sexta-feira, 30 de março de 2012

Sim. Ficam coisas por dizer.


Sim. Ficam coisas por dizer. Não sei se a censura existe, mas há tentativas de condicionar o que dizemos. Por isso, este blogue tem em arquivo menos um texto do que aqueles que efectivamente publiquei. Mas isso não interessa. Não há problema. São coisas passadas, ultrapassadas, praticamente esquecidas. 
Quanto ao resto, gostaria de ter escrito aqui sobre o Congresso do PSD e, sobretudo, sobre o que dele sai. Gostaria de ter enaltecido o discurso de Pedro Pinto (ASD). Em tempos de austeridade e contestação, os líderes do partido não estavam ainda predispostos para discutir o futuro eleitoral. Mas o PSD precisa de preparar-se. Serão as autárquicas mais difíceis desde que tenho memória, realizadas num clima análogo ao que determinou a demissão de António Guterres. A lei impõe mudanças. Os cidadãos podem, esquecendo-se dos efeitos da política socrática, mostrar o seu descontentamento nessas eleições. É preciso escolher, escolher bem. E se, em casos como Cascais ou Sintra, o ambiente é bastante favorável, há que preparar os outros grandes combates, como Lisboa e Porto, mas também de outros concelhos, como o de Oeiras, onde vivo.
Gostaria, ainda empurrado pelo discurso de Pedro Pinto, de ter enaltecido a sua iniciativa de formar os candidatos a autarcas. Que só dá mais força à ideia de que é preciso que os militantes comecem a fazer as suas escolhas. Mas também gostaria de ter criticado a actuação cega do Tribunal de Contas que olha os autarcas como super-homens ou super-mulheres, responsabilizando-os financeiramente por, ao não quererem paralisar os seus concelhos, se basearem em indicações dos serviços.
Gostaria ainda de ter escrito sobre a viagem que fiz a Paris. Tentei. Mas ao lembrar-me da vista que se tem sobre a cidade, da Torre Eiffel ou da Sacre Coeur, as palavras faltaram.
Gostaria de ter escrito sobre a importância de uma boa rede de metro, sobre a forma como deverá ser concebida (seja lá quando for) uma nova Feira Popular na Grande Lisboa e até sobre o terrorismo internacional. Tenho dúvidas, ainda que factualmente não comprovadas ou até mesmo não comprováveis, de que o combate ao terrorismo possa ser completamente eficaz na Europa, com a fácil e livre mobilidade de inimigos públicos.
Gostaria de ter escrito sobre o Bastonário da Ordem dos Advogados. Pelo que me foi dado a conhecer, numa sessão que aconteceu em Coimbra, mostrou estar em guerra aberta com a Ministra da Justiça. Mas com quem é que Marinho Pinto não está em guerra? A razão que tem, em algumas (poucas) coisas que diz, perde-a pela postura que adopta. É um entrave na harmonia que deve haver entre responsáveis pela Justiça. É um entrave para a Justiça. E o mais inacreditável, a meu ver, é que os advogados vão nisso.
Gostaria de ter escrito sobre a Repsol de Miraflores/Algés. Os funcionários da caixa são deficientes motores. Ir ali abastecer o carro ou comprar alguma coisa de última hora é uma alegria. Somos contagiados pela boa disposição desses funcionários. E o emprego dado a essas pessoas contraria todos os preconceitos. Reconforta-me saber que, ao fim da rua, a ideia de que o mundo é para todos, e que todos temos uma função a desempenhar, tem sentido prático.
Gostaria e ter escrito. Mas eram temas a mais para tempo a menos. E, na verdade, é bem melhor que seja assim. Porque escrever aqui não é obrigação. E o facto de não o ser torna o blogue mais arejado, tal e qual quero que o vejo. Que assim continue a ser.
Para já, o que digo é que, consagrados na Constituição da República, o repouso e os lazeres são direitos que temos. Resolvi exercê-los. Em Palma de Maiorca, La Valletta, Veneza, Ljubljana e Milão.Volto no Domingo de Páscoa.
Até lá, e apesar de reconhecer que a missão é de extrema dificuldade, o que eu gostaria de dizer aqui no dia 5 de Abril é que um dia, eu tive um sonho.
Sonhem. Trabalhem. Ou descansem para recuperar forças. E tenham uma Santa Páscoa, em família. É isso que eu desejo.

