana, país que, isolado do mundo moderno, continua a intimidar a mais poderosa potência económica.
A situação na Síria não faz adivinhar nada de bom para uma Europa que continua a não sair da cepa torta, que estagnou e, sem saber o que quer de si própria, continua a falar através de várias e diferentes vozes. Um ataque na Síria, com fundamentos semelhantes aos que desencadearam a guerra no Iraque, seria também ruinoso para os Estados Unidos, cuja economia continua com enormes dificuldades, sendo previsivelmente superada pelo dinamismo chinês, ainda que seja construído através de sucessivos ataques à dignidade da vida humana.
Não sei o que fundamentou o cancelamento unilatera
l (pelos Estados Unidos) do encontro que estava previsto realizar-se com a Rússia, em Haia. Não sei, também, se existe algum fundamento para crer que houve um ataque feito através de armas químicas na Síria. Mas parece-me que, ainda para mais na atual conjuntura económico-financeira, os Estados Unidos e os seus aliados europeus deveriam ser mais prudentes relativamente a uma eventual intervenção militar no país liderado por Bashar al-Assad.
É perfeitamente compreensível, para o comum ocidental, que os Estados queiram reprimir o “uso” de civis inocentes para desencadear um ataque químico que mata indiscriminadamente. É, também, compreensível que se repudie o atraso sírio em aceitar o pedido da comunidade internacional de permitir o acesso de inspetores das Nações Unidas ao local onde o referido ataque alegadamente terá ocorrido.
Impulsivamente, a posição dos Estados Unidos ficou mais dura, havendo uma pressão de alguns congressistas no sentido de enviar navios para a Síria para atacar o território através de mísseis. A má vontade, que me parece ser inequívoca, por parte dos sírios, ajuda a esse impulso.
Todavia, numa altura em que persiste o medo relativamente a ameaças permanentes, como a russa ou a norte-coreana, mas também de movimentos islâmicos radicais, há que ser especialmente cauteloso com a questão da Síria, sobretudo após os avisos do Irão e da China, que apontam para retaliações em caso de ataque.
O cenário que ficou montado com o alegado ataque químico era totalmente indesejável pela comunidade internacional, mas, depois da “agressividade” na forma como os norte-americanos disseram que esse ataque era indesmentível, defendendo-se um ataque imediato ao território sírio, não pode deixar de se ter em conta os avisos ameaçadores do Irão e da China.
A bola está no lado de Obama, que tem finalmente a sua prova de fogo, e a quem cabe evitar (ou não) um ataque que pode ter consequências gravíssimas, sobretudo na atual conjuntura, para os Estados Unidos e para os aliados ocidentais e que, a ocorrer, terá certamente repercussões, também, em Portugal.

Veremos o que nos dirão os próximos capítulos, com a expectativa de quem receia que esta história, que começou torta, possa não acabar direita. 

As minhas autárquicas


A pouco mais de um mês das eleições autárquicas, os mares ainda estão calmos, porventura demasiadamente calmos, tendo em conta o facto de estas serem as eleições que, pelo menos em teoria, vão fazer uma verdadeira revolução no poder local.
Em tempos, escrevi, neste blogue, que discordo, em absoluto, da forma adotada pelo PSD para a composição das listas, tendo desaproveitado uma oportunidade única para renovar, renovar a sério o poder local, abdicando dos dinossauros que marcaram um período em que o mapa autárquico esteve pintado em tons de laranja, com saldo positivo e obra feita.
A participação cívica e política deve, no meu entendimento, pautar-se por uma lógica de meritocracia, de reconhecimento público do trabalho desempenhado (fora do poder autárquico) pelo candidato, sendo essas algumas das razões que me fazem defender a não eternização nos cargos e a rotatividade que, a meu ver, é totalmente desejável no sentido de preservar uma democracia plena e saudável.
A lei, quando não é totalmente clara, é suscetível de ser interpretada, mas não podemos esquecer que a lei é feita por homens, sendo redigida em resultado do pensamento maioritário – neste caso, pensamento político – de vontades livres. Se é questionável o espírito do legislador, não deveria ser, por uma questão de sensatez, igualmente questionável aquela que deveria ser a sua vontade. A perpetuidade num determinado cargo público (ainda que alternando o local) é ruinosa para a nossa democracia e, pior do que isso, é um contributo enorme para abalar ainda mais a confiança que os portugueses deixaram de ter nela.
O meu apoio, ou a falta dele, em algumas candidaturas não se justifica por uma questão pessoal, nem por uma questão partidária. É por uma questão de acreditar em determinados princípios orientadores que possam contribuir para uma democracia mais saudável.
Aliás, como militante do PSD, como social-democrata, revejo-me em muitas das ideias que Seara ou Menezes partilham. Tendencialmente, em circunstâncias normais, votaria sempre num candidato do PSD.
Porém, as razões que descrevi, e os termos em que foram descritas, impedir-me-iam de apoiar os candidatos “salta-pocinhas”, que, impedidos legalmente de se recandidatar à presidência de determinado concelho, contornam a lei e candidatam-se a outras Câmaras Municipais, algumas delas limítrofes da anterior, apenas afastadas por uma estrada, por um rio, por uma ponte.
Nas circunstâncias em que se apresentam estas candidaturas, se fosse eleitor em Lisboa, não votaria em Seara. Se fosse eleitor no Porto, não votaria em Luís Filipe Menezes.
Apesar de não gostar da forma demasiado populista como tenta ganhar cada voto, não hesitaria, perante as candidaturas existentes, em votar no António Costa. De um ponto de vista global, fez um trabalho positivo, apenas superado pelo empreendedorismo de Santana Lopes. Costa demorou a arrancar, mas Lisboa está mais bonita, na antiga Musgueira, nos jardins do Campo Grande, vai ficar mais bonita no Terreiro do Paço e talvez até tenha ficado mais exuberante e funcional na Avenida da Liberdade e na zona do Marquês. Reconheço, porém, que a oposição construtiva que Costa teve foi um contributo fundamental, que ajudou a cidade a recuperar o seu esplendor.
No Porto, a questão é diferente. Votaria em Rui Moreira, pela outra explicação que acima já dei. Vem da sociedade civil, de um grupo de pessoas com competência e capacidade, que merece ser premiado. Além do mais, é do Porto.
Noutros municípios, votaria claramente no PSD, como na Figueira da Foz, Albufeira, Benavente, Oliveira de Azeméis, Braga, Guarda, Cascais, Vila Franca de Xira, Montemor, Santarém e, em geral, em quase todos os outros.
Uma das exceções é a de Sintra. Penso que Marco Almeida fez um trabalho notável, que me parece ser reconhecido pelos sintrenses, merecendo a oportunidade de liderar os destinos da autarquia durante, pelo menos, dois mandatos. Se fosse eleitor em Sintra, não hesitaria em votar no movimento independente encabeçado pelo Marco Almeida.
Como Oeirense, reconheço que, neste ano, a escolha se dificulta. Parecendo-me evidente que o candidato do PS será esmagado nas urnas, a escolha resume-se à opção entre Moita Flores, do PSD, e Paulo Vistas, no IOMAF.
Sendo militante do PSD, nunca hesitei em pensar pela minha cabeça. Temos o direito, mas também o dever, de ter convicções. Temos o direito a engraçar ou não engraçar, a rever-nos ou a não nos revermos, temos até a possibilidade de apenas não ir com a cara. O que digo é totalmente de uma perspetiva pessoal, mas, ainda hesitante, o tempo começa a escassear-se. Por esse motivo, e pelo excecional trabalho que foi feito em Oeiras, começa a ganhar força a probabilidade de votar no Paulo Vistas.
Confesso que ainda não conheço (ou não sei quais são) os candidatos à minha Junta de Freguesia, reservando essa decisão para a altura em que os conhecer.
Distante da realidade do partido, totalmente descomprometido perante qualquer candidatura, tenho sentido que me tenho tornado cada vez mais livre. Confesso que, pela estima que tenho pelo Marco Almeida, apenas a sua candidatura me deixa mais expectativas, sendo, inclusivamente, bastante provável que eu participe nas suas ações de campanha, contribuindo, com aquilo que puder, para a vitória que não tenho dúvidas que ele merece, e que certamente acabará por conseguir.
Como social-democrata militante, e apesar das considerações que repito neste texto, não deixo de desejar que o PSD consiga vencer as autárquicas, por duas razões fundamentais: para preservar a estabilidade na governação do país e para premiar o trabalho brioso que foi desempenhado pelos autarcas social-democratas de norte a sul do continente e nas ilhas.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

