quinta-feira, 19 de junho de 2014

A fotografia onde todos saem mal


Apesar de ser previsível, a partir de determinada altura, um avanço de Costa para a luta pelo poder no PS, ninguém poderia prever o que estava para acontecer na noite das eleições europeias.

Resumidamente, a coligação obteve o resultado que queria, uma derrota por margens mínimas. Seguro não teve a vitória inquestionável que sublinhou no seu embaraçoso discurso de vitória. Mas ninguém esperava que, após aquele discurso, e ainda na ressaca do que não deixou de ser uma vitória, Costa avançasse para, de imediato, tirar o tapete ao líder frouxo do PS.

Despistando a tempestade que abalou o Partido Socialista, a coligação seguiu entre os pingos da chuva, enquanto as diversas fações socialistas, alegremente, continuavam a disparar tiros nos próprios pés. E não houve ninguém, no PS, que tenha saído bem na fotografia.

Naquele domingo, a maioria dos portugueses considerava Costa como um homem capaz de gerar consensos. Contido nas contas, conseguia criar convergências na esquerda, arrastando, para si também, parte do centro-direita. Presidente de Câmara consensual, animal vencedor de eleições, a ideia que os portugueses tinham de Costa era de um homem que, internamente (no PS), sabia manter o seu lugar, leal a quem sempre foi dirigindo o partido, apesar de garantir uma certa independência política própria de quem tem um pensamento.

A partir da segunda-feira seguinte, ficou descoberta a outra face de Costa, homem que, afinal, tinha uma agenda própria. Estava apenas à procura do momento oportuno para tirar o tapete ao homem a quem, tempos antes, jurava lealdade. E tirou-o na pior altura, depois de uma vitória e na sequência do último ato eleitoral antes das legislativas que, apesar de eu não o desejar, poderem determinar a mudança de governo.

Seguro, frouxo, também saiu mal, principalmente após aquele discurso fora do tempo e da realidade. Deveria, logo ali, ter anunciado a realização de um Congresso extraordinário onde, depois do partido ter vencido todas as eleições que enfrentou, apresentaria, ao PS e aos portugueses, uma estratégia de governo para os próximos anos. Com isso, retiraria o espaço a Costa e criava, no PS e, talvez também, no país, um ambiente de mobilização em torno da mudança que Seguro iria liderar.

Com isto, o PS está a perder tempo. Entre congresso, diretas ou primárias, a coligação segue o seu caminho, já no pós-Troika, apenas com a oposição feroz de um Tribunal Constitucional que julga à luz de princípios abstratos de uma Constituição, há muito, ultrapassada.


Veremos como serão os próximos tempos e quais serão as cenas dos próximos episódios. Até lá, vamos ganhando certezas, pois, se Seguro não tinha ideias e era fraco, Lisboa continua cheia de buracos e de lixo por recolher, pelo que vai ganhando forma, junto dos portugueses, a ideia de que nem Costa nem Seguro nos oferecem garantias para governar. 

E é por isso que, em vez de estarem a fazer o retrato do país, continuam a tirar retratos um ao outro.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

A seleção, espelho de um país


Todos nós, nas nossas vidas, já tivemos derrotas com que não contávamos. Refiro-me às situações em que, apesar de estarmos bem preparados, entramos com o pé esquerdo e, na “hora h”, escorregamos e metemos a pata na poça. São coisas que acontecem, que custam a digerir, que nos tiram o sono e nos fazem ter outro tipo de preparação para os episódios seguintes das nossas vidas.

A derrota com a Alemanha custa ainda mais a digerir. E não pode haver bodes expiatórios quando foi evidente que todos estiveram a um nível inexplicavelmente baixo face aos mínimos que poderíamos expectar.
Analisadas bem as coisas, o que a seleção nacional fez naquele terrível jogo de segunda-feira foi espelhar, ao mais ínfimo pormenor, a verdadeira imagem do país. Portugal é aquilo. E não me refiro apenas à falência de uma lógica de mais do mesmo.

Comecemos pelo princípio. A fase de apuramento tinha sido muito turbulenta. E a escolha dos vinte e três retrata, na perfeição, o que está a matar boa parte das empresas portuguesas. Os jovens talentos foram preteridos. As ultrapassadas e influentes velhas guardas continuam presentes, mas escondidas, simplesmente à caça dos prémios. A estes somam-se dois ou três atletas com valor duvidoso, que estão apenas para picar o ponto e fazer número.

O chefe, mister Bento, é, mais do que os 23, o elo mais fraco. Esconde-se, não dá o corpo às balas e desresponsabiliza-se, como se tivesse feito o que podia. Com medo de inovar e de impor um espírito ganhador e de equipa, já tem o que queria. Refiro-me ao seu contrato, milionário.

Por uma questão de respeito, delicadeza e educação, não vou referir-me aos que estão acima de Bento e que chegaram às funções da forma que é pública. Digo apenas que são responsáveis pela escolha de Bento (que, olhando para o seu contrato, está para ficar), dos vinte e três e do descalabro anunciado que ocorreu no jogo contra a Alemanha.

É tudo muito fraquinho. É o que é. Mas o que, de diferente, poderíamos esperar? Que a coqueluche levasse a equipa às costas? Que o guarda-redes nos defendesse de todos os erros? Além dos jornalistas e dos vendedores de ilusões, só um tarado poderia exigir isso.


Esta seleção leva, ao Brasil, o retrato do que Portugal é hoje, dando, por isso, uma ideia de mediocridade.  Mas oxalá que, na seleção, tal como no país, os poucos que têm valor saibam ser profissionais e deixem, pelo menos, uma imagem digna, não daquilo que somos, mas do que poderíamos ser.