quinta-feira, 29 de março de 2012

quarta-feira, 28 de março de 2012

Nas rádios, tanto tempo depois

A SIC, com o programa Ídolos, faz aquilo que pode para divulgar boas músicas, ou boas canções, portuguesas. 
Depois de, no passado fim-de-semana, um concorrente ter cantado o "Anda Comigo Ver os Aviões", essa música começou a passar nas rádios.
É curioso que essa música, apesar de noutra versão (dos Azeitonas), já tinha sido divulgada neste blogue. Foi no dia 30 de Outubro de 2009 e depois de a ter ouvido cantada ao vivo e a solo no Santiago Alquimista, aqui em Lisboa. Pode confirmar clicando aqui.
Isto apenas para dizer que o Estado e as rádios não estão a cumprir o papel que devem ter na defesa e promoção da música portuguesa, que, sendo boa, deveria ser muito mais apoiada num apoio sem custos e que, por consequência, poderia até dar um contributo razoável para melhorar a economia do nosso país.
Os artistas nacionais têm demasiado valor para que as suas obras sejam apenas conhecidas por pequenos públicos. E a música portuguesa não pode continuar a ser conhecida e divulgada nesta estratégia do "passa a palavra".

Tudo é possível.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Fernando Fernandes

Neste dia, há 18 anos, o Fernando Fernandes defrontou o detentor do título mundial Mustapha Oumrani. Foi o combate final, em que se decidia quem seria o Campeão do Mundo de Kickboxing. O Fernando ganhou. Foi campeão do mundo, título que conquistou ao serviço do Sporting, na saudosa Nave de Alvalade, onde estavam 1500 adeptos. Foi um título mundial, que se juntou a vários titulos europeus e nacionais ganhos pelo Fernando ao serviço do Sporting.
Se alguém que estiver a ler este texto esteja ou estiver com a minha mãe durante o dia de hoje, peço que lhe contem esta história. Vai achar piada. Para os outros, esta é apenas uma homenagem a um verdadeiro lutador, responsável por alguns dos perto de quinze mil títulos, nacionais, europeus, mundiais (sem contar com os olímpicos) conquistados por atletas do Sporting ao serviço da maior potência desportiva nacional.
Esforço, Dedicação, Devoção e Glória. Que grande, grande Clube!

Bruno Paixão teve nota positiva

No Gil-Sporting, do passado dia 19. Não é preciso dizer mais nada.

domingo, 25 de março de 2012

Dá que pensar.

Entre 2007 e 2009, o Estado Português, segundo o Tribunal de Contas, fez pagamentos ilegais de centenas de milhões de euros. Esse é o mesmo Estado que não tem um cêntimo para ajudar os agricultores, num apoio que é estratégico para o presente e futuro do país, em tempos de seca extrema.  E antecipar apoios, na minha opinião, não é ajudar.

O Feirense

A maior injustiça que as classificações dos campeonatos fazem é não deixar registado o carácter de equipas que, por força de uma classificação inferior, perdem o direito legítimo a um lugar na história do futebol português.
Com a derrota em Alvalade, com um jogo a mais e a três pontos de saír da linha de água, a tarefa do Feirense complicou-se. Apesar de ser sportinguista e de não ter qualquer relação com Santa Maria da Feira, a maior injustiça que poderia fazer aos jogadores, funcionários e adeptos do Feirense seria ficar em silêncio numa altura em que as contas estão muito difíceis.
Para o Sporting, é praticamente indiferente, face às circunstâncias, ficar no quarto ou no quinto lugar. Os três primeiros merecem o lugar que ocupam e o o quarto ou o quinto lugar têm, na prática, as mesmas consequências ao nível do que interessa, que é a participação nas competições europeias.
Para o Feirense, a história é diferente. Diferente e injusta. Porque o Feirense foi sempre, ao longo deste campeonato, uma equipa que acrescentou vivacidade e competitividade aos jogos, com exibições cheias de carácter, de uma equipa que sempre soube o que fez, constituída por jogadores que, alguns deles, irão dar que falar e por um treinador que, com grande percepção do jogo e honestidade, foi, apesar da classificação, uma surpresa agradável que arejou a Primeira Liga Portuguesa.
Para sermos totalmente justos, temos de reconhecer que o Feirense foi uma das equipas mais fustigadas pelas arbitragens miseráveis que caracterizam o nosso campeonato. Ainda ontem, em Alvalade, com vários amarelos que os árbitros só têm coragem de exibir a jogadores com a humildade dos jogadores do Feirense, isso se reflectiu.
A honestidade face ao jogo, a humildade na hora de enfrentar os desafios mais difíceis, a forma briosa com que se bateram em todos os jogos fazem com que o Feirense mereça, também, estar na próxima temporada entre os grandes.
É por essas razões que, no que respeita à luta contra a despromoção em Portugal, este ano, eu torço pelo Feirense.

