terça-feira, 22 de julho de 2014

De Guterres a Guterres, no PS, está tudo igual


Entre os mandatos de Guterres e Sócrates, e entre Sócrates e Costa, o PS nunca viveu de convicções. Não ofereceu uma ideia ao país, uma política alternativa, apenas tendo contribuído eficazmente para aumentar o número de gente empregada no domínio do humor, inspirando dezenas de jovens, nas rádios e televisões, com as célebres e inesquecíveis frases de que as dívidas não são para pagar e que a Parque Escolar foi uma festa.

E não há melhor transição de um parágrafo para outro do que recorrendo à palavra que melhor caracterizou as últimas governações socialistas. Foram festas, com fins anunciados em pântanos ou no recurso desesperado a pedidos de resgate.

Entre esses períodos, assolado pelo terrível caso da Casa Pia, e na sequência do, nunca esclarecido, caso Freeport, os tapetes foram tirados aos líderes de transição, Ferro Rodrigues e Seguro, no mesmo dia da semana em que José Sócrates conseguiu fazer toda – ou quase toda – a sua licenciatura. Ao domingo.

Aos olhos dos portugueses, é completamente inaceitável a forma como, internamente, se movem os interesses socialistas, apenas em função do calendário eleitoral, com sequentes e consequentes tiradas do tapete.

Porventura, a golpada mais grave, do ponto de vista da estabilidade política, da ordem política e até jurídico-constitucional, ocorreu durante a presidência de Sampaio, em que se verificou uma conjugação perfeita de cenários, desde o caso Casa Pia à ida de Barroso para a Comissão Europeia, a que correspondeu a reorganização interna no PS, culminando na dissolução, nunca explicada, de uma Assembleia representativa e legitimamente eleita pelos cidadãos.

Evidentemente, não esqueço aqueles que, à direita, fizeram o jogo rasteiro do Partido Socialista, assumindo que nunca ajudei a eleger, para o que quer que fosse, a falsa moeda de Cavaco ou a conjugação desastrosa que, de um homem pequeno com voz grande, não permite fazer, de Marques Mendes, um político com pensamento, pelo menos, coerente.

Porém, quase como obrigação cívica e, porventura até, moral, não poderia deixar de relembrar alguns episódios de democracia duvidosa que espelham na postura adotada, hoje, pelos principais agentes políticos, sobretudo aqueles que, voltam agora até ao país (mais ou menos) real, para lhes pedir o voto, agora, nas insólitas eleições primárias.

Sendo evidente que se desembrulharam temas como os que se prendem com as legislativas e presidenciais, não deixa de ser curioso cair nas mesmas conclusões dos últimos 15 anos, em que o PSD (e o CDS) foi chamado a governar na sequência de governações socialistas completamente calamitosas do ponto de vista financeiro, em que o PS (e sempre só o PS) foi para o governo com base em jogadas de bastidores encenadas através da utilização dos poderes públicos e de uma espécie de segunda cara que o PS adota internamente, e que permanece como uma espécie de face oculta aos olhos dos portugueses.

Em setembro, o PS terá um António como líder, mas que surgirá, forçosa e justamente, enfraquecido aos olhos da opinião pública. Se for Seguro, é o mais do mesmo, o líder frouxo, amorfo, sem chama nem projeto. Se for Costa, tenderemos a concluir que o será por força de circunstâncias mais do que previstas, tendo iludido os portugueses (sobretudo, os munícipes lisboetas e os camaradas de partido) ao mesmo tempo em que, na sombra, delineava uma estratégia que terminou de uma forma completamente anómala, tirando o tapete ao líder do PS após duas vitórias eleitorais.

Costa, a um nível interno, não fez diferente daquilo que Sampaio foi capaz de fazer a nível nacional. E o PS, decorridos todos estes anos, continua igual. Não tem projetos, não tem ideias e vive com base numa lógica de deslealdade perante os seus pares em busca de um eterno sonho de poder que culmina, sempre, com os cofres do Estado vazios.

Em quinze anos, nada mudou no PS, o que se evidencia na consensualidade que suscita o nome do pantanoso Guterres para candidato a Belém. A propósito, e no seguimento da imperdível entrevista de Santana Lopes ao Expresso, já é tempo de se falar, à direita do PS, de um nome para Presidente. Porque o guterrismo teve o seu tempo, teve o seu preço e deixem-nos, pelo menos, pagar a fatura que ele nos deixou.