No fim do pesadelo


Foi com uma onda de fumo, que se via de Lisboa, que me apercebi da dimensão da tragédia que tornava assombroso um cenário que, até então, se assemelhava a um pequeno paraíso terreno.
À chegada, obtive a confirmação, constatando que um imenso mar de fogo estava de passagem pela Formiga.
Confesso, porém, que fiquei com a primeira sensação de que tudo estava a controlar-se. Apesar das várias frentes, os poucos bombeiros presentes no local e a segurança, quase leviandade, com que se deslocavam dentro da herdade, não se orientando pelos conselhos que eu e o caseiro lhes dávamos – no sentido de lhes indicar os melhores acessos e de explicar o estado do terreno – faziam-me crer que os estragos se ficariam por ali.
Aliás, na altura em que cheguei, as chamas estavam a alastrar-se junto a uma vala e a uma zona de pasto que não tinha mato. Seria, do meu ponto de vista (de alguém desqualificado para este tipo de situações), improvável que se multiplicasse o número de frentes e que o fogo tomasse conta de outros locais dentro da herdade.
Essa sensação de controlo não me tirou a preocupação. Conhecendo cada canto e recanto, meti-me num jipe com o caseiro, fomos dar uma volta pela herdade para ver o estado das coisas, numa altura em que ardia de um lado e do outro da A13, que corta a herdade ao meio.
A meio da herdade, existe um túnel, contrapartida pela expropriação originada pela construção da A13 e que serve, além de acesso interno e privado, para a passagem do gado. Esse túnel está junto a uma pequena barragem, numa zona que, como todo o resto da herdade, tem vários socalcos. Com o portão aberto, para facultar a circulação dos bombeiros, passámos para o outro lado e vimos até onde pudemos ver.
O estado de pânico começou quando queríamos regressar a casa. Junto à barragem, começou uma nova frente de fogo, que praticamente nos cercou. Entre o mato e os sobreiros, formou-se uma parede que nos impediu de seguir em frente e nos forçou a alterar o trajeto.
Não era possível chegar a casa, nem às cocheiras, sem que tivéssemos de sair pelo segundo portão, seguindo pela Estrada Nacional, passando por fora da herdade. Foi o que fizemos.
Nesse momento, tudo de descontrolou. O que, à chegada, estava controlado e localizado ficou descontrolado, começando a adivinhar-se o pior. Foi nessa altura que, exaltado, saí do carro e tentei explicar aos bombeiros que o fogo estava a avançar por uma zona que, apesar de estar junto a uma vala cheia de água, estava seca. Se passasse daquele local, veríamos, dentro de minutos, o fogo tomar conta dos barracões, das cavalariças e da casa.
O meu aviso foi seguido, tendo-se formado um “muro de combate ao incêndio” que o impediu de se alastrar, evitando que chegasse à zona das cavalariças.
Nessa altura, avisei, também, que os socalcos existentes na zona, bem como algum mato (que não corresponde a qualquer incumprimento da lei e que, se fosse cortado, poderia matar vários sobreiros), fariam com que, se as chamas passassem daquele local, em minutos, a casa estivesse a arder.
Não havia tempo a perder. Pus-me no carro e, antes de ir a casa, fui ao parque junto à casa, que ainda não ardia, para soltar quatro poldros que ali estavam. Num instinto de sobrevivência, efetivamente milagroso, os poldros correram na minha direção logo os chamei, passando de um portão para o outro sem hesitar. Saíram daquele local em segundos, numa altura em que esse parque começou a ser consumido pelas chamas.
O tempo começava a escassear. Eu sabia que, em circunstâncias normais, dentro de três ou, com alguma sorte, quatro ou cinco minutos, a casa estaria a arder, sem que houvesse um único bombeiro no local.
Por sorte, era terça-feira. A Eugénia, que ali vai nesses dias da semana para limpar a casa, estava ali. Regou, com uma pequena mangueira, toda a zona junto à casa. Gritei, chamei os bombeiros para o local, abri todos os portões, fui até casa e liguei a rega.
À medida que acelerava a força devoradora de um fogo imensamente brutal, o tempo para o combater começava a tornar-se cada vez mais curto. Foi aí que, finalmente, mas com toda a calma, chegou a primeira de três ou quatro carrinhas de bombeiros.
Não é possível descrever os cinco minutos seguintes, porque não há explicação para o desespero. O ar ficou irrespirável, o calor insuportável, a casa foi assaltada por um gigantesco fumo cinzento. Uma chama quase me engoliu numa altura em que eu estava junto a um depósito de água situado atrás do balneário para onde me dirigi, a pedido dos bombeiros, para desligar a rega.
Confesso que não sei como é que a casa não ardeu. Não sei como é que os balneários ficaram intactos.
A determinada altura, a casa ficou sem água e sem eletricidade. Instintivamente, quando fui ligar a rega, abri a piscina (normalmente protegida por uma cobertura). Foi o que serviu para colmatar a falta de água dos carros de bombeiros, que se serviram daquela água para apagar o resto das chamas.
Num ápice, o fogo circundava toda a casa, desde os balneários à zona da piscina, passando pelas traseiras, pela casa do caseiro, a que se somaram pequenos focos de incêndio junto ao portão e ao relvado. Nessa altura, temi o pior. O fumo tornava impossível a visão de parte da casa. Os bombeiros recuaram e eu próprio, vomitando a desidratação que, entretanto, comecei a sentir, fui até casa buscar garrafas de água para os bombeiros. Fui até casa do caseiro, que tinha a porta aberta e estava mais fresca.
Nessa altura, começou a arder por trás dessa casa, chamei os bombeiros, que apagaram imediatamente aquele fogo. Entretanto, o incêndio tinha passado entre os barracões até ao fim da herdade, tendo consumido uma diagonal completa que arrasou sobreiros e centenas de espécies de seres vivos.
Aquela gigante nuvem negra transformou-se, entretanto, num conjunto disperso de nuvens cinzentas, graças a cerca de duzentos bombeiros, cinco tratoristas, o senhor Carlos, o senhor Leonel, o Luís, o senhor Zé Afonso e a Eugénia.
Não estando, ainda, completamente aliviado, nem tendo qualquer sentimento que se assemelhasse àquele que se tem em situações de controlo e de vitória, olhei à volta e, pelo menos com maior controlo sobre o meu estado de desespero, lembro-me de, entre ordens, ter abraçado o comandante dos Bombeiros do Cartaxo.
Em cada homem, em cada rapaz e rapariga, vi um herói. Entre lágrimas, a calma chegou, finalmente, aos homens exaustos, quando a noite chegou.
Passou uma semana desde esse incidente e, confesso, ainda hoje tenho dificuldades em dormir. Acordo sobressaltado a meio da noite. As pulsações ainda estão demasiadamente aceleradas para poder descansar.
No dia seguinte ao incêndio, no dia seguinte ao seguinte, nos dias seguintes a esse, dei sozinho várias voltas à herdade, não para fazer contas aos estragos, não para me deprimir no meio de um cenário que de paradisíaco se tornou lunar, mas para beber um pouco da força da resistência.
Ardeu metade da Formiga. Centenas de sobreiros ficaram queimados. O que era verde e amarelo ficou preto e cinzento. O cheiro fresco dos eucaliptos tornou-se pesado. O canto dos pássaros transformou-se num ruidoso e aflitivo silêncio. O cenário tornou-se desolador e penoso.
Penso que vivemos, os que estávamos na Formiga, uma espécie de guerra. E, numa guerra, até os vencedores perdem.
O que me fascina, na Formiga, é a biodiversidade. É a dignidade da vida dos toiros e das vacas. É a excelência e o carácter daqueles cavalos e poldros, a quem, com esforço e trabalho, dou de comer. É a sabedoria das corujas, a imponência dos milhafres, o passo desengonçado dos javalis, a rapidez dos coelhos, a ratice da raposa e a “rasteirice” dos saca-rabos, a pureza dos pássaros, a calma das cegonhas, o canto das rãs. É a história que cada sobreiro tem para contar.
É por isso que aquele local é único. É isso que me acalma do stress do quotidiano.
No último grande passeio que dei, dois dias após o fogo, com o cheiro das cinzas, e apesar de não me tirar o sentimento de algum pânico e sobressalto que ainda mantenho, senti a verdadeira força da natureza, da resistência perante o que foi a intensidade brutal de um mar devastador de fogo.
Fiquei com a esperança de que parte dos sobreiros ardidos ainda vai recuperar. Não acredito que a (Herdade da) Formiga tenha esse nome apenas por causa dos milhões de seres dessa espécie que, dia e noite, de verão a verão, ali trabalha para viver com dignidade.
Ali, todos somos formigas, inerentemente apaixonados pela vida, coligados num governo de salvação de toda a vida que pudermos salvaguardar.
Nesse dia, entre o trote do Puro Sangue Lusitano que montava e o galope desarticulado e rápido da Cão de Gado Transmontano que comprei no inverno passado, já ouvia, ainda que de forma envergonhada, o canto afinado dos pássaros. A mãe cegonha sobrevoava a várzea à procura de alimento para a cegonha bebé. O casal de milhafres voltou. As vacas, com os vitelos ainda novos, comem feno de forma digna e serena. Os cavalos estão calmos, pedem por passeios. Os poldros estão deitados junto aos novilhos e, entre eles, de forma sábia e matreira, está a raposa, numa altura em que os coelhos já saem da toca.
Pressinto que, entre todos aqueles animais, existe o medo que o faz estar juntos, mas a confiança de que, finalmente, a situação se está a normalizar.
Não temos qualquer sentimento de vitória. Mas o sentimento de derrota não se sobrepõe à imensa esperança de reerguer cada sobreiro, de revitalizar os sobreiros que, até à próxima primavera, tudo farão pela sobrevivência.
Temos, isso sim, conforto. Todos. Todos os que fomos, e somos, formigas. Todos os que, perante o maior susto da vida, tudo fizemos para salvar a vida uns dos outros.
A natureza, e a biodiversidade que cultivamos, sofreu apenas um duro e cruel revés, mas não há nada mais belo e mágico do que o pequeno conforto de sentir que a vida, naquilo que foi possível, resistiu.
Na tentativa de virar esta página, realmente negra da nossa vida, resta-me desejar que este dia seja recordado, não pelo que aconteceu, mas pelo que se evitou que acontecesse, e que nunca seria possível sem a ajuda das pessoas que referi, da solidariedade dos bombeiros, dos tratoristas da Companhia das Lezírias, da Proteção Civil, de cada bombeiro que ali esteve. Também não seria possível sem o instinto de sobrevivência de cada animal e sem a Sorte, a que apelei em desespero, e que veio dos Céus.
Tendo vivido a situação desde o momento em que o incêndio se descontrolou, e visto a forma como o fogo devorou toda a zona junto à casa, só posso acreditar que foi a Mãe que protegeu a vida que o Pai criou.
É só mesmo por causa disso que, cansado mas com esperança, posso finalmente dizer que o pior já passou, que tudo poderia ter sido muito pior, e que, com felicidade, podemos dizer que seguimos. Que seguimos, vivendo.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Foi há 10 anos, e eu estive lá.