sábado, 24 de março de 2012

quinta-feira, 22 de março de 2012

Do referendo na Suíça à greve em Portugal

Apesar de não ter tido grande destaque nas notícias portuguesas, realizou-se um referendo na Suíça sobre as férias. Perguntou-se, aos cidadãos, se queriam ter mais férias, aumentando-se, em 50%, as férias dos trabalhadores. Os suíços disseram que não. 
Eu sei bem em que sentido votariam os portugueses (nomeadamente os grevistas de hoje) num referendo deste género. A sério que sei bem. 
É por isso que este texto não poderia acabar de outra forma.
Meus caros amigos, não tenham ideias.
Respeitem quem não tem trabalho, quem não tem perspectivas de o ter (pelo menos cá), quem trabalha 7 dias por semana, quem trabalha muito mais que as 8 horas por dia.
Tenham respeito por Portugal.
Vão trabalhar!

Como as coisas funcionam

Num treino de uma determinada equipa portuguesa, dois jogadores pegaram-se e agrediram-se. A notícia foi divulgada por apenas um meio de comunicação. Minutos depois, o site onde aparecia a notícia ficou, subitamente, offline. O site voltou, mas a notícia é a que está em baixo de todas as outras. Agora fala na existência de versões e, em vez de dizer o que factualmente aconteceu, já apenas se refere aos factos como factos que "alegadamente" podem ter ocorrido.
Nem o site nem o jornal são propriedade de qualquer clube. As coisas apagaram-se. O próprio site apagou-se. E, depois, a notícia surgiu de outra forma. 
Se isto é assim no futebol por causa de coisas que são indiferentes aos olhos dos portugueses, nem quero imaginar o que será que acontece quando se trata de assuntos sérios. Que, muitos deles, são muito levianamente trazidos para primeiras páginas.
É assim que as coisas funcionam. E o jornalismo português já teve melhores dias.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Greve?


Querem salário, mas não querem ter trabalho.
Querem que o país avance, mas não querem sacrifícios.
Antes disso, querem os privilégios. A juntar aos privilégios que foram somando ao longo de uma vida em que que, continuamente, o país foi sempre andando para trás.
Os sacrifícios que fiquem para os outros. Para os que trabalham mais, para os que nunca tiveram regalias, para os que nunca puderam poupar, para os que não conseguem ter trabalho.
Eu sei que a greve é um direito, que é inalienável. Sei isso tudo.
Mas também temos, sobretudo os mais novos, um direito à indignação que queremos exercer.
Exerço-o agora.
Somos um país cheio de História e Heróis. Que recordamos e homenageamos porque, é por causa deles, que somos grandes.
Mas também somos um país de gente que nunca trabalhou, que nunca quis trabalhar, que não viu a relação laboral como um sinalagma em que ao salário se devia fazer corresponder o trabalho. 
Estes também devem ser recordados. Porque foram eles que votaram, foram eles que fizeram e não fizeram, foram eles que viveram acima das possibilidades que o país lhes podia oferecer. É por causa deles que estamos onde estamos.
Greve? Porque não souberam poupar? Porque viveram acima daquilo que podiam? Porque não foram inteligentes? 
Greve? À custa do país? Dos jovens que não têm trabalho? Dos horizontes que deixámos de ter? 
Greve? Quando há gente que, por causa desses que pedem regalias em vez de trabalhar, passa fome no país?
Quem quer ficar, que trabalhe. E quem está mal, pois então que se mude.
Fazer greve, numa altura destas, já deixou de ser o exercício de um direito. É uma traição a Portugal e aos portugueses.
Amanhã é quinta-feira. É dia de trabalho. E todos vamos trabalhar. Para puxar o país para a frente. 
Vamos mostrar do que somos feitos. E vamos conseguir.
Custe o que custar!

Os maridos das outras

sábado, 17 de março de 2012

Um dia, eu tive um sonho.


