segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um assunto de Estado


Pode ser a altura menos indicada para falar deste assunto, por estarmos em tempos de insuficiências de meios, mas a cultura, por ser parte integrante da identidade portuguesa, é um assunto de Estado muito sério.

Estava na noite de ontem a ver um programa de televisão, um programa que procura talentos, onde vários jovens vão a concurso para que um deles, de acordo com o número de telefonemas que correspondem a votos, possa ir para uma importante escola de música londrina formar-se.

Este programa é uma espécie de fast-food da cultura. É a cultura destinada às massas. É apenas um primeiro passo, que não deixa de ser o passo mais fácil porque os patrocínios estão garantidos pela facilidade com que o público chega a esse programa e pelo horário a que o mesmo se realiza.

Pensei ontem, a propósito de uma concorrente, que a vida é muito dura para muito boa gente. A concorrente não era uma das minhas preferidas, não cantava excepcionalmente bem, mas esforçou-se muito para passar à fase seguinte.

Pode não ser o caso daquela concorrente, mas, naqueles instantes em que se estava a decidir quem era expulso do programa, pensei que muitos milhares de jovens têm uma capacidade extraordinária para se afirmarem nos palcos desse país. Como cantores, como actores, como apresentadores, como entertainers, ou também como cineastas, como encenadores, como realizadores, seja como for.

A realidade é muito triste quando pensamos que muitos desses jovens não estão onde deveriam estar: em escolas de teatro, em escolas de música, em escolas de cinema ou outras escolas de arte focadas na formação de homens e mulheres da cultura portuguesa.

Muitos desses jovens têm, nestes concursos destinados, também ao nível dos concorrentes, às massas, a sua única oportunidade de mostrar o seu valor. Fazem-no a tremer, porque sabem que a oportunidade é única. E, depois de darem tudo o que têm, a maioria desses e dessas jovens não ficam. Porque têm o seu talento em bruto, ainda não trabalhado. A história das suas vidas, que não raras vezes inclui situações de pobreza ou problemas familiares muito graves, fá-los chorar quando ouvem um “não”. Porque esse “não” é um não definitivo.

Esses jovens, sejam rapazes ou raparigas, vão, muitos deles, fazer aqueles trabalhos ingratos que muitos de nós nem sequer valorizamos. Vão limpar as casas de banho dos centros comerciais, vão atender em lojas até que a sua idade lhes estrague a imagem. Muitos desses jovens não têm qualquer margem de ascensão social porque não têm oportunidades. E, em casos extremos, vão prostituir-se ou roubar.

Eu sei que este é um lado da cultura que é visível e que a cultura não se resume a programas de procura de talentos. Longe disso.

Mas o que queria dizer, trazendo este exemplo que me parece flagrante, é que este é assunto de Estado.

O Estado não pode continuar a ter uma política de cultura que se resume à distribuição de subsídios, que é discricionária e não pensa na consequência social da falta de uma política de cultura firme, responsável, que se assuma como porta-estandarte da defesa da Língua Portuguesa.

Não podemos exigir tudo ao Estado. Os privados têm, também aqui, uma tarefa fundamental.

Mas os privados têm descoberto, criado e formado grandes actores, reconhecidos a nível mundial. Os privados têm criado condições para que se continue a cantar ou também compor música em português. Os privados promovem, dentro das suas possibilidades, talentos desde tenra idade. Os privados trabalham-nos, metem-nos a actuar em público, mas, muitas vezes, o seu trabalho esbarra na ausência de uma política de cultura.

O Estado tem de fazer muito mais. Uma medida flagrante é impor às rádios que passem mais música portuguesa. Não custa dinheiro fazer isso. E é uma política que, além de cultural, é social e económica. Põe dinheiro a circular, cria riqueza e condições para que se multipliquem os artistas portugueses.

Existe possibilidade de regular, existe possibilidade de impor. Pois então que se faça isso. Com urgência.