O dia há-de nascer,
Rasgar a escuridão,
Fazer o sonho amanhecer
Ao som da canção
E então:
O amor há de vencer
A alma libertar
Mil fogos ardem sem se ver
Na luz do nosso olhar,
Na luz do nosso olhar!
Um dia há de se ouvir
O cântico final,
Porque afinal falta cumprir
O amor a Portugal,
O amor a Portugal!


(Letra da música cantada por Dulce Pontes, na inauguração do novo Estádio José de Alvalade, há precisamente 10 anos, num dos momentos mais arrepiantes e bonitos que vivi em toda a vida.)

terça-feira, 9 de julho de 2013

Brumices


Faz capas de jornais, é tema para páginas e mais páginas de um folhetim diário, é o assunto na ordem do dia das televisões sempre que falam do Sporting. Falo do Bruma, da novela. 
Imaginem o que seria, se o Sporting não quisesse ficar com o jogador. Imaginem o que seria, se o Bruma não adorasse o clube e não quisesse mesmo ficar.
Todos sabem que o melhor, para Bruma, é ficar em Lisboa, vestindo de verde e branco. Sabe Bruma. Sabe o Sporting. Sabe o único clube que verdadeiramente acredita nas suas potencialidades, que oferece milhões (três Nolitos e meio, três David Villas) para que o jogador fique emprestado no Sporting. Sabe o seu empresário e sabe o seu advogado, pobre incompetente que pensa ter descoberto o  petróleo.
Penso que a novela, que existe, terá um fim. Bruma fica no Sporting, potencia-se, assume o lugar de Nani na selecção, dá o salto a troco de uma pequena, mas justa, fortuna, e vai assumir-se como um dos grandes jogadores do mundo.
A outra possibilidade seria a de Bruma sair já, para um clube onde não será titular, perdendo o combóio do Mundial e correndo o risco de, tal como Paim, ter de se dedicar aos saltos para a piscina.
Mas o que registo, que é apenas o que pressinto saber, é que Bruma, em Portugal, só jogará de verde e branco, jogando, em Alvalade, pelo menos mais um ano.
Registo ainda outras coisas.
O caso Bruma irá resolver-se em benefício para todas as partes, mas há outros Brumas, Brumas verdadeiros em Portugal, que estas falsas peripécias ligadas ao verdadeiro Bruma têm escondido.
Quantos Brumas existem no FC Porto? É mais provável Atsu jogar no Sporting ou no Benfica do que ficar no Porto. É um bom jogador, que sairá pela porta dos pequenos, vendido por uma pechincha. E Rolando? O tal que o Porto tenta oferecer ao seu rival? Ninguém fala dele? 
Mas não é só na invicta que há brumices. Em Lisboa, também as há.
Imaginem, agora, que Bruma tinha feito mais do que meia dúzia de jogos. Que era uma peça fundamental. Que tinha sido a terceira contratação mais cara da História do clube. Que era o grande goleador. Aquele que resolvia. Que tinha marcado, em jogos oficiais, na equipa principal do clube, mais de uma centena e meia de golos. Imaginem que o clube queria despachar esse jogador, detentor de um pé esquerdo que decidia jogos, um dos melhores avançados da Liga, um dos melhores goleadores da história do clube.
Imaginem, já agora neste "suponhamos", que o clube punha, no mercado e em desespero, o passe do jogador. E que o mercado, sorrindo, nada dizia, apenas se oferecendo propostas irrisórias por esta peça fundamental, vindas de um clube recém-promovido em Inglaterra e de um clube de um campeonato secundário que está impedido de ir às competições europeias.
Nós, no Sporting, não temos 105 jogadores, estamos em fase de uma reestruturação que reduzirá orçamentos, mas temos dinheiro para ir fazer um estágio lá fora. Não somos uma empresa de compra e revenda de jogadores, nem uma empresa de televisão. Não ganhamos, também, à conta da fruta, do chocolate ou da meia de leite.
Temos, para resolver, a situação de Bruma. Iremos resolvê-la. E fá-lo-emos no devido tempo, provavelmente numa altura em que o Atsu estará, lá para Gaia, a correr sozinho e numa altura em que Cardozo continuará vinculado a um clube, que não o quer, e onde aquele, de todo, também não quer ficar.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Seja, então, o tempo novo!