Os holofotes acendem-se. A curva, unida como há muito não se via, já está pronta para a missão impossível. O hino da competição começa a tocar e entram em campo os onze herdeiros da esperança, honrosamente vestidos de verde e branco. O mundo divide a sua atenção entre os milionários de Manchester e os guerreiros de Lisboa num jogo dos milhões contra o trabalho, da arrogância contra a humildade, do dinheiro contra a história, mas dos onze contra onze.
Depois de Figo e Ronaldo, da noite épica de Alkmaar, entra tantas outras mais, eis que surgem os leões de Lisboa, uma vez mais, para concretizar o Sonho que os fundou. Ser grande, tão grande, como os maiores da Europa.
Com uma vantagem mínima, Portugal e o mundo tinham curiosidade para ver a reacção dos leões. A expectativa, deva-se dizê-lo, era a de que, em poucos minutos, um Sporting com dois autocarros à frente da baliza estivesse apenas e já a lutar por uma questão de honra. Na verdade, todos tinham dúvidas sobre as nossas capacidades. Todos menos nós. Porque não desistimos.
O medo de perder foi substituído por uma enorme vontade de ganhar. Fomos, desde o início, para cima deles. Com respeito, porque o que lhes custou um dos avançados é idêntico ao valor do orçamento anual da nossa equipa, mas com vontade, com garra e gana de dar sentido ao Sonho, de dar asas à Esperança, de concretizar aquilo que serviu de razão para fundar o Sporting.
A primeira parte teve sentido único. Além de um golão de um mágico chileno e do sentido de oportunidade do Ricky, houve um penalty por marcar, além de duas outras situações de perigo.
Ao intervalo, comentei que o jogo não estava acabado. Nem teria sentido, se estivesse. Porque ganhar sem sofrer é como pão sem sal. Aguentámo-nos. Aguentaram-se os jogadores, que apenas cometeram três erros. Aguentámo-nos nós. Que sentíamos o coração a bater forte. Mas conseguimos.
No último segundo, num lance que guardaremos nas nossas memórias, o melhor guarda-redes do mundo teve reflexos e frieza para desviar uma bola que vinha directamente da cabeça do guarda-redes internacional inglês para a nossa baliza. Foi por milímetros. Mas foi ao lado.
A vitória impossível aconteceu. Esta foi uma das noites em que o Sonho, o Sonho Sporting, se concretizou. Com sorte, porque a sorte protege os audazes. Mas por força do trabalho, inteligência e raça que Sá Pinto incutiu nos jogadores.
Foi uma noite absolutamente memorável. Que fez por merecer que a noite de Lisboa ficasse preenchida de cachecóis do Sporting. E que exigiu a recepção apoteótica no aeroporto, onde estive. Com milhares de pessoas que esperaram durante várias horas, festejou-se o Sporting e o feito que acabara de alcançar.
Sporting. Lisboa. Portugal. Além de já saberem quem somos, já não nos esquecem.
E nós não vamos esquecer a noite de quinta-feira, celebrada com grande entusiasmo por uma massa associativa apaixonada. Mais do que ter ficado registada nas câmeras e nos telemóveis de adeptos e jogadores, o que vivemos ontem ficará guardado na nossa memória.
É por isto que valeu a pena ter escolhido ser diferente e ser do diferente. Vale a pena ser do Sporting. Vale mesmo a pena. E isto, isto é que é o Sporting!
Estamos vivos. Não temos medo. Não desistimos. Porque, herdeiros de José de Alvalade, nós temos um Sonho, tudo fazemos para o tornar real, participamos empenhadamente e apoiamos em todas as circunstâncias.
E há dias em que os sonhos acontecem.
A História faz-se. E, se a esperança existe e o Sporting vive, então, a lenda continua…

quinta-feira, 15 de março de 2012

quinta-feira, 8 de março de 2012

sábado, 3 de março de 2012

Votar em Passos Coelho

É normal que não haja grande mobilização do eleitorado quando, numa eleição, apenas existe um candidato. Passos Coelho, líder social-democrata, é Primeiro-Ministro. É candidato único nas eleições internas que hoje se realizam. Não tem, portanto, como não ganhar estas eleições.
Contudo, creio que seria significativo, se, nesta altura em que se tomam medidas difíceis, os militantes social-democratas comparecessem nas suas concelhias, votando em Passos Coelho. Comparecer em massa, mais do que conferir ainda mais legitimidade ao nosso líder, dá um sinal de força ao Governo maioritariamente suportado pelo nosso partido.
Mais do que nunca, é nesta altura que o nosso país precisa de nós. E nós estamos com Passos Coelho. Por Portugal. Custe o que custar.