Há, depois, outro campo que é o campo da formação, em que os privados, com sabedoria e qualificação, têm trabalhado muito e bem. Veja-se o exemplo das escolas de música com centenas de alunos. Ou mesmo o curso de Jazz da Universidade Lusíada, que penso ser uma inovação a este nível.

O Estado, neste aspecto, pode ir além de distribuir subsídios e criar algumas normas incentivadoras da formação. Os privados fazem os castings, encontram grandes actores, põem-nos em palco em peças que são de grande nível. Mas o Estado, por ser Português e porque Portugal é, sobretudo, cultura, pode ser muito mais ambicioso neste aspecto.

Se custa dinheiro? Sim, custa. Mas não é uma despesa. Antes será um investimento, criador de riqueza, promotor do princípio da igualdade e da mobilidade social.

Estamos, ainda, no domínio do básico, do que custa pouco. Muito pouco. Porque o preço a pagar é a assumpção de uma política de cultura e a racionalização dos recursos públicos.

Pode, o Estado, ir ainda mais longe, a um ponto onde os privados dificilmente podem chegar, que é o nível da construção de infra-estruturas que criem condições para a realização de espectáculos, infra-estruturas suficientemente atractivas para cativar público, incluindo os turistas estrangeiros.

Também custa dinheiro, mas terá retorno. Dá mais um ponto ao país no que respeita à capacidade para atrair turistas, cria riqueza, ajuda a economia, gera emprego. Promove a multiplicidade de espectáculos, abrangendo públicos diversos.

Estas infra-estruturas têm ainda um efeito importante, porque ajudam à criação e manutenção de cafés, lojas, restaurantes, bibliotecas, museus, além do evidente interesse do sector da hotelaria.

Criam dinâmica nas cidades ou nas localidades onde forem construídas.

Um exemplo flagrante do que o Estado não fez e deveria ter feito era o projecto de Frank Gehry para o Parque Mayer, em Lisboa, que não deixava de ser apenas uma das medidas culturais do Executivo Camarário de Pedro Santana Lopes.

O Parque Mayer não era um projecto final. Era um ponto de partida.

Estamos agora no campo das obras públicas. Em período de vacas magras, é certo. Mas já tivemos dois exemplos que vingaram, em Lisboa e no Porto, que são o CCB e a Casa da Música. Incluo aqui a recuperação de alguns teatros por todo o país e a construção de museus, que, não se destinando à promoção dos artistas, são ainda políticas de cultura. Políticas de cultura de sucesso!

Mas não deixam de ser ainda muito pouco para um país antigo e de cultura, que se quer moderno, que deseja ser ainda mais visitado, que sonha vir a materializar a ideia de que é um Estado Social também no campo da Cultura, criador de emprego e de riqueza, que oferece oportunidades e a garantia de possibilidade de mobilidade social, ao mesmo tempo em que deve surgir na vanguarda da defesa e divulgação da Língua Portuguesa no mundo.

sábado, 27 de novembro de 2010

Profissionais exemplares, Moutinho e o Sporting - Porto


Nélson era um profissional exemplar. Sempre soube qual era o seu lugar e sempre o respeitou. Parecendo ser eternamente suplente, era responsável pela harmonia entre o grupo. Terá certamente chegado a colocar em causa a sua capacidade para estar num clube como o Sporting. Terá melhorado quando pôde treinar com um guarda-redes como Schmeichel. E Nélson foi, tão-só, o substituto do gigante dinamarquês. Chegou a titular quando menos esperava para ser campeão nacional.

Rui Jorge era um profissional exemplar. Nunca disse ser adepto de um clube. Nunca esclareceu isso. Esteve no FC Porto e no Sporting com a mesma atitude, com a mesma disciplina, com a mesma dedicação. Foi campeão em Lisboa e no Porto. Foi campeão várias vezes nos clubes onde esteve e, parecendo um elemento secundário, era somente o lateral esquerdo indiscutível de uma selecção que fica para a História por ter sido composta por um grande grupo de jogadores que marcou a Geração de Ouro do futebol português.