Quando foi divulgada, nos órgãos de comunicação social, a notícia da demissão de Paulo Portas, tive a clara percepção de que o país, finalmente, caíra no precipício.
No decorrer de um plano de assistência financeira, tive a sensação de que o país, após dois anos de políticas de empobrecimento, não tinha soluções. Pensava, aliás, que Portugal se confrontava com o pior de todos os mundos, numa conjuntura particularmente adversa, em que, perante a, na altura, provável queda do Governo, tinha a pior oposição desde que Portugal se democratizou, tendo, simultaneamente, o pior Presidente do Portugal democrático.
Compreendi os motivos que levaram à carta de demissão de Portas que, imprudentemente, foi tornada pública. Revi-me na forma como entendeu ter chegado o tempo para uma mudança de políticas, mais orientadas para o crescimento económico, de forma a dar um novo impulso às famílias e empresas, eventualmente descendo alguns impostos, sem comprometer os objetivos propostos e as receitas fiscais.
Uma pessoa engole um sapo. Engole dois. Engole até três, quatro, dez, vinte ou cem. Fá-lo com a consciência de que, a cada sapo engolido, contribuía para a solidez de um governo que, caso caísse, levaria Portugal para uma situação semelhante à grega, em que, numa fase de desespero, se mostrava ingovernável aos olhos dos portugueses e dos credores.
Não acredito que Paulo Portas tivesse a certeza absoluta de que a sua saída seria irrevogável. Pelo contrário. Creio que sabia que colocaria a batata quente nas mãos de um Presidente que, rapidamente, a iria passar para uma Assembleia da República sem propostas ou para um Primeiro-Ministro forçado a ceder. Terá sido esse o contexto em que Portas escreveu ao Primeiro-Ministro, sem conhecimento de mais ninguém, nem mesmo do próprio partido que liderava e lidera.
Numa altura em que o risco é total, há que jogar todas as cartas. E foi isso que Portas fez, desiludindo, pelo menos momentaneamente, aqueles que votaram em si.
O governo demorou tempo a remodelar-se, nas políticas, nos ministros. Era tarde para que surgisse, novamente, com a cara lavada, com uma nova energia para uma segunda fase do mandato em que, a um ano da saída da Troika, se começa a discutir o Portugal pós-Troika.
Não sei, se Portugal assistiu, na semana passada, a uma brincadeira de miúdos, a que muitos chamaram de garotos. Não sei. Pelo menos, pareceu.
Partilhei o nervosismo que assolou a casa de quase todas as famílias portuguesas. Partilhei o sentimento de condenação perante aquilo que considerei ser a imprudência de Portas, a falta de flexibilidade e diálogo de Passos e a inação permanente de um Presidente da República, que não ajudei a eleger, e que nunca exerceu, pelo menos de uma forma inequívoca e visível, os poderes que lhe estão legalmente confiados, incluindo na Lei Fundamental.
Hoje, tenho uma percepção diferente. Como teria sido com outro que não Portas? Como teria sido com outro que não Cavaco?
Sem Portas, Portugal estaria sem governo, com um governo minoritário ou com um governo maioritário mas sem comunhão de ideias.
Sem Cavaco, Portugal estaria a caminho de eleições (estando, pelo menos durante dois meses, sem governo) ou com um governo de iniciativa presidencial numa coligação alargada ao Partido Socialista, o que, em caso de fracasso, poderia pôr em causa o fraco, mas necessário, sistema partidário existente.
Talvez Portas tenha agido bem. Talvez a inação de Cavaco tenha, finalmente, dado frutos. Hoje, em vez da ansiedade, temos esperança. Numa maioria refrescada, num governo onde todos estão em sintonia, numa política diferente que permita, ao país, dar uma nova resposta perante as dificuldades.
O tempo novo chegou a Portugal. E oxalá que, daqui em diante, se ponha o interesse nacional à frente de um compromisso que nos tem levado à miséria, castrando o nosso futuro. Renegoceie-se a dívida, peça-se o perdão de parte dela, ressuscitem-se os portugueses, dando-lhes um pouco mais de ar.  
A partir de agora, apenas pedimos, e mesmo por favor, que sejam responsáveis.

E nunca se esqueçam que, sem dinheiro e sem economia, não se pagam dívidas. 

sábado, 15 de junho de 2013

O circo que cheira a fruta


Há quem pense que as migalhas tiram a fome, que o circo, quando montado, desconcentra o povo e que, para que o circo possa entreter seja forçosamente necessário haver palhaços.
A questão é que só é palhaço quem quer, que a vida não pode ser só circo e que é muito mais provável que, à fome, morra a cigarra cantadeira que a formiga trabalhadora e silenciosa.
Querem fazer com que o Presidente do Sporting seja visto como um Vale e Azevedo, pensando que os benfiquistas se confortam com esse facto, aliado ao lugar que o Sporting obteve na época que terminou. Não vale a pena tentarem fazer isso. O Sporting já teve o seu Vale e Azevedo. Ou até teve vários. Cometeram loucuras financeiras, desconhecendo a mística que identifica o clube e o distingue dos outros. Estiveram no Sporting, não para ajudar o clube, mas para se governar, a si e aos seus, em lógicas de compadrios (a que, educadamente, alguns quiseram chamar de reinado).
Querem, também, pisar o Sporting, algo típico daqueles burgessos do FC Porto, clube que teve décadas de vitórias desportivas que nós, sportinguistas, não reconhecemos por não terem sido obtidas com mérito.
É verdade. O Sporting, no tempo dos Vale e Azevedos, fez maus negócios com o FC Porto. Esses negócios fazem parte de uma história que nos envergonha, mas que está ultrapassada e perfeitamente enterrada. 
O Sporting voltou a ser o que sempre quis ser desde 1906, pioneiro na luta pela verdade desportiva. Nesse sentido, não temos relação com o clube da fruta, assumindo, porém, a fraqueza, por não termos capacidade de conviver saudavelmente com gente deseducada, filha da podridão e do dinheiro, sem qualquer tipo de categoria e carácter.
Não queiram, porém, fazer esquecer que, no momento do desentendimento público, se realizou uma final entre equipas dos dois clubes. Mandaram-nos passear. Chamaram-nos bananas. Perderam. E, no que depender de nós e do nosso trabalho, sem fruta nem chocolate, vão mesmo ter de se habituar a perder.
Quiseram dar uma bicada, como se fossem abutres, dizendo que se reforçaram com um jogador da cantera. Como foi que disseram? Um dispensado que fez alguns jogos de juniores e uma série de jogos na equipa B que não se contam com dedos de mais de uma mão?
Que vão passear. Que se divirtam com os milhões. Que continuem a esbanjá-los em jogadores da nossa formação e a pagar favores, a árbitros, empresários e prostitutas!
Se querem que o circo continue, pois então que prossiga o espectáculo. Mas substitua-se o palhaço. Ponham, nesse papel, o homem dos gases, o tal papa das brasileiras, o bimbo cujas chamadas telefónicas a deturpar a veracidade no desporto chegam, diariamente, a nossa casa através do novo canal do Correio da Manhã!
Já não se aguentam as historietas compradas dos pasquins que muita gente ainda compra ao engano, escritas por gente que, por estarem entre o homem e o animal, não sabe para mais do que para escrever a história da carochinha.
A propósito destas imitações ranhosas das maravilhosas fábulas de La Fontaine, já enjoa o que se tem escrito sobre a constituição do plantel do Sporting para a próxima época. Por que não dizem que o treinador do Sporting era aquele que estava contratado (!) pelo FC Porto? 
Quanto ao defeso, admito que tenho as minhas expectativas, próprias de quem se revê numa lógica de premiar o profissionalismo dos atletas, mas também olha para a próxima época como um ponto de partida em que se deve jogar com jogadores próprios para fazer um campeonato que nos catapulte, de novo, para as grandes lides europeias.
Acho, por isso, que o Sporting deve vender jogadores. Entre Schaars, Rojo, Boulahrouz e Capel, acho que o Clube pode, e deve, fazer dinheiro. Acho, também, que Rui Patrício deve sair. Para seu bem. Merece lutar para ser campeão numa das melhores ligas do mundo. Admito a possibilidade de venda, mas admitiria também a possibilidade de ser emprestado, fazendo dinheiro com outros jogadores.
Preocupa-me, apenas, um jogador. Labyad. O talento deve valer mais do que o dinheiro. Deveria ficar.
Quanto a Bruma, é um talento, um craque em potência, para ser lançado, rentabilizado e, talvez depois, transferido. Estou certo de que será o que vai acontecer, independentemente do que for sendo escrito naquele desperdício de recursos a que, talvez apenas por cortesia, chamamos de jornais.
Ilori é outro nome, envolvido na mesma história, talvez por ser do mesmo empresário. O que se escreve dá jeito ao empresário, mas não interessa a mais ninguém, até porque Ilori, mesmo tendo apenas como concorrente o Nuno Reis e o Rojo, ou mesmo o Boulahrouz ou o Onyewu, que ainda pertencem ao clube, não seria titular de caras. Se não o é no Sporting, quem acredita que o seria num outro clube, de um outro campeonato, com um outro tipo de poderio financeiro neste momento?
De qualquer forma, parece-me que Ilori será, também, jogador para ficar, pelo que as páginas que se têm escrito sobre ele serão para guardar e utilizar, em estado de necessidade, quando faltarem acendalhas para a lareira que nos aquecerá no próximo inverno.
Não me parece, por isso, que os sportinguistas possam deixar de estar suficientemente entusiasmados. Não podemos negar as dificuldades com que vivemos, mas, pior do que não ter dificuldades, por muito grandes que sejam, é não viver. E, estando vivos, vale a pena fazê-lo de acordo com uma identidade centenária, confiando num Presidente que, não se deixando iludir, tem perfeita consciência de que, apesar da humildade e espírito trabalhador que nos caracteriza, no Sporting, temos a obrigação de pensar em grande. No mercado e na competição.
Para o ano, estamos de volta. Seremos nós, novamente. Com dificuldades acrescidas, por força dos tentáculos do polvo que tudo comanda. Mas não vamos competir em duelos de lama nem nos vamos bater apenas pela honra. Essa, por muito que nos queiram tirar, ficou eternamente gravada na nossa História. Vamos lutar para ganhar. Jogo a jogo. Com brio. 
Estão autorizados para continuar o circo. Mas não ousem sequer tentar domar os leões. Basta brincarem aos palhaços, às aves raras e amestradas, que assistência continua a aplaudir.
Pode ser que, um dia, caia a máscara, a corda estique demais e o artista caia no chão.
Pode ser que, um dia, a tenda venha abaixo. 
Saber esperar é sinal de sapiência.
Pois, então, aguardemos.
Viva o Sporting!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Todos com Passos Coelho


