sábado, 15 de junho de 2013

O circo que cheira a fruta


Há quem pense que as migalhas tiram a fome, que o circo, quando montado, desconcentra o povo e que, para que o circo possa entreter seja forçosamente necessário haver palhaços.
A questão é que só é palhaço quem quer, que a vida não pode ser só circo e que é muito mais provável que, à fome, morra a cigarra cantadeira que a formiga trabalhadora e silenciosa.
Querem fazer com que o Presidente do Sporting seja visto como um Vale e Azevedo, pensando que os benfiquistas se confortam com esse facto, aliado ao lugar que o Sporting obteve na época que terminou. Não vale a pena tentarem fazer isso. O Sporting já teve o seu Vale e Azevedo. Ou até teve vários. Cometeram loucuras financeiras, desconhecendo a mística que identifica o clube e o distingue dos outros. Estiveram no Sporting, não para ajudar o clube, mas para se governar, a si e aos seus, em lógicas de compadrios (a que, educadamente, alguns quiseram chamar de reinado).
Querem, também, pisar o Sporting, algo típico daqueles burgessos do FC Porto, clube que teve décadas de vitórias desportivas que nós, sportinguistas, não reconhecemos por não terem sido obtidas com mérito.
É verdade. O Sporting, no tempo dos Vale e Azevedos, fez maus negócios com o FC Porto. Esses negócios fazem parte de uma história que nos envergonha, mas que está ultrapassada e perfeitamente enterrada. 
O Sporting voltou a ser o que sempre quis ser desde 1906, pioneiro na luta pela verdade desportiva. Nesse sentido, não temos relação com o clube da fruta, assumindo, porém, a fraqueza, por não termos capacidade de conviver saudavelmente com gente deseducada, filha da podridão e do dinheiro, sem qualquer tipo de categoria e carácter.
Não queiram, porém, fazer esquecer que, no momento do desentendimento público, se realizou uma final entre equipas dos dois clubes. Mandaram-nos passear. Chamaram-nos bananas. Perderam. E, no que depender de nós e do nosso trabalho, sem fruta nem chocolate, vão mesmo ter de se habituar a perder.
Quiseram dar uma bicada, como se fossem abutres, dizendo que se reforçaram com um jogador da cantera. Como foi que disseram? Um dispensado que fez alguns jogos de juniores e uma série de jogos na equipa B que não se contam com dedos de mais de uma mão?
Que vão passear. Que se divirtam com os milhões. Que continuem a esbanjá-los em jogadores da nossa formação e a pagar favores, a árbitros, empresários e prostitutas!
Se querem que o circo continue, pois então que prossiga o espectáculo. Mas substitua-se o palhaço. Ponham, nesse papel, o homem dos gases, o tal papa das brasileiras, o bimbo cujas chamadas telefónicas a deturpar a veracidade no desporto chegam, diariamente, a nossa casa através do novo canal do Correio da Manhã!
Já não se aguentam as historietas compradas dos pasquins que muita gente ainda compra ao engano, escritas por gente que, por estarem entre o homem e o animal, não sabe para mais do que para escrever a história da carochinha.
A propósito destas imitações ranhosas das maravilhosas fábulas de La Fontaine, já enjoa o que se tem escrito sobre a constituição do plantel do Sporting para a próxima época. Por que não dizem que o treinador do Sporting era aquele que estava contratado (!) pelo FC Porto? 
Quanto ao defeso, admito que tenho as minhas expectativas, próprias de quem se revê numa lógica de premiar o profissionalismo dos atletas, mas também olha para a próxima época como um ponto de partida em que se deve jogar com jogadores próprios para fazer um campeonato que nos catapulte, de novo, para as grandes lides europeias.
Acho, por isso, que o Sporting deve vender jogadores. Entre Schaars, Rojo, Boulahrouz e Capel, acho que o Clube pode, e deve, fazer dinheiro. Acho, também, que Rui Patrício deve sair. Para seu bem. Merece lutar para ser campeão numa das melhores ligas do mundo. Admito a possibilidade de venda, mas admitiria também a possibilidade de ser emprestado, fazendo dinheiro com outros jogadores.
Preocupa-me, apenas, um jogador. Labyad. O talento deve valer mais do que o dinheiro. Deveria ficar.
Quanto a Bruma, é um talento, um craque em potência, para ser lançado, rentabilizado e, talvez depois, transferido. Estou certo de que será o que vai acontecer, independentemente do que for sendo escrito naquele desperdício de recursos a que, talvez apenas por cortesia, chamamos de jornais.
Ilori é outro nome, envolvido na mesma história, talvez por ser do mesmo empresário. O que se escreve dá jeito ao empresário, mas não interessa a mais ninguém, até porque Ilori, mesmo tendo apenas como concorrente o Nuno Reis e o Rojo, ou mesmo o Boulahrouz ou o Onyewu, que ainda pertencem ao clube, não seria titular de caras. Se não o é no Sporting, quem acredita que o seria num outro clube, de um outro campeonato, com um outro tipo de poderio financeiro neste momento?