Beto foi um profissional exemplar. Do Sporting desde o princípio, foi aqui que se fez jogador e homem e só uma lesão grave o impediu de rumar a palcos maiores, onde era cobiçado. Nunca teve, por parte do Sporting, qualquer apoio quando, depois do que deu ao Sporting, precisou do Sporting na fase descendente da sua carreira, já longe dos grandes palcos e da selecção nacional, numa altura que foi também muito delicada na sua vida familiar e pessoal.

Cristiano Ronaldo foi um profissional exemplar. Treinava depois dos treinos. Saiu prematuramente do Sporting para ser o melhor jogador do mundo em Manchester. Já actuou como adversário do Sporting, cumpriu o que lhe exige o seu contrato enquanto profissional de futebol e marcou, por duas vezes, um golo ao seu clube. Pediu desculpa. E as desculpas foram aceites. Insultou os adeptos benfiquistas no estádio da Luz. Mas é um grande português, um grande sportinguista e um ainda maior profissional.

Silvestre Varela foi um profissional exemplar. Fez o trajecto até chegar à equipa principal do Sporting, mas foi preterido por Yannick Djaló. Não foi uma decisão unilateral de Paulo Bento, mas dos sócios e adeptos que viam, em Varela, um jogador lento, pesado e pouco inteligente. Não tínhamos razão. Mas, se está no FC Porto e não está no Sporting, foi porque o Sporting lhe disse que não contava com ele. Fez pela vida, acompanhou o período final do Estrela da Amadora, numa conjuntura financeira marcada pelos salários em atraso. Por muito que nos custe, porque se trata de assumirmos um erro, Varela foi e continua a ser um profissional exemplar.

Sá Pinto foi um profissional exemplar. Não sei se já era sportinguista ou se passou a ser quando conheceu o clube. Fez tudo pelo Sporting. Correu, gritou, lutou. Foi a alma da equipa, fez a ligação com os adeptos, é um dos símbolos do Sporting e, sobretudo, um exemplo para aqueles que, nas claques e como Sá Pinto fazia, continuam a dar tudo pelo Sporting.

O Sporting teve muitos profissionais exemplares. Ainda tem alguns.

E, hoje, o Sporting defronta um ex-atleta do Clube. Um rapaz que tudo fez pelo Sporting até conhecer um outro grande amor: o dinheiro. Há dois anos, em princípio de época, Moutinho, empurrado pela pouca capacidade que o seu pai tem para os negócios, pediu publicamente para sair. E, sendo capitão de equipa, o Sporting deixou de ter hipóteses de estar concentrado na luta pelo título nesse momento. Admitiu a possibilidade de jogar no Benfica, tempos antes de ver a Juventude Leonina devolver a sua camisola. Enquanto passeava pelas ruas do Porto, apenas as crianças sportinguistas (e não só) o mantinham como exemplo de profissionalismo exemplar. Todos os outros, por conversas trocadas em privado, já percebiam o que se estava a passar.

Moutinho deixou de dar o litro, de comer a relva, de ser um elemento capaz de jogar o tempo que fosse preciso, onde fosse preciso. Tirou o pé. Saltou fora do barco. No início de uma nova época, voltou a fazer o mesmo, revelando um profissionalismo que nada teve de exemplar. Fechou-se no quarto da academia a enviar mensagens ao presidente. Recusou-se a treinar para a entidade que o formou e que lhe pagava quase uma centena de milhar de euros todos os meses. Confessou a traição ao clube quando disse que queria sair para o FC Porto, para o Benfica ou para um clube de um país qualquer no fim do mundo. Queria era ganhar mais.

É esse Moutinho que vai estar hoje em Alvalade. Um Moutinho que nada tem de profissional exemplar, porque, para se ser exemplo, tem de se ter coerência de atitudes durante uma vida inteira. Moutinho não teve. Foi pequenino. E foi um grande filho do dinheiro.

É uma maçã podre. E, se há alguém que vê num traidor um profissional exemplar, esse alguém é banana.