Pedro Passos Coelho, quando chegou a Primeiro-Ministro, fê-lo em circunstâncias adversas num ambiente em que se projetavam, logo aí, grandes dificuldades para os portugueses, com a quebra da atividade económica, com os portugueses obrigados a viver com a corda ao pescoço e com as empresas em sérias dificuldades para continuar a laborar. Esse cenário, que se antecipava com certezas absolutas na altura das últimas eleições legislativas, foi resultado de um redondo fracasso de intermináveis anos de governação socialista.
Os portugueses fazem, hoje, o seu balanço sobre a primeira metade do mandato deste governo de coligação, que, para muitos, não pode ser positivo tendo em conta que, para muitos cidadãos, não há, sequer, poder de compra. Nem muito, nem pouco. Contam-se os cêntimos para chegar até final do mês e será certamente curioso saber qual foi a percentagem de portugueses que viram o seu saldo bancário baixar para valores negativos.
Se, numa empresa, é possível que o ativo possa, momentaneamente, ser inferior ao passivo, sem que isso baste para pôr em causa a sua solvabilidade, o mesmo não se pode dizer para as famílias, que têm forçosamente de pagar as contas e ter, após esse pagamento, pelo menos uma margem mínima para poder sobreviver. 
Como jovem, licenciado, trabalhador por conta de outrem mas também por conta própria, como alguém que sempre olhou para Portugal como um país em crise, onde seria difícil reunir as mínimas e necessárias condições para poder construir uma vida sustentável, vejo que existem pontos deste governo que são positivos.
Independentemente do memorando, foi o Governo de Passos Coelho aquele que, após quase quarenta anos de democracia, pôs fim ao Estado Gordo, aquele que sustentou a geração que me antecedeu, aquele que todos viam como o guarda-chuva a que, gratuitamente, se recorria em casos de necessidade. 
Foi o Governo de Passos Coelho que olhou para o Estado Social com o intuito de o tornar sustentável, controlando custos, restringindo-o a funções básicas e constitucionais do Estado, salvaguardando a sua existência. 
Durante anos, referi-me a um país que teria de se fazer profundas alterações na sua estrutura, criando condições para que pudesse crescer. Falei de problemas como a desertificação do interior, a saturação das grandes cidades, facto que viciou a nossa economia. Novos serviços, demasiada competitividade, baixa exagerada dos preços, mas menos poder de compra, menos receitas, prejuízos, necessidade de despedir. Este flagelo urgia ser combatido e certo é o facto de que está mesmo a ser.
O tempo soube trazer um novo tipo de empreendedorismo. Este não é só o tempo para que aqueles que pouparam invistam. É também o tempo dos visionários, daqueles que conseguem ver novos modelos de negócios e dos que, não se encaixando nesse perfil nem tendo trabalho, possam rumar a novos espaços do país, reabitando-os, cultivando as terras, criando gado, invertendo o ciclo que parecia estar a levar o país rural para um buraco sem saída. 
Não conheci os governos antes daquele que foi liderado por Cavaco Silva, mas, entre aqueles que vi, não consigo lembrar-me de outro que, ainda para mais perante as circunstâncias com que se depara o Estado Português, tenha feito tanto no incentivo aos jovens ou novos agricultores.
O país está a assistir a um momento de viragem neste aspeto, que não pode ser apenas interpretado na mera lógica de combate à desertificação do interior. Relançar-se-á, a médio prazo, a economia local, contribuindo para o crescimento do produto interno produto, combatendo o desemprego e sustentando a balança comercial a favor do país.
Mais do que algumas reformas setoriais, Portugal tem assistido a uma verdadeira mudança de paradigmas. É um ciclo que se inverte.
No meu entendimento, parece-me que, no futuro próximo, nada fará baixar o desemprego. Pelo contrário. As empresas, sobretudo as grandes (que ainda têm lucros) estão cheias de gente com vícios, gente dos direitos adquiridos, que, por não contribuírem para a construção de riqueza, terão forçosamente de ser despedidas.
Esse fenómeno, que não tem que ver apenas e diretamente com o atual governo, ao qual já estamos a assistir – a que as empresas, com a natural falta de coragem para chamar os bois pelos nomes, têm chamado de reestruturações – tem ocorrido também na função pública, que, tantos anos depois, está verdadeiramente a ser reformada. E, neste aspeto, revejo-me integralmente na lógica de requalificação dos quadros, na tentativa de pôr fim à velha e viciada visão de funcionalismo público, bem como na tentativa de rescisão por mútuo acordo.
Enfim. Apesar de não haver ainda grandes resultados, por força da conjuntura, é inegável a ideia de que o atual governo está a levar a cabo reformas que são cruciais. O erro crasso deste governo prende-se com a política financeira, que está muito ligada ao memorado de assistência financeira assinado pelo governo anterior.
Parece-me evidente que não há país que resista a tanta austeridade, e a tanta austeridade durante tantos anos. Parece-me, também, que é inevitável fazer-se um acordo com os credores no sentido de permitir que, económica e financeiramente, o país possa recuperar, bem como outros países da União Europeia que passam por dificuldades semelhantes, facto que contribui para que o projeto europeu esteja a fracassar a olhos vistos.
Com esta carga fiscal, não há economia que possa funcionar. É preciso aliviá-la, criando, dessa forma, condições para que o país possa voltar a ser suficientemente aliciante até para que consiga captar investimento externo, muito necessário.
Nesse sentido, creio que é inevitável começar a romper com a política financeira de Gaspar, aproveitando-se a oportunidade para alterar o ministro das finanças e fazer uma remodelação governamental, não meramente cirúrgica, mas que permita dar um novo fôlego ao governo.
Estamos a meses de eleições autárquicas, que exigiam atenção acrescida, visto que muitos dos históricos autarcas do PSD não podem, do ponto de vista legal, voltar a recandidatar-se. O PSD, que tinha todo o tempo do mundo, não aproveitou o mesmo para se preparar devidamente para estas eleições.
Cometeu o erro de afrontar decisões judiciais apenas por ter uma interpretação diferente de uma lei que o próprio partido ajudou a fazer aprovar.
A meu ver, o PSD agiu mal. Este era o tempo para abrir o partido à sociedade civil, renovando os quadros e os candidatos ao poder local, criando ainda as condições necessárias para aquelas sucessões que, do ponto de vista da sociedade civil, pareciam naturais.
É inconcebível que o PSD tenha perdido a oportunidade de apoiar candidatos como Rui Moreira ao Porto ou Marco Almeida a Sintra. Foi um erro que, certamente, sairá muito caro ao partido, por serem candidaturas fortes que irão forçar a dispersão dos votos.
Concretamente, prefiro não me pronunciar sobre outras candidaturas, umas que são mais do mesmo, outras apenas tiros ao lado, sendo que as demais são autênticos tiros nos pés.
De qualquer forma, não podemos, como militantes do PPD/PSD que somos, dar como perdidas as próximas autárquicas, apesar da impopularidade do Governo e da falta de preparação do próximo ato eleitoral.
Numa altura de sacrifício nacional, chegou o momento de voltar a mobilizar os militantes, chamando, a esta onda de mobilização, o eleitorado social-democrata e cidadãos independentes.
Parece-me, por isso, que o PSD deveria fazer um Congresso antecipado, ou um ato institucional semelhante em que vários militantes pudessem participar, de forma a limpar a imagem, renovando-a, e chamando todos os militantes para o combate nesta hora difícil do país, mas, necessariamente, também, do partido.
Este é o momento do relançamento. Do arejamento. Do apelo à unidade, ao sentido patriótico e de Estado. Este é o momento de dar um novo e necessário alento a este governo.
Se não for agora, o PSD arrisca-se a discutir-se num momento em que, liderando um governo frágil, pode sair esmagado das autárquicas, entregando, ao fim de décadas, o poder local aos socialistas.
Num período crítico da vida deste governo, num momento em que o país enfrenta uma crise com precedentes distantes, Portugal não pode continuar a ter um PSD apagado e frouxo. Pelo contrário, exige-se um partido interventivo e impulsionador do movimento de mudança que se quer assistir no país, assumindo, todos os militantes, total solidariedade com o Primeiro-Ministro e a missão espinhosa que tem enquanto líder do Governo.

