Apesar de ser previsível, a
partir de determinada altura, um avanço de Costa para a luta pelo poder no PS,
ninguém poderia prever o que estava para acontecer na noite das eleições
europeias.
Resumidamente, a coligação obteve
o resultado que queria, uma derrota por margens mínimas. Seguro não teve a
vitória inquestionável que sublinhou no seu embaraçoso discurso de vitória. Mas
ninguém esperava que, após aquele discurso, e ainda na ressaca do que não
deixou de ser uma vitória, Costa avançasse para, de imediato, tirar o tapete ao
líder frouxo do PS.
Despistando a tempestade que
abalou o Partido Socialista, a coligação seguiu entre os pingos da chuva,
enquanto as diversas fações socialistas, alegremente, continuavam a disparar
tiros nos próprios pés. E não houve ninguém, no PS, que tenha saído bem na
fotografia.
Naquele domingo, a maioria dos
portugueses considerava Costa como um homem capaz de gerar consensos. Contido
nas contas, conseguia criar convergências na esquerda, arrastando, para si
também, parte do centro-direita. Presidente de Câmara consensual, animal
vencedor de eleições, a ideia que os portugueses tinham de Costa era de um
homem que, internamente (no PS), sabia manter o seu lugar, leal a quem sempre
foi dirigindo o partido, apesar de garantir uma certa independência política
própria de quem tem um pensamento.
A partir da segunda-feira
seguinte, ficou descoberta a outra face de Costa, homem que, afinal, tinha uma
agenda própria. Estava apenas à procura do momento oportuno para tirar o tapete
ao homem a quem, tempos antes, jurava lealdade. E tirou-o na pior altura,
depois de uma vitória e na sequência do último ato eleitoral antes das
legislativas que, apesar de eu não o desejar, poderem determinar a mudança de
governo.
Seguro, frouxo, também saiu mal,
principalmente após aquele discurso fora do tempo e da realidade. Deveria, logo
ali, ter anunciado a realização de um Congresso extraordinário onde, depois do
partido ter vencido todas as eleições que enfrentou, apresentaria, ao PS e aos portugueses,
uma estratégia de governo para os próximos anos. Com isso, retiraria o espaço a
Costa e criava, no PS e, talvez também, no país, um ambiente de mobilização em
torno da mudança que Seguro iria liderar.
Com isto, o PS está a perder
tempo. Entre congresso, diretas ou primárias, a coligação segue o seu caminho,
já no pós-Troika, apenas com a oposição feroz de um Tribunal Constitucional que
julga à luz de princípios abstratos de uma Constituição, há muito,
ultrapassada.
Veremos como serão os próximos
tempos e quais serão as cenas dos próximos episódios. Até lá, vamos ganhando
certezas, pois, se Seguro não tinha ideias e era fraco, Lisboa continua cheia
de buracos e de lixo por recolher, pelo que vai ganhando forma, junto dos
portugueses, a ideia de que nem Costa nem Seguro nos oferecem garantias para
governar.
E é por isso que, em vez de estarem a fazer o retrato do país, continuam a tirar retratos um ao outro.