O Sporting somos todos. E Moutinho traiu-nos a todos. Hoje é um dia importante onde se vai ver quem está à altura deste grande Clube. Quem não estiver à altura, faça as malas e vá embora. Quem estiver, vai receber mal o Moutinho, fazendo uma recepção hostil mas não violenta e tudo vai fazer para que o Sporting vença o FC Porto.

Não somos aliados deles. E não podemos vergar-nos perante aquela ideia de que se não os podes vencer te tens de juntar a eles.

Porque nós podemos vencê-los.

Vamos ao Estádio! Viva o Sporting!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Um Rio de razão



Às vezes sabe bem chegar a casa ao fim do dia e ver que aquilo que tinhamos para dizer ou para escrever já foi dito. E, neste caso, faço minhas as palavras de Rui Rio.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Solidariedade

Compreendo e aceito a solidariedade dos principais agentes políticos relativamente a todos os grevistas.

Mas, por se tratar de uma greve que não tinha objectivos práticos e apesar de respeitar todos aqueles que exerceram o seu direito, acho que faltou a solidariedade relativamente a todos os que, para não perderem a contrapartida de um dia de trabalho, foram trabalhar durante esta quarta-feira. Para seu bem, para o bem da sua empresa, para o bem do seu país.

É que são esses, e não os outros, que estão no caminho certo.

Nunca, tanto quanto hoje, o país precisou tanto do trabalho dos portugueses.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Quem disse que um Homem não pode mudar o mundo?


"Vivo e trabalho num mundo em que não podes dizer o que pensas, nunca podes dizer a verdade. Não ser hipócrita, não ser diplomático, não ser bajulador, esse é o meu maior defeito. O pior é que se te comparas com pessoas que o são, perdes sempre na comparação. Estou perfeitamente consciente das minhas qualidades."
José Mourinho

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O País onde começa o Mundo


O que aconteceu no fim-de-semana foi histórico.
Foram assumidos objectivos claros no que respeita ao futuro político e, sobretudo, militar no Afeganistão, assim como uma estratégia ambiciosa para a manutenção da paz naquele território.
Os actos demonstraram um caminho pacífico para acabar com um eventual perigo mundial vindo da Rússia.
E é com orgulho e alguma vaidade que podemos dizer que a esse fim-de-semana que ficará para a História, princípio de um trajecto mundial comum, ficará associado o nome de Lisboa, Portugal.
Além do conteúdo dos acordos alargados feitos em Lisboa, a organização da Cimeira da NATO, com a presença dos mais importantes lideres políticos mundiais, foi um verdadeiro sucesso, facto que foi sublinhado por alguns desses líderes.
Foi uma demonstração clara do excelente trabalho diplomático português que melhorou ainda mais a imagem externa de que temos uma grande capacidade para organizar este tipo de eventos.
Deste texto, curto mas incisivo, não poderia faltar o elogio às forças de segurança nacionais que estiveram à altura do evento, antevendo perigos, precavendo-se deles e controlando a situação, garantido a segurança de todos os intervenientes.
É sobretudo nestas alturas que devemos valorizar o facto de vermos o nosso nome bem falado em todo o mundo, confundindo-se com os caminhos da História. E tão bem que sabe ver, entre as mais poderosas imagens da História, a bandeira portuguesa.
E, nesse sentido, podemos mesmo dizer, genericamente, que o povo português está de parabéns.
Estivemos à altura das circunstâncias, conscientes de que Portugal é e quer continuar a ser o País onde começa o Mundo.