De qualquer forma, parece-me que Ilori será, também, jogador para ficar, pelo que as páginas que se têm escrito sobre ele serão para guardar e utilizar, em estado de necessidade, quando faltarem acendalhas para a lareira que nos aquecerá no próximo inverno.
Não me parece, por isso, que os sportinguistas possam deixar de estar suficientemente entusiasmados. Não podemos negar as dificuldades com que vivemos, mas, pior do que não ter dificuldades, por muito grandes que sejam, é não viver. E, estando vivos, vale a pena fazê-lo de acordo com uma identidade centenária, confiando num Presidente que, não se deixando iludir, tem perfeita consciência de que, apesar da humildade e espírito trabalhador que nos caracteriza, no Sporting, temos a obrigação de pensar em grande. No mercado e na competição.
Para o ano, estamos de volta. Seremos nós, novamente. Com dificuldades acrescidas, por força dos tentáculos do polvo que tudo comanda. Mas não vamos competir em duelos de lama nem nos vamos bater apenas pela honra. Essa, por muito que nos queiram tirar, ficou eternamente gravada na nossa História. Vamos lutar para ganhar. Jogo a jogo. Com brio. 
Estão autorizados para continuar o circo. Mas não ousem sequer tentar domar os leões. Basta brincarem aos palhaços, às aves raras e amestradas, que assistência continua a aplaudir.
Pode ser que, um dia, caia a máscara, a corda estique demais e o artista caia no chão.
Pode ser que, um dia, a tenda venha abaixo. 
Saber esperar é sinal de sapiência.
Pois, então, aguardemos.
Viva o Sporting!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Todos com Passos Coelho


Pedro Passos Coelho, quando chegou a Primeiro-Ministro, fê-lo em circunstâncias adversas num ambiente em que se projetavam, logo aí, grandes dificuldades para os portugueses, com a quebra da atividade económica, com os portugueses obrigados a viver com a corda ao pescoço e com as empresas em sérias dificuldades para continuar a laborar. Esse cenário, que se antecipava com certezas absolutas na altura das últimas eleições legislativas, foi resultado de um redondo fracasso de intermináveis anos de governação socialista.
Os portugueses fazem, hoje, o seu balanço sobre a primeira metade do mandato deste governo de coligação, que, para muitos, não pode ser positivo tendo em conta que, para muitos cidadãos, não há, sequer, poder de compra. Nem muito, nem pouco. Contam-se os cêntimos para chegar até final do mês e será certamente curioso saber qual foi a percentagem de portugueses que viram o seu saldo bancário baixar para valores negativos.
Se, numa empresa, é possível que o ativo possa, momentaneamente, ser inferior ao passivo, sem que isso baste para pôr em causa a sua solvabilidade, o mesmo não se pode dizer para as famílias, que têm forçosamente de pagar as contas e ter, após esse pagamento, pelo menos uma margem mínima para poder sobreviver. 
Como jovem, licenciado, trabalhador por conta de outrem mas também por conta própria, como alguém que sempre olhou para Portugal como um país em crise, onde seria difícil reunir as mínimas e necessárias condições para poder construir uma vida sustentável, vejo que existem pontos deste governo que são positivos.
Independentemente do memorando, foi o Governo de Passos Coelho aquele que, após quase quarenta anos de democracia, pôs fim ao Estado Gordo, aquele que sustentou a geração que me antecedeu, aquele que todos viam como o guarda-chuva a que, gratuitamente, se recorria em casos de necessidade. 
Foi o Governo de Passos Coelho que olhou para o Estado Social com o intuito de o tornar sustentável, controlando custos, restringindo-o a funções básicas e constitucionais do Estado, salvaguardando a sua existência. 
Durante anos, referi-me a um país que teria de se fazer profundas alterações na sua estrutura, criando condições para que pudesse crescer. Falei de problemas como a desertificação do interior, a saturação das grandes cidades, facto que viciou a nossa economia. Novos serviços, demasiada competitividade, baixa exagerada dos preços, mas menos poder de compra, menos receitas, prejuízos, necessidade de despedir. Este flagelo urgia ser combatido e certo é o facto de que está mesmo a ser.
O tempo soube trazer um novo tipo de empreendedorismo. Este não é só o tempo para que aqueles que pouparam invistam. É também o tempo dos visionários, daqueles que conseguem ver novos modelos de negócios e dos que, não se encaixando nesse perfil nem tendo trabalho, possam rumar a novos espaços do país, reabitando-os, cultivando as terras, criando gado, invertendo o ciclo que parecia estar a levar o país rural para um buraco sem saída. 
Não conheci os governos antes daquele que foi liderado por Cavaco Silva, mas, entre aqueles que vi, não consigo lembrar-me de outro que, ainda para mais perante as circunstâncias com que se depara o Estado Português, tenha feito tanto no incentivo aos jovens ou novos agricultores.
