quarta-feira, 27 de março de 2013

A narrativa do costume



Dizer que o Governo anterior teve responsabilidade na situação do país é um embuste. Correu tudo bem. Até trouxe o IKEA e a Pescanova. O que seria do país, se não tivesse trazido? A responsabilidade, claro está, é da crise internacional. Da crise internacional e do al, ala, pronto, alargamento. Bem, já tinha sido há algum tempo, mas também terá sido responsável pelo facto de Portugal estar despreparado para combater a tal crise que veio de fora e que atacou cá dentro.

Envolvi o PSD. Falei na véspera. Informei. E isso não é envolver? Ou será que, para envolver, é preciso discutir? O PSD não aceitou porque não quis. Se tivesse querido o PEC IV, tudo iria resultar. Era só uma questão de fé. E muita gente não tinha fé.  

Austeridade? Aaaaa, hmmmm, aaaa, mistificação! Hmmm, já tinha o apoio de Bruxelas, o que mais poderia faltar? E em Espanha também resultou…

O Presidente teve deslealdade institucional. Foi outro ataque pessoal. E Cavaco não tem moral. Faz parte de um grupo de conspiradores. É inconcebível que tenha dito aos jovens para se manifestarem. E não tinha que informar o Presidente da República sobre o PEC IV. Aliás, o Presidente da República, como cidadão que é, teve conhecimento do PEC IV ao mesmo tempo que todos os portugueses.

Foi um tempo do oculto. E Cavaco era a mão escondida atrás dos arbustos. Era a face ocult, hmmm, aaaa, a mão oculta que nos levou para uma crise política. Demiti-me por vontade d…, hmmm, do Presidente da República.

Opus-me sempre ao pedido de ajuda internacional. Bom, foi eu que fiz o pedido de …, mas está tudo muito mal, mal, hmmm, mal contextualizado. Não, não, ouça, desculpe, tenho muito respeito por mim próprio, respeito o Teixeira dos Santos, vamos lá ver, eram tempos muito duros, eram momentos críticos em que se construíram soluções com os parceiros e fomos obrigados a pedir ajuda externa.

Fui o único que lutou contra o pedido de ajuda externa. (Pausa para um suspiro romântico. Continuação de pausa para quase deixar cair uma lágrima). Havia gente que clamava por ajuda externa, os banqueiros, outros membros do Governo, a oposição também. Fui o patriótico, que quis defender Portugal. Uma espécie de orgulhosamente só.

Desculpe, ele disse. Bom, desculpe. Deixe-me dar o meu ponto de vista. A barreira dos 7 por cento. Bem, desculpe. Dei, bom, deixe-me falar. Eu fui o único…há só um ponto…há…

Fomos obrigados a isso. Tomei consciência disso. Por amor de Deus. Bom, está bem. Foi com uma conversa. Desculpe, não compreendo essa obsessão pelos pequenos detalhes. Eu, na altura, fui forçado, consciencializei-me. É sabido que não gostei, mas reconheci que a minha luta chegou ao fim.

(Tempo para fazer perguntas, passar para o papel de entrevistador e entrevistado ao mesmo tempo. Monólogo. Não sabemos os resultados. Perguntemo-nos agora. Não valia a pena ter ousado lutar pelo país?)

E já que chegamos a este ponto, há outro embuste na narrativa que tem sido contada ao país. Não é verdade que estas medidas sejam resultado do memorando do governo anterior. Este governo faz o dobro do mal que negociei. Este governo não quer assumir as responsabilidades. Agora é que descobrem? Eles nunca aplicaram o meu memorando!

Se o caminho tinha sido delineado? Bom, desculpe, isso é um embuste. Oponho-me! Não havia o corte no 13º mês, o aumento do IVA e dos impostos. Havia metas? O memorando não tinha medidas orçamentais? Embuste! Oponho-me! O que eu acho é que estavam medidas. Posso-lhe dar uma? Bom, estavam várias…

Tempo para inglês técnico. A recessão em V. Gestos.

Vamos lá ver, se me pergunta uma coisa, deixe-me dar a resposta a outra pergunta (diferente daquela que fez). O país tem de parar com a austeridade! (Finge não ter ouvido a expressão “investimento público”). Parem de escavar! Parem com a austeridade. As metas? O memorando? Perguntou-me, desculpe, se nós continuarmos com o dobro da austeridade…

Veja os números. Não é esse ano, é o outro. 20, 30. Ouça, já lhe disse que não é esse ano. É o outro. Bom, mas a crise não é nesse ano. Duplicou?