Falemos de restauração


Sim, eu sei que é complicado montar uma equipa capaz quando se tem um grupo de defesas que defende mal, um grupo de avançados que não marca golos, um conjunto de médios cuja bola queima, um conjunto de jogadores que desperdiça energias atirando, com estrondo, as bolas ao poste.
Sim, eu também sei que é difícil motivar jogadores que vêem a sua carreira arrastar-se no clube, com melhorias significativas e sucessivas do ordenado, ainda por cima com uma estrutura pouco competente, amadora, incapaz de motivar a equipa seja para o que for.
Mas uma equipa que luta por títulos não pode sentar-se à sombra de uma vantagem mínima, tremendo como varas verdes em hora de ventania, como aquela criança que chora de noite, desesperada, porque tem medo de tudo e mais alguma coisa.
Não se fazem omoletes sem ovos. Ovos até têm havido, mas são desperdiçados, integrados numa lógica derrotada e conformista. São poucos mas, bem cozinhados, até poderiam dar para enganar a fome.
Porventura, gastaram-se recursos com ovos podres. E, ainda por cima mal cozinhados, sem sal quanto baste, o cozinhado tem saído insonso. Dá azia e dores de barriga.
O objectivo do Sporting, a menos que tenham enganado os sócios, era ser campeão nacional. Era ganhar a Taça de Portugal e fazer uma boa campanha europeia.
Não se percebe que se deixe de responsabilizar aquele que trouxe ovos podres. Mais aqueles que deixaram apodrecer umas certas e determinadas maçãs do pomar de Alcochete.
Mas se os condimentos eram suficientes para uns, também deveriam ser suficientes para outros. Se falta o sal, se falta pulso para mexer na colher de pau e se o cozinhado sai insonso, então deve-se substituir o cozinheiro.
Mudar de fornecedores, alterar o ministro comprador, substituir o cozinheiro, acabar com o amadorismo, profissionalizando-se e especializando-se numa receita bem condimentada e à portuguesa. É isso que o Presidente Bettencourt tem de fazer, com espírito de sacrifício, para que a ementa seja mais saudável e para que, depois da primeira refeição, venha mais gente ao restaurante. É que, francamente, para ficar com dores de barriga, a clientela vai continuar a ficar a casa. E, com este jejum, não se admirem que, dentro de muito pouco tempo, possamos todos morrer de fome.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Um grande, grande amor


Pegando em questões fracturantes e fazendo pequenos espectáculos de rua, enxovalhando o próprio país e a classe política, o Bloco de Esquerda foi crescendo como partido de contra-poder, das pequenas minorias e foi por elas que lutou, fingindo um traje intelectual que escondia o facto de ter, na sua génese, ideias há muito derrotadas no tempo.
Afirmou-se como esquerda moderna e seduziu, desde logo, a esquerda socialista, cegamente apaixonada pelas ideias bloquistas. Mas que dizer? Quem feio ama, bonito lhe parece.
No período socrático até 2009, o PS cedeu às ideias modernistas da esquerda, tendo tido diversos casos extraconjugais, bonitos porque isso é moderno, e o Bloco, que se assumia como um feroz adversário dos socialistas, aceitou essa relação, que nunca assumiu. E não assumir uma relação também é bom porque é moderno.
Foi este relacionamento escondido entre o Bloco e o PS que foi destruindo o país. Da economia aos valores. Foi tudo responsabilidade directa de um PS que se aliou com a mais ordinária, radical e anarquista das esquerdas, que é uma esquerda exclusivamente citadina, que não conhece o país rural que também foi esquecido, e que, em vez de se preocupar com as contas públicas e com a criação de riqueza, andou a discutir atentados à vida humana, casamentos de homossexuais entre si e se prepara para pôr os transsexuais na agenda política e legislativa, ao mesmo tempo em que mergulhou o país num mar de endividamento, falências, desemprego, pobreza e fome.
Foi este Bloco de Esquerda que, na sua relação extraconjugal com o PS, foi dando cobertura à ideia, moderna porque o moderno é gastar o que não se tem, de que Portugal deveria avançar, cegamente, para investimentos megalómanos. E para muitas coisas mais.
Manuel Alegre confirma o que já todos sabiam. O PS traiu-se a si próprio. E tem uma relação escondida com o Bloco de Esquerda de há algum tempo a esta parte. Traiu os valores nacionais, os pilares da sociedade portuguesa, afundou o país num mar de endividamento e miséria. Esta relação escondida justifica, sobretudo, o desmoronamento da sociedade portuguesa. Foi esta relação fez o PS cometer verdadeiras loucuras. Mas quem é que afinal nunca cometeu loucuras por amor?