terça-feira, 2 de abril de 2013

O regresso de Sócrates




É importante que ninguém se deixe confundir pela forma cirúrgica com que Sócrates gere os números que lança em debates e entrevistas sobre o tempo que comandou os destinos do país.

Sócrates governou seis anos. Quatro deles, fê-lo com maioria absoluta. E foi ainda no período da sua maioria absoluta que entrou no período mais negro da sua governação. O PSD, na altura com Ferreira Leite, teve uma postura crítica, uma visão drástica da realidade que se estava a aproximar, apresentou alternativas. Sócrates foi a votos e ganhou. Mas perdeu a maioria absoluta.

Sócrates não quis coligar-se. Não quis fazer acordos parlamentares. Ignorou todos os partidos, fazendo fé no sentido de Estado que o PSD sempre soube preservar.

Porém, forçado pela conjuntura pela qual era o principal responsável, pediu ajuda externa. Aliás, para contarmos toda a história, é importante relembrar que apresentou um PEC. Apresentou dois. Apresentou três. Até ao dia em que, sucedendo-se um PEC atrás do outro, rompeu a cooperação até então mantida institucionalmente com o Presidente da República, apresentando um quarto PEC sem o ter, previamente, debatido com o PSD.

Sócrates não foi demitido. Demitiu-se. Recandidatou-se. Perdeu as eleições.

Demitiu-se, depois, da liderança do Partido Socialista, encarregando-se a sua ala de tentar mostrar sinais de vitalidade com a apresentação da candidatura de Francisco Assis com o apoio inequívoco de António Costa e de outros camaradas próximos de Sócrates.

Enquanto Sócrates governava, ou desgovernava, o país, Seguro ia fazendo o seu trabalho de casa. Presente como deputado na bancada socialista, tornou-se mais severo na forma como distanciou de Sócrates. Esteve com os militantes, somou apoios e, na hora do Congresso, abriu as portas aos socráticos que nunca o haviam apoiado.

Nessas circunstâncias, Seguro ganhou o PS.

Seguro, porém, não revelou a liderança que se lhe devia exigir. Mais morno, menos convicto. Desconhece-se qualquer faceta do seu carisma. Não descolou nas sondagens.

Entretanto, aparece Costa, o tal candidato natural de poder do partido do poder depois do poder de Sócrates. Pareço repetitivo. É poder, poder e poder. E é assim mesmo, ou não fosse o PS o grande partido do poder em Portugal.

Costa encolheu-se. Fez as contas. Seguro tinha o partido consigo. E aquele teve medo de perder. Disse que ia, recuou, voltou a dizer que ia, voltou a recuar. Se bem me lembro, ainda deu um tempo a Seguro. Mas, seguro com Seguro, o PS não deu qualquer importância a Costa.

Entretanto, há notícias relativas a chumbos do Tribunal Constitucional e de algumas divergências na coligação entre PSD/CDS relativamente à condução dos destinos do país e a uma eventual remodelação, de 
que há tanto se fala.

Como diz o outro, começou a cheirar a poder. O cheiro, e o poder, agitaram o PS. E foi assim que todos apareceram outra vez. Rejuvenescidos mas nervosos, ansiosos com aquilo que o novo vento trará.

Mas Assis está posto de parte, Costa teve medo, Seguro não convence. Podemos dizer até que Soares, sim Mário Soares, está demasiadamente velho para trazer o poder ao PS, e vice-versa.

Sem alternativas internas, mas também sem alternativas para o país, é neste contexto que surge Sócrates, trocando os números, pensando que o tempo nos levou a memória.

Podem dizer que é candidato a candidato a Presidente da República. Para se desforrar de Cavaco, para se 
vingar de Passos Coelho, para se manter acima de qualquer pessoa que, com ele, tenha disputado o poder.

Posso não ser bruxo, mas antevejo que Sócrates não será Presidente da República. E está a consciencializar-se disso. A menos que o PSD apresente um candidato claramente perdedor, Sócrates nunca conseguirá os votos da esquerda. Da esquerda tradicional, a que vale entre 10 e 15% dos votos.

Sócrates está aí, está de volta. Diz que não tem planos, mas tem. Quer ter poder. E, parecendo-me difícil que encare a possibilidade de terminar a atividade política com uma derrota nas presidenciais, não me admiro que lhe passe pela cabeça chegar-se à frente, querendo conduzir o PS ao governo de Portugal.

