terça-feira, 2 de abril de 2013

O regresso de Sócrates




É importante que ninguém se deixe confundir pela forma cirúrgica com que Sócrates gere os números que lança em debates e entrevistas sobre o tempo que comandou os destinos do país.

Sócrates governou seis anos. Quatro deles, fê-lo com maioria absoluta. E foi ainda no período da sua maioria absoluta que entrou no período mais negro da sua governação. O PSD, na altura com Ferreira Leite, teve uma postura crítica, uma visão drástica da realidade que se estava a aproximar, apresentou alternativas. Sócrates foi a votos e ganhou. Mas perdeu a maioria absoluta.

Sócrates não quis coligar-se. Não quis fazer acordos parlamentares. Ignorou todos os partidos, fazendo fé no sentido de Estado que o PSD sempre soube preservar.

Porém, forçado pela conjuntura pela qual era o principal responsável, pediu ajuda externa. Aliás, para contarmos toda a história, é importante relembrar que apresentou um PEC. Apresentou dois. Apresentou três. Até ao dia em que, sucedendo-se um PEC atrás do outro, rompeu a cooperação até então mantida institucionalmente com o Presidente da República, apresentando um quarto PEC sem o ter, previamente, debatido com o PSD.

Sócrates não foi demitido. Demitiu-se. Recandidatou-se. Perdeu as eleições.

Demitiu-se, depois, da liderança do Partido Socialista, encarregando-se a sua ala de tentar mostrar sinais de vitalidade com a apresentação da candidatura de Francisco Assis com o apoio inequívoco de António Costa e de outros camaradas próximos de Sócrates.

Enquanto Sócrates governava, ou desgovernava, o país, Seguro ia fazendo o seu trabalho de casa. Presente como deputado na bancada socialista, tornou-se mais severo na forma como distanciou de Sócrates. Esteve com os militantes, somou apoios e, na hora do Congresso, abriu as portas aos socráticos que nunca o haviam apoiado.

Nessas circunstâncias, Seguro ganhou o PS.

Seguro, porém, não revelou a liderança que se lhe devia exigir. Mais morno, menos convicto. Desconhece-se qualquer faceta do seu carisma. Não descolou nas sondagens.

Entretanto, aparece Costa, o tal candidato natural de poder do partido do poder depois do poder de Sócrates. Pareço repetitivo. É poder, poder e poder. E é assim mesmo, ou não fosse o PS o grande partido do poder em Portugal.

Costa encolheu-se. Fez as contas. Seguro tinha o partido consigo. E aquele teve medo de perder. Disse que ia, recuou, voltou a dizer que ia, voltou a recuar. Se bem me lembro, ainda deu um tempo a Seguro. Mas, seguro com Seguro, o PS não deu qualquer importância a Costa.

Entretanto, há notícias relativas a chumbos do Tribunal Constitucional e de algumas divergências na coligação entre PSD/CDS relativamente à condução dos destinos do país e a uma eventual remodelação, de 
que há tanto se fala.

Como diz o outro, começou a cheirar a poder. O cheiro, e o poder, agitaram o PS. E foi assim que todos apareceram outra vez. Rejuvenescidos mas nervosos, ansiosos com aquilo que o novo vento trará.

Mas Assis está posto de parte, Costa teve medo, Seguro não convence. Podemos dizer até que Soares, sim Mário Soares, está demasiadamente velho para trazer o poder ao PS, e vice-versa.

Sem alternativas internas, mas também sem alternativas para o país, é neste contexto que surge Sócrates, trocando os números, pensando que o tempo nos levou a memória.

Podem dizer que é candidato a candidato a Presidente da República. Para se desforrar de Cavaco, para se 
vingar de Passos Coelho, para se manter acima de qualquer pessoa que, com ele, tenha disputado o poder.

Posso não ser bruxo, mas antevejo que Sócrates não será Presidente da República. E está a consciencializar-se disso. A menos que o PSD apresente um candidato claramente perdedor, Sócrates nunca conseguirá os votos da esquerda. Da esquerda tradicional, a que vale entre 10 e 15% dos votos.

Sócrates está aí, está de volta. Diz que não tem planos, mas tem. Quer ter poder. E, parecendo-me difícil que encare a possibilidade de terminar a atividade política com uma derrota nas presidenciais, não me admiro que lhe passe pela cabeça chegar-se à frente, querendo conduzir o PS ao governo de Portugal.

Se é estranho, talvez seja. Mas não me parece que a ideia seja descabida, porque, olhando para as sondagens e para a realidade política atual, não há qualquer outro militante do PS que ofereça garantias aos portugueses.

Mas o PS quer poder. Quer muito o poder e quer muito poder. E, não restando mais ninguém, só há uma possibilidade nesta altura.

Ele está aí. Está de volta. É José Sócrates.