Assim é que eu gosto!


Este foi um dos textos mais difíceis de escrever, porque é difícil, quase impossível, escrever sobre o que é perfeito.
Valeu a pena ir ao estádio da Luz para ver esta selecção portuguesa dar uma lição de segurança e magia, de confiança e irreverência, de arte, coragem e ambição. Fê-lo sem ter de carregar muito no acelerador, goleou os campeões da Europa e do Mundo com uma naturalidade que conforta todos aqueles que estiveram no estádio.
Paulo Bento pôs, em campo, o melhor onze que podia. Não inventou. Simplificou a estratégia e, sem arriscar, montou uma equipa para defender bem e atacar ainda melhor. E foi com toda a naturalidade deste mundo e do outro que Portugal, pé ante pé, foi subindo em campo e marcou cinco bons golos. Um deles teria ficado para a História deste desporto, não fosse o árbitro ter preferido estar à altura daqueles que preferiram deixar despidas as bancadas, quando deveria ter preferido estar à altura dos artistas que estiveram em campo, artistas que, na sua maior parte, porque são espanhóis, valorizaram ainda mais esta grande vitória portuguesa.
Não me lembro de nenhuma altura em que gostei tanto de ver a selecção nacional. E tenho dificuldade em encontrar, no baú das recordações das centenas de jogos de futebol que já vi ao vivo, uma exibição tão categórica que deu numa vitória que não deixa margem para dúvidas.
O espectáculo de ontem foi tanto melhor pela presença de milhares de espanhóis, que quase transformaram o estádio da Luz num campo neutro. Golo após golo, olé após olé, não houve ontem qualquer sinal de desrespeito pelos nossos vizinhos e amigos que ontem eram adversários, mas que são nossos parceiros numa candidatura conjunta à organização de um Campeonato do Mundo.
O fair-play de ontem também ajudou a essa mesma organização. E isso importa porque o jogo de ontem terá sido visto por largos milhões de pessoas, por todo o mundo.
Mas quanto ao jogo, porque foi um espectáculo único, as palavras têm dificuldade em aparecer. Talvez o melhor seja gravar este jogo, guardar a gravação, ir vendo, ir mostrando às pessoas e dizer, com a mesma satisfação com que estive e saí do estádio da Luz, que eu eu estive lá quando goleámos os campeões do mundo, que vi ao vivo aquele lance de arte, um dos melhores golos de sempre, que foi limpo e que não contou. Mas isso só valorizou os outros quatro e engrandeceu ainda mais a vitória esmagadora da selecção de todos nós, portugueses.
Foi, de facto, uma noite de sonho.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A boa e a má moeda


“Imaginem o que é alguém que tem dez horas por dia os militantes que consegue fazer. Conseguindo fazer cem militantes, ganha facilmente uma secção. E não temos à frente da secção o melhor, mas temos muitas vezes aquele que tem mais disponibilidade para o chamado “cacique”, e portanto isso é uma lógica adversa (…) temos dez militantes, o pior vai liderar a secção, aquele que seria melhor vai-se embora porque não está para aquilo. Temos muitos exemplos de pessoas muito boas na JSD que têm que influenciar por fora, criando associações, através de blogues, e portanto vão sempre ficando os piores. Há a tal ideia da moeda má poder expulsar a moeda boa”.


Cito Tiago Mendonça, numa entrevista que deu ao Tibério Dinis e que foi agora novamente publicada no blogue Zona de Decisão.
Apesar de apenas falar da JSD, realidade que melhor conhece, essa realidade de que fala é a mesma fora da JSD. É assim que funciona no PSD, no PS, no País.
E é esta realidade, de expulsões sucessivas da moeda boa pela moeda má, que explica com rigor a desqualificação da classe política e a situação política, financeira, económica e social do país.
Mérito do Tiago.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O caminho

Crónica escrita por mim e publicada no site Sporting Apoio.


Escrevo porque me chateia a insistência em referir os problemas, em vez de se procurarem e discutirem as soluções.