Se é estranho, talvez seja. Mas não me parece que a ideia seja descabida, porque, olhando para as sondagens e para a realidade política atual, não há qualquer outro militante do PS que ofereça garantias aos portugueses.

Mas o PS quer poder. Quer muito o poder e quer muito poder. E, não restando mais ninguém, só há uma possibilidade nesta altura.

Ele está aí. Está de volta. É José Sócrates.

quarta-feira, 27 de março de 2013

A narrativa do costume



Dizer que o Governo anterior teve responsabilidade na situação do país é um embuste. Correu tudo bem. Até trouxe o IKEA e a Pescanova. O que seria do país, se não tivesse trazido? A responsabilidade, claro está, é da crise internacional. Da crise internacional e do al, ala, pronto, alargamento. Bem, já tinha sido há algum tempo, mas também terá sido responsável pelo facto de Portugal estar despreparado para combater a tal crise que veio de fora e que atacou cá dentro.

Envolvi o PSD. Falei na véspera. Informei. E isso não é envolver? Ou será que, para envolver, é preciso discutir? O PSD não aceitou porque não quis. Se tivesse querido o PEC IV, tudo iria resultar. Era só uma questão de fé. E muita gente não tinha fé.  

Austeridade? Aaaaa, hmmmm, aaaa, mistificação! Hmmm, já tinha o apoio de Bruxelas, o que mais poderia faltar? E em Espanha também resultou…

O Presidente teve deslealdade institucional. Foi outro ataque pessoal. E Cavaco não tem moral. Faz parte de um grupo de conspiradores. É inconcebível que tenha dito aos jovens para se manifestarem. E não tinha que informar o Presidente da República sobre o PEC IV. Aliás, o Presidente da República, como cidadão que é, teve conhecimento do PEC IV ao mesmo tempo que todos os portugueses.

Foi um tempo do oculto. E Cavaco era a mão escondida atrás dos arbustos. Era a face ocult, hmmm, aaaa, a mão oculta que nos levou para uma crise política. Demiti-me por vontade d…, hmmm, do Presidente da República.

Opus-me sempre ao pedido de ajuda internacional. Bom, foi eu que fiz o pedido de …, mas está tudo muito mal, mal, hmmm, mal contextualizado. Não, não, ouça, desculpe, tenho muito respeito por mim próprio, respeito o Teixeira dos Santos, vamos lá ver, eram tempos muito duros, eram momentos críticos em que se construíram soluções com os parceiros e fomos obrigados a pedir ajuda externa.

Fui o único que lutou contra o pedido de ajuda externa. (Pausa para um suspiro romântico. Continuação de pausa para quase deixar cair uma lágrima). Havia gente que clamava por ajuda externa, os banqueiros, outros membros do Governo, a oposição também. Fui o patriótico, que quis defender Portugal. Uma espécie de orgulhosamente só.

Desculpe, ele disse. Bom, desculpe. Deixe-me dar o meu ponto de vista. A barreira dos 7 por cento. Bem, desculpe. Dei, bom, deixe-me falar. Eu fui o único…há só um ponto…há…

Fomos obrigados a isso. Tomei consciência disso. Por amor de Deus. Bom, está bem. Foi com uma conversa. Desculpe, não compreendo essa obsessão pelos pequenos detalhes. Eu, na altura, fui forçado, consciencializei-me. É sabido que não gostei, mas reconheci que a minha luta chegou ao fim.

(Tempo para fazer perguntas, passar para o papel de entrevistador e entrevistado ao mesmo tempo. Monólogo. Não sabemos os resultados. Perguntemo-nos agora. Não valia a pena ter ousado lutar pelo país?)

E já que chegamos a este ponto, há outro embuste na narrativa que tem sido contada ao país. Não é verdade que estas medidas sejam resultado do memorando do governo anterior. Este governo faz o dobro do mal que negociei. Este governo não quer assumir as responsabilidades. Agora é que descobrem? Eles nunca aplicaram o meu memorando!

Se o caminho tinha sido delineado? Bom, desculpe, isso é um embuste. Oponho-me! Não havia o corte no 13º mês, o aumento do IVA e dos impostos. Havia metas? O memorando não tinha medidas orçamentais? Embuste! Oponho-me! O que eu acho é que estavam medidas. Posso-lhe dar uma? Bom, estavam várias…

Tempo para inglês técnico. A recessão em V. Gestos.

Vamos lá ver, se me pergunta uma coisa, deixe-me dar a resposta a outra pergunta (diferente daquela que fez). O país tem de parar com a austeridade! (Finge não ter ouvido a expressão “investimento público”). Parem de escavar! Parem com a austeridade. As metas? O memorando? Perguntou-me, desculpe, se nós continuarmos com o dobro da austeridade…

Veja os números. Não é esse ano, é o outro. 20, 30. Ouça, já lhe disse que não é esse ano. É o outro. Bom, mas a crise não é nesse ano. Duplicou?

Olhe, meu caro amigo, dá-me licença. Há um período antes da crise e outro depois da crise. Tenho ouvido essa narrativa. Subiram as dívidas de todos os países, a crise internacional. Bom, aaaa, digamos, hmmm, entre 2005 e 2008, bem, perdoe-me, entre 2005 e, bom, você está a comparar com esse ano? Desculpe! Isso é um embuste, estes números que lhe estou a dar estragam a sua narrativa!

Deixe-me comparar a despesa com a dívida e com o défice e, bom, ó amigo, deu no que deu, dê-me licença. Deixe-me retomar a pergunta que me colocou, não é essa, é a outra, deixe-me dizer o que se deve fazer!

Fiz o maior aumento de salários dos funcionários públicos da década, mas é fácil ver-se isso agora. Naquela altura, havia uma doutrina na Europa, havia uma crise enorme em todo o mundo. Resolvemos aumentar os salários no ano em que a crise bateu com estrond…sim, não tínhamos aumentado o salário nos anos anteriores, mas houve aumentos no petróleo, hmmm, aaa, as nossas expectativas, está bem, é mais fácil dizê-lo agora. É mesmo muito fácil falar depois. Se quiserem, o melhor é contratarmos bruxos.

Energias renováveis. Energias renováveis. Energias renováveis. Energias renováveis!! O maior crescimento da década! O país teve êxito, não entre o princípio e o fim do mandato, mas entre 3 dos 6 anos em que governei. Mas, ai, mas, desculpe, mas, é a minha tese …epá, desculpe, lembre-se do défice energético e o que você está a dizer, hmmm, não é possível comparar!

Quanto às PPP’s, desculpará, está aí uma história mal contada, outro embuste, esqueça essa narrativa. Eu na, na, na, não posso estar num debate. Os senhores comportem-se! Nas PPP’s…rodoviárias…temos 22, sou responsável por 8. Bom, na verdade, sou apenas responsáv…, desculpe, desculpe, está a mudar a narrativa, são encargos de apenas 19 mil milhões de euros. Apen…bom, foi apenas isso e você está equivocado.

Muita gente ficou a dever o seu emprego ao nosso programa de aguentar empregos. Bom, o erro mais visível, bom é mais fácil ver agora… Nunca deveria ter formado o segundo governo, minoritário. Se eu soubesse que iria haver uma crise nas dívidas soberanas, nunca teria formado gov…um governo minoritário.

Tempo para pose. Um pouco mais de pose. Postura melhorada. Sensação de sentido de Estado. É melhor não falar sobre cenários, sou apenas um ex-Primeiro-Ministro. Mudança de pose. Calimero. Pose de calimero. Pose de calimero preocupado. Quando eu falava, quando eu falava, quando eu falava, … Pose de determinação. Vítima. Calimero. Determinação.

Energias renováveis. Magalhães. Barragens. Novas oportunidades. Mas ninguém gosta?

Retórica. Retórica socrática. Filosofia. Dante. Onde é que está a esperança?