Olhe, meu caro amigo, dá-me licença. Há um período antes da crise e outro depois da crise. Tenho ouvido essa narrativa. Subiram as dívidas de todos os países, a crise internacional. Bom, aaaa, digamos, hmmm, entre 2005 e 2008, bem, perdoe-me, entre 2005 e, bom, você está a comparar com esse ano? Desculpe! Isso é um embuste, estes números que lhe estou a dar estragam a sua narrativa!

Deixe-me comparar a despesa com a dívida e com o défice e, bom, ó amigo, deu no que deu, dê-me licença. Deixe-me retomar a pergunta que me colocou, não é essa, é a outra, deixe-me dizer o que se deve fazer!

Fiz o maior aumento de salários dos funcionários públicos da década, mas é fácil ver-se isso agora. Naquela altura, havia uma doutrina na Europa, havia uma crise enorme em todo o mundo. Resolvemos aumentar os salários no ano em que a crise bateu com estrond…sim, não tínhamos aumentado o salário nos anos anteriores, mas houve aumentos no petróleo, hmmm, aaa, as nossas expectativas, está bem, é mais fácil dizê-lo agora. É mesmo muito fácil falar depois. Se quiserem, o melhor é contratarmos bruxos.

Energias renováveis. Energias renováveis. Energias renováveis. Energias renováveis!! O maior crescimento da década! O país teve êxito, não entre o princípio e o fim do mandato, mas entre 3 dos 6 anos em que governei. Mas, ai, mas, desculpe, mas, é a minha tese …epá, desculpe, lembre-se do défice energético e o que você está a dizer, hmmm, não é possível comparar!

Quanto às PPP’s, desculpará, está aí uma história mal contada, outro embuste, esqueça essa narrativa. Eu na, na, na, não posso estar num debate. Os senhores comportem-se! Nas PPP’s…rodoviárias…temos 22, sou responsável por 8. Bom, na verdade, sou apenas responsáv…, desculpe, desculpe, está a mudar a narrativa, são encargos de apenas 19 mil milhões de euros. Apen…bom, foi apenas isso e você está equivocado.

Muita gente ficou a dever o seu emprego ao nosso programa de aguentar empregos. Bom, o erro mais visível, bom é mais fácil ver agora… Nunca deveria ter formado o segundo governo, minoritário. Se eu soubesse que iria haver uma crise nas dívidas soberanas, nunca teria formado gov…um governo minoritário.

Tempo para pose. Um pouco mais de pose. Postura melhorada. Sensação de sentido de Estado. É melhor não falar sobre cenários, sou apenas um ex-Primeiro-Ministro. Mudança de pose. Calimero. Pose de calimero. Pose de calimero preocupado. Quando eu falava, quando eu falava, quando eu falava, … Pose de determinação. Vítima. Calimero. Determinação.

Energias renováveis. Magalhães. Barragens. Novas oportunidades. Mas ninguém gosta?

Retórica. Retórica socrática. Filosofia. Dante. Onde é que está a esperança?

Tempo para falar da vida pessoal. Vitimização. Calúnia, calúnia, calúnia. Não tenho vida de luxo. Pedi um empréstimo à Caixa Geral para comprar um andar de luxo. Paguei. Pedi outro empréstimo ao mesmo banco para ir estudar para Paris sem estar a trabalhar. Desculpe, caro amigo, isso é ignóbil.

Lava-se roupa suja.

Acaba-se como se começou. Repete-se a palavra “liberdade”. E deixa-se, no ar, a sensação de que há mais narrativa para juntar à narrativa que se acaba de narrar, que não é mais do que a narrativa do costume.

Parte do país acredita, outra parte não acredita. E a maioria absoluta dos portugueses, enjoada, terminada que está a entrevista, pode, finalmente, vomitar!

sábado, 23 de março de 2013

Se quiseres, pode ser hoje!