Um só herói



José Mel Pérez é treinador de futebol há 14 anos. É treinador do Bétis e treinou sempre em Espanha. Nunca ganhou ao Barcelona. Será que isto quer dizer que, quando o Bétis joga contra o Barcelona, deve procurar outro treinador? Deverá, José Mel Pérez, tomar uma posição no sentido de não se sentar no banco quando o seu clube defrontar o Barcelona?
Perceberão bem o que quero dizer, onde quero chegar. Porque o Benfica já ganhou jogos arbitrados pelo Pedro Proença. Não consegue ganhar, com Pedro Proença a apitar, ao Porto. Mas aí a questão é diferente. Porque a questão que se coloca, ou devia colocar, é que o Benfica, com ou sem Proença, não consegue ganhar ao Porto. E essa é que é essa.
Claro que a equipa de arbitragem errou. Marcou faltas duvidosas que originaram lances decisivos, não marcou um penalty cometido por Cardozo, não assinalou um fora-de-jogo que acabou por ser fatal para o Benfica, apesar de milimétrico, porque Maicon se aproveitou da posição irregular para fazer o golo da vitória.
Mas o jogo que vi, apesar de ter sido um grande espectáculo, foi emotivo por força dos erros humanos de cada membro de cada uma das três equipas em campo. Cardozo fartou-se de errar, falhando golos dados. O primeiro golo do Porto resulta de um erro do lado esquerdo da defesa encarnada. Os dois golos do Benfica resultam de claríssimas falhas de marcação.
Erraram todos. Mas se ninguém errasse, o futebol não valia a pena, porque não havia golos. 
Parece-me claro que, depois de quatro desaires (Zenit, Vitória de Guimarães, Académica e FC Porto), os benfiquistas estão mais nervosos. É um nervosismo normal, porque, no último minuto, se comprometeu uma eliminatória europeia. Porque, com três jogos para a Liga, o Benfica deixa de ser o campeão anunciado para disputar momentaneamente, ombro com ombro com o Braga, o segundo lugar. Porque, uma época volvida desde o fracasso do ano passado, o Benfica apenas vê como possível a vitória na Taça da Liga. Que vai ser a sua Champions League. E onde, para mal das suas pretensões, vai ter de voltar a defrontar o FC Porto.
O que eu vi, do jogo de ontem, com a tranquilidade de quem olha por fora e sem desejar a vitória de qualquer das equipas, foi uma vitória inesperada de Vitor Pereira que tirou da cartola um James que tinha chegado ao estágio no próprio dia do jogo. Foi isso que deu a vitória ao FC Porto. E quem ganhou o jogo, mais do que Hulk ou James, foi Vitor Pereira. E Pinto da Costa, que foi o único que apostou neste treinador.
Jorge Jesus não deixa, na minha opinião, de ser o melhor treinador a treinar em Portugal. Falhou num jogo. Mas esta foi sobretudo uma derrota colectiva. Aimar não apareceu. Emérson esteve sempre apagado. E o Benfica, à frente, era apenas Cardozo. Juntando-se a isso, Jesus foi ainda traído pelas lesões.
O Benfica só se pode queixar de si. Para dizer que deveria ter ganho o jogo, teria de ter tocado na bola nos primeiros vinte minutos. Teria de ter tido outra atitude nos últimos trinta. Porque, nessa altura, o Benfica não criou um único lance que lhe pudesse dar o empate. 
Posto isto, e sendo certo que não pode haver uma atitude com uns e outra atitude com outros, o que quero ver é a resposta que a Liga vai dar às declarações de Vieira e Jesus que são bem claras. Segundo eles, o Benfica foi prejudicado intencionalmente por Proença e pelo seu auxiliar. Para eles, o Benfica só perdeu por causa desses dois elementos. Que viram e não marcaram.
Este campeonato, que o Sporting perdeu em Dezembro, fica marcado pelas primeiras jornadas, em que, a juntar-se à falta de entrosamento entre os jogadores do Sporting, os árbitros erraram em alturas fulcrais, em prejuízo do Sporting. Godinho Lopes referiu-se, indirectamente, a esse factor. E a resposta foi clara: o árbitro nomeado recusou-se a apitar o Sporting em Aveiro. E todos os seus colegas, no corporativismo que lhes é conhecido, recusaram-se a apitar esse jogo.
Foi em Portugal, e já no século XXI, que, se não tivesse havido um árbitro dos distritais, se corria o risco de ver o jogo ser apitado por um adepto.
Para bem do nosso futebol, espero que isso não aconteça nunca mais. Mas tudo fica registado. O que disse, o que se fez para uns. O que se disse, o que se fará para outros.
Pedro Proença, o único português que está entre os 12 nomeados para o Euro, não deixa de ser o melhor árbitro português por força dos erros do seu auxiliar.
Não foi Proença que derrotou o Benfica em Guimarães. Não foi Proença que derrotou o Benfica em São Petersburgo. Não foi Proença que empatou o Benfica em Coimbra. Não foi Proença que derrotou o Benfica ontem. Não foi Proença que deu os 49 pontos que o Porto tinha à partida para este jogo.
Jorge Jesus não deixa de ser o melhor treinador a orientar uma equipa portuguesa nem um dos que mais admiro. O Benfica de Jesus é o melhor dos últimos 20 anos. Mas não perderia nada, o treinador do Benfica, se optasse por se concentrar apenas na sua equipa. Tendo em conta que o FC Porto tem um calendário muito difícil, Jesus, concentrando-se exclusivamente na sua equipa, poderá continuar a ter boas possibilidades de sair do Benfica, no fim desta época, com o título de campeão nacional. É que, ao contrário do ano passado, a luz ainda não se apagou e continua a haver muito campeonato para jogar.
Que assim seja, para bem da emoção e do entretenimento que nós, portugueses, procuramos no futebol.
E, voltando ao jogo, Proença acertou muito mais do que errou. Não merece que a sua honorabilidade seja posta em causa numa acusação pública e gratuita que incendeia ânimos e que provoca factos que são estranhos ao futebol, como aquele que ocorreu no Colombo, quando Pedro Proença foi agredido por um adepto do Benfica.
Pode não arbitrar mais jogos do Benfica. Mas isso tira a credibilidade ao campeonato. Se os jogos do Benfica forem sempre arbitrados por quem o Benfica quer (como o árbitro Capela), o Benfica era campeão só com vitórias. Todos já sabemos isso.
Quanto ao resto, que é o que verdadeiramente interessa, mas mantendo-nos nos erros, Jesus errou mais que Vitor Pereira. Essa é a verdadeira notícia. Mais ainda porque ninguém a esperava. Por isso, o FC Porto ganhou. E Vitor Pereira é o único herói, o herói improvável, de mais um episódio insólito do futebol português.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Anestesia geral