O país está a assistir a um momento de viragem neste aspeto, que não pode ser apenas interpretado na mera lógica de combate à desertificação do interior. Relançar-se-á, a médio prazo, a economia local, contribuindo para o crescimento do produto interno produto, combatendo o desemprego e sustentando a balança comercial a favor do país.
Mais do que algumas reformas setoriais, Portugal tem assistido a uma verdadeira mudança de paradigmas. É um ciclo que se inverte.
No meu entendimento, parece-me que, no futuro próximo, nada fará baixar o desemprego. Pelo contrário. As empresas, sobretudo as grandes (que ainda têm lucros) estão cheias de gente com vícios, gente dos direitos adquiridos, que, por não contribuírem para a construção de riqueza, terão forçosamente de ser despedidas.
Esse fenómeno, que não tem que ver apenas e diretamente com o atual governo, ao qual já estamos a assistir – a que as empresas, com a natural falta de coragem para chamar os bois pelos nomes, têm chamado de reestruturações – tem ocorrido também na função pública, que, tantos anos depois, está verdadeiramente a ser reformada. E, neste aspeto, revejo-me integralmente na lógica de requalificação dos quadros, na tentativa de pôr fim à velha e viciada visão de funcionalismo público, bem como na tentativa de rescisão por mútuo acordo.
Enfim. Apesar de não haver ainda grandes resultados, por força da conjuntura, é inegável a ideia de que o atual governo está a levar a cabo reformas que são cruciais. O erro crasso deste governo prende-se com a política financeira, que está muito ligada ao memorado de assistência financeira assinado pelo governo anterior.
Parece-me evidente que não há país que resista a tanta austeridade, e a tanta austeridade durante tantos anos. Parece-me, também, que é inevitável fazer-se um acordo com os credores no sentido de permitir que, económica e financeiramente, o país possa recuperar, bem como outros países da União Europeia que passam por dificuldades semelhantes, facto que contribui para que o projeto europeu esteja a fracassar a olhos vistos.
Com esta carga fiscal, não há economia que possa funcionar. É preciso aliviá-la, criando, dessa forma, condições para que o país possa voltar a ser suficientemente aliciante até para que consiga captar investimento externo, muito necessário.
Nesse sentido, creio que é inevitável começar a romper com a política financeira de Gaspar, aproveitando-se a oportunidade para alterar o ministro das finanças e fazer uma remodelação governamental, não meramente cirúrgica, mas que permita dar um novo fôlego ao governo.
Estamos a meses de eleições autárquicas, que exigiam atenção acrescida, visto que muitos dos históricos autarcas do PSD não podem, do ponto de vista legal, voltar a recandidatar-se. O PSD, que tinha todo o tempo do mundo, não aproveitou o mesmo para se preparar devidamente para estas eleições.
Cometeu o erro de afrontar decisões judiciais apenas por ter uma interpretação diferente de uma lei que o próprio partido ajudou a fazer aprovar.
A meu ver, o PSD agiu mal. Este era o tempo para abrir o partido à sociedade civil, renovando os quadros e os candidatos ao poder local, criando ainda as condições necessárias para aquelas sucessões que, do ponto de vista da sociedade civil, pareciam naturais.
É inconcebível que o PSD tenha perdido a oportunidade de apoiar candidatos como Rui Moreira ao Porto ou Marco Almeida a Sintra. Foi um erro que, certamente, sairá muito caro ao partido, por serem candidaturas fortes que irão forçar a dispersão dos votos.
Concretamente, prefiro não me pronunciar sobre outras candidaturas, umas que são mais do mesmo, outras apenas tiros ao lado, sendo que as demais são autênticos tiros nos pés.
De qualquer forma, não podemos, como militantes do PPD/PSD que somos, dar como perdidas as próximas autárquicas, apesar da impopularidade do Governo e da falta de preparação do próximo ato eleitoral.
Numa altura de sacrifício nacional, chegou o momento de voltar a mobilizar os militantes, chamando, a esta onda de mobilização, o eleitorado social-democrata e cidadãos independentes.
Parece-me, por isso, que o PSD deveria fazer um Congresso antecipado, ou um ato institucional semelhante em que vários militantes pudessem participar, de forma a limpar a imagem, renovando-a, e chamando todos os militantes para o combate nesta hora difícil do país, mas, necessariamente, também, do partido.
Este é o momento do relançamento. Do arejamento. Do apelo à unidade, ao sentido patriótico e de Estado. Este é o momento de dar um novo e necessário alento a este governo.
Se não for agora, o PSD arrisca-se a discutir-se num momento em que, liderando um governo frágil, pode sair esmagado das autárquicas, entregando, ao fim de décadas, o poder local aos socialistas.
Num período crítico da vida deste governo, num momento em que o país enfrenta uma crise com precedentes distantes, Portugal não pode continuar a ter um PSD apagado e frouxo. Pelo contrário, exige-se um partido interventivo e impulsionador do movimento de mudança que se quer assistir no país, assumindo, todos os militantes, total solidariedade com o Primeiro-Ministro e a missão espinhosa que tem enquanto líder do Governo.