Vai acontecer, porque tem de ser, e o que tem de ser tem muita força.
Se é para acontecer, pois que seja agora.
Quem decide é a vontade.
Seja agora. Que seja agora.
Saudações leoninas,

quinta-feira, 7 de março de 2013

Duas afirmações, uma pergunta

José Couceiro foi jogador, treinador-adjunto, treinador, director-desportivo, entre outras funções. Passou pelo Sporting, pelo Porto, pelo Alverca, entre outros clubes. Quantos títulos ganhou?

segunda-feira, 4 de março de 2013

Manifestando-me,


É verdade que estava muita gente, mas é mentira que tenham estado perto de um milhão de pessoas. O problema, que se realça, é que há gente, muita gente, que não foi à manifestação porque não pôde ir. O transporte sai caro, como caro também sai comer e beber num sábado em Lisboa, no Porto ou noutra cidade qualquer. Não tenho dúvidas de que boa parte das pessoas que censura as medidas deste Governo não foi à manifestação. Ficou em casa a fazer contas. Aos medicamentos, ao empréstimo, aos alimentos. A fazer contas à vida.
De qualquer forma, o que realço, também, é que não houve qualquer medida, qualquer alternativa, que tivesse saído das algumas centenas de milhar de pessoas que se manifestaram. Querem ter mais dinheiro, mas não sabem como. Querem outras medidas, mas não sabem quais. Querem fazer cair um governo, mas não sabem que outro o pode substituir.
Revejo-me em todas as frustrações dos manifestantes, partilho o mesmo sentimento de desentusiasmo, bem como as dúvidas. Mas não quero outro governo, não quero um programa de governo genericamente diferente do que está a ser implementado, não quero mudar por mudar, à pressa, e para qualquer outra coisa.
A verdade é clara. O país tem compromissos para cumprir e dívidas por liquidar. Tem de os cumprir, tem de as liquidar. A alternativa, que é aquela que indicam os manifestantes, é pior. É não pagar a dívida, como sugeria Sócrates numa conferência. É mandar embora a Troika. É mudar o governo.
O que significa isso?
Não pagar agora é não receber emprestado amanhã. E talvez valha a pena fazer o exercício de nos pormos no papel do credor, que emprestou mas precisa do dinheiro. Do dinheiro, e de todas as condições, em que acordou emprestar. As dívidas são para se gerir, mas têm de se pagar. Os compromissos, se é que os temos, são para se cumprir, como parte de bem, como pessoa de confiança.
Mandar a Troika embora, tal como sugerem os desempregados e pensionistas, é fazer com que, no dia 20 do mês seguinte, os funcionários públicos deixem de receber o seu salário. É deixar de pagar pensões. É, isso sim, enforcar, de vez, o Estado Social e as empresas, desde as pequenas e médias aos grandes grupos económicos.
Mudar o Governo, neste momento, só pode querer significar uma de duas coisas.
Uma, é dar a maioria absoluta ao PS, que nos desgovernou durante quase década e meia, com dois anos de interregno. É confiar naqueles que nos trouxeram até aqui, até ao memorando, até à perda de soberania, até às medidas que acordaram, passando pela fome por que passam milhões de pessoas que, por não ter dinheiro, nem sequer pode vir ao Terreiro do Paço cantar a música da revolução militar e, inerentemente, comunista.
A outra, é dar a maioria relativa ao PS. Que pode fazer com que o fenómeno italiano se verifique em Portugal, assumindo-se como um país ingovernável. Ou governável, caso o PS encontre parceiros de coligação, situação em que o Bloco de Esquerda seria chamado para funções executivas. Com todas as consequências que daí, necessariamente, advêm.
Digo, com tudo isto, que o protesto é legítimo. Digo, aliás, que também protesto. Pela pesada herança que o país me deixou. Pela castração dos sonhos. Pelo sacrifício e pelas contas que tenho de fazer. Mas o sentido de responsabilidade aborta qualquer ideia de que, neste momento, existam reais alternativas às deste governo. Não existem. Ou, se existem, são piores.
Com dificuldades, muitas dificuldades, espírito de sacrifício patriótico, mas com esperança, muita esperança, proponho que, coletivamente, nos nossos negócios, nas nossas empresas, na nossa vida, continuemos a puxar o país para a frente. Por Portugal e pelos portugueses. Sobretudo, pelos portugueses de amanhã. Dobraremos as Tormentas e transformá-la-emos em Boa Esperança.
Acredito muito nos portugueses e não tenho dúvidas de que, como sempre, vamos ser capazes.