Vulgarizou-se, recentemente, a ideia de que o Sporting está condicionado ao seu passivo.

Pensa-se que o Sporting, apesar de ter a melhor academia de futebol da Europa, de lançar os melhores jogadores do mundo, de ter um estádio com as cinco estrelas da UEFA, vive mal por causa do passivo que resultou desse investimento.

Eu não penso dessa maneira. Não havia alternativa quando, há já mais de uma década, foi apresentado um projecto para a construção de um novo estádio que viesse substituir o antigo, que já não oferecia condições de segurança.

Terá sido desse projecto sportinguista que o Governo português, aliado com a Federação Portuguesa de Futebol, resolveu promover a construção de vários outros estádios de modo a organizar um Campeonato da Europa como recompensa a uma geração de ouro do futebol português.

O Sporting fez bem em construir um novo estádio. Não havia sequer outra alternativa.

Mas, sendo o Sporting um clube vocacionado para a formação dos melhores jogadores de futebol do mundo, aproveitou-se essa década de investimento para construir uma das melhores academias do mundo, para melhorar as condições de trabalho das suas grandes promessas.

Fez-se bem.

Mas desses dois investimentos resultou a grande parte do passivo do Sporting. Foi essa a via escolhida pelos sócios. E, creio eu, foi escolhida a via certa.

O problema do Sporting não está, porém, no seu passivo. Porque o passivo corresponde a uma modernização e profissionalização do clube. O problema é que a esse investimento de modernização e profissionalização, estendido recentemente à gestão financeira e, digamos assim, administrativa do clube não se juntou a profissionalização da gestão desportiva.

Ou seja, o Sporting tem todas as condições materiais para competir de igual para igual com os melhores clubes do mundo. Tem jogadores profissionais e um Presidente que faz da presidência do clube a sua profissão.

Falta a profissionalização da gestão desportiva que, para colher frutos, terá de estar ao nível de tudo o que falei até aqui.

O Sporting precisa de um director-desportivo profissional de grande nomeada. Daí que defenda, por exemplo, a hipótese Luís Figo.

A gestão desportiva do futebol profissional do Sporting não tem estratégia. Não é completa, porque se resume à autoridade de um homem só. E não joga nos bastidores, não se sente que haja ali nenhuma equipa, capaz de sonhar alto, de jogar com a sua influência e de pensar a médio e longo prazo.

Esta gestão desportiva vende as coqueluches e vai buscar jogadores em fim da linha, amigalhaços e reservas de outros clubes. Isso não serve. E destrói todo o trabalho e todo o investimento que está por trás do Rui Patrício, do Daniel Carriço, do Cedric Soares, do André Santos, do Yannick Djaló, entre outros.

Porque tem sido assim a gestão desportiva do futebol, o Sporting soma prejuízos, perdeu a sua identidade centenária e a sua veia devoradora de títulos.

Penso eu, contrariamente à generalidade das pessoas, que o Sporting não se caracteriza pela palavra passivo, mas pela palavra “refugo”. É isso que mostra a grande monstra desportiva do clube. E é aí que reside o problema central do clube.

Voltando atrás, o Sporting, apesar do investimento feito na sua profissionalização, caminha numa estrada que o leva a um perigoso precipício. O estádio não foi feito para estar vazio. E a academia não foi feita para formar atletas que, desmoralizados pela falta de sonho e profissionalismo da gestão do futebol, reforçam os nossos rivais ou saem a troco de meia dúzia de trocos.

O investimento que foi feito não tem tido retorno, porque só foi feito em metade. Falta o essencial. Investir num grande director-desportivo e numa estrutura de futebol fortíssima, que possa trazer um grande treinador e grandes jogadores de futebol.

Se assim for, a academia vai render muito dinheiro, o estádio vai estar cheio, as pessoas vão comprar o merchadising do Clube. O investimento terá retorno e não será necessário nenhum milionário árabe ou chinês para conseguir salvar, desapaixonadamente, aquele que é o amor comum de todos nós, sportinguistas.