Tempo para falar da vida pessoal. Vitimização. Calúnia, calúnia, calúnia. Não tenho vida de luxo. Pedi um empréstimo à Caixa Geral para comprar um andar de luxo. Paguei. Pedi outro empréstimo ao mesmo banco para ir estudar para Paris sem estar a trabalhar. Desculpe, caro amigo, isso é ignóbil.

Lava-se roupa suja.

Acaba-se como se começou. Repete-se a palavra “liberdade”. E deixa-se, no ar, a sensação de que há mais narrativa para juntar à narrativa que se acaba de narrar, que não é mais do que a narrativa do costume.

Parte do país acredita, outra parte não acredita. E a maioria absoluta dos portugueses, enjoada, terminada que está a entrevista, pode, finalmente, vomitar!

sábado, 23 de março de 2013

Se quiseres, pode ser hoje!



Vai acontecer, porque tem de ser, e o que tem de ser tem muita força.
Se é para acontecer, pois que seja agora.
Quem decide é a vontade.
Seja agora. Que seja agora.
Saudações leoninas,

quinta-feira, 7 de março de 2013

Duas afirmações, uma pergunta

José Couceiro foi jogador, treinador-adjunto, treinador, director-desportivo, entre outras funções. Passou pelo Sporting, pelo Porto, pelo Alverca, entre outros clubes. Quantos títulos ganhou?

segunda-feira, 4 de março de 2013

Manifestando-me,


É verdade que estava muita gente, mas é mentira que tenham estado perto de um milhão de pessoas. O problema, que se realça, é que há gente, muita gente, que não foi à manifestação porque não pôde ir. O transporte sai caro, como caro também sai comer e beber num sábado em Lisboa, no Porto ou noutra cidade qualquer. Não tenho dúvidas de que boa parte das pessoas que censura as medidas deste Governo não foi à manifestação. Ficou em casa a fazer contas. Aos medicamentos, ao empréstimo, aos alimentos. A fazer contas à vida.
De qualquer forma, o que realço, também, é que não houve qualquer medida, qualquer alternativa, que tivesse saído das algumas centenas de milhar de pessoas que se manifestaram. Querem ter mais dinheiro, mas não sabem como. Querem outras medidas, mas não sabem quais. Querem fazer cair um governo, mas não sabem que outro o pode substituir.
Revejo-me em todas as frustrações dos manifestantes, partilho o mesmo sentimento de desentusiasmo, bem como as dúvidas. Mas não quero outro governo, não quero um programa de governo genericamente diferente do que está a ser implementado, não quero mudar por mudar, à pressa, e para qualquer outra coisa.
A verdade é clara. O país tem compromissos para cumprir e dívidas por liquidar. Tem de os cumprir, tem de as liquidar. A alternativa, que é aquela que indicam os manifestantes, é pior. É não pagar a dívida, como sugeria Sócrates numa conferência. É mandar embora a Troika. É mudar o governo.
O que significa isso?
Não pagar agora é não receber emprestado amanhã. E talvez valha a pena fazer o exercício de nos pormos no papel do credor, que emprestou mas precisa do dinheiro. Do dinheiro, e de todas as condições, em que acordou emprestar. As dívidas são para se gerir, mas têm de se pagar. Os compromissos, se é que os temos, são para se cumprir, como parte de bem, como pessoa de confiança.
Mandar a Troika embora, tal como sugerem os desempregados e pensionistas, é fazer com que, no dia 20 do mês seguinte, os funcionários públicos deixem de receber o seu salário. É deixar de pagar pensões. É, isso sim, enforcar, de vez, o Estado Social e as empresas, desde as pequenas e médias aos grandes grupos económicos.
Mudar o Governo, neste momento, só pode querer significar uma de duas coisas.
Uma, é dar a maioria absoluta ao PS, que nos desgovernou durante quase década e meia, com dois anos de interregno. É confiar naqueles que nos trouxeram até aqui, até ao memorando, até à perda de soberania, até às medidas que acordaram, passando pela fome por que passam milhões de pessoas que, por não ter dinheiro, nem sequer pode vir ao Terreiro do Paço cantar a música da revolução militar e, inerentemente, comunista.
A outra, é dar a maioria relativa ao PS. Que pode fazer com que o fenómeno italiano se verifique em Portugal, assumindo-se como um país ingovernável. Ou governável, caso o PS encontre parceiros de coligação, situação em que o Bloco de Esquerda seria chamado para funções executivas. Com todas as consequências que daí, necessariamente, advêm.
Digo, com tudo isto, que o protesto é legítimo. Digo, aliás, que também protesto. Pela pesada herança que o país me deixou. Pela castração dos sonhos. Pelo sacrifício e pelas contas que tenho de fazer. Mas o sentido de responsabilidade aborta qualquer ideia de que, neste momento, existam reais alternativas às deste governo. Não existem. Ou, se existem, são piores.
Com dificuldades, muitas dificuldades, espírito de sacrifício patriótico, mas com esperança, muita esperança, proponho que, coletivamente, nos nossos negócios, nas nossas empresas, na nossa vida, continuemos a puxar o país para a frente. Por Portugal e pelos portugueses. Sobretudo, pelos portugueses de amanhã. Dobraremos as Tormentas e transformá-la-emos em Boa Esperança.
Acredito muito nos portugueses e não tenho dúvidas de que, como sempre, vamos ser capazes.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A minha paixão egoísta pelo Sporting


Vivo o Sporting da mesma forma que vivo a vida. De forma apaixonada. Com uma paixão desinteressada, mas intensa. Penso, e sempre pensei, pela minha cabeça. E vivo o Sporting de uma forma exclusivamente pessoal e egoísta. Um golo sofrido é um murro no meu estômago. Um golo marcado é uma alegria demasiado grande para que não possa ser partilhada. 
A História do Clube, os títulos que ganhamos, os golos que marcamos não contribuem para mais do que para a minha vaidade pessoal. Ser do Sporting faz-me ser vaidoso. E a dimensão da História, que tomo como Herança, é de uma riqueza grande, mas tão grande, que se sobrepõe aos momentos pontuais em que o clube não é feliz.
Se estou preocupado com o futuro do Clube? Estou. Muito. Se acho que posso fazer alguma coisa para mudar? Posso. Aliás, sinto, até, que tenho ajudado com tudo aquilo que posso. Nos locais próprios. Junto das pessoas que têm responsabilidades.
Fui convidado para integrar uma lista ao Conselho Leonino. Não aceitei o convite por várias razões. Desde logo, não conhecia pessoalmente, nem as ideias, do cabeça-de-lista. Não era um lugar elegível. Não acredito no órgão. E sinto que a inexperiência e indisponibilidade temporal por motivos profissionais não fariam, de mim, uma mais-valia. Temos de reconhecer as nossas fragilidades.
De qualquer modo, e sempre dentro desta paixão fervorosa, razão desta taquicardia que me tira saúde e me dá enormes alegrias, vou votar nas eleições do próximo mês. Votarei, novamente, na mudança. Na ruptura. Votarei em quem for diferente de Godinho Lopes, de Bettencourt. Votarei para cortar com os tempos das falsas lendas. 
Por ser uma paixão egoísta, olho o Sporting como me olho a mim. E, se um dia morrer, quero morrer íntegro de carácter, fiel a quem sempre fui. Posso passar mal, mas não vendo a alma ao diabo, nem o corpo a quem dele quer usar e abusar. Viver calado, usado, injustiçado e conformado não é viver.
Não desejo isso do Sporting. Que não se ouve porque não fala. Que se prostitui de borla. Que vende o "carácter" centenário a troco de negócios pessoais. 
Como disse, olho o Sporting como me olho a mim. Desculpem-me por isso. Para o Sporting, eu quero o melhor. O melhor possível. E, se não aparecer ninguém melhor que Bruno de Carvalho, que me perdoem, mas votarei, sem complexos nem ilusões e de consciência tranquila, para que o Clube não cometa os erros que cometeu, induzido sistematicamente em erro, durante anos a mais. 
Votarei nele. Por egoísmo. Por amor ao Sporting.