Depois de seis dias no estrangeiro, desligado do que se passava em Portugal, depois de aterrar, de chegar a casa, jantar e ver a parte final do Polónia-Portugal, começo a ver o telejornal e ouço o Procurador-Geral da República dizer que não vai ao Congresso dos Magistrados do Ministério Público porque não pode.
Na notícia seguinte aparece a Procuradora do Ministério Público, que interrogou o homicida de Beja, completamente tranquila a dizer que não ficou surpreendida com o suicídio deste .
Mais adiante, surge João Moutinho, sobre o jogo da selecção nacional, a dizer que não sabe o que correu mal na segunda parte do jogo da selecção porque já não estava em campo, esteve a maior parte desse tempo no balneário e não viu sequer o que se passou.
São três notícias. Ou três exemplos das notícias que passaram nos telejornais. E o mais grave é que parece que o país está anestesiado, como se tudo fosse normal.
É uma anestesia geral que acontece por força do exemplo que vem de cima. O que seria, se um português comum, o tal "homem médio" a que nos referimos frequentemente de uma perspectiva jurídica (e que somos quase todos), pudesse dizer que não ia a um evento onde deveria estar simplesmente porque não pode, mas que vão outros em seu lugar; que, num caso complexo na sua actividade pública e profissional, pudesse deixar de tomar as devidas providências para impedir que se realize a finalidade dessa mesma actividade; que, confrontado com mau desempenho do seu grupo de trabalho, atirasse as culpas para os outros?
O que seria? 
Mas há sempre uns que têm mais sorte que os outros. Aliás, é por esses "uns" que pagam os outros, tal e qual como se aprende na escola, a mesma escola que forma miúdos que, em tempo útil, fogem a esta falsa democracia, a este Estado de Direito da Treta e a esta República das Bananas, a que, há séculos, e com orgulho, se deu o nome de Portugal.