domingo, 14 de agosto de 2011

Pontal


Longe dos tempos em que se falava de facções, poucos meses após uma vitória eleitoral, em período de uma maioria relativamente confortável e absoluta por se ter, necessariamente, alargado ao CDS, a festa do Pontal, de logo à noite, é diferente.
Não sendo, este, o clima ideal para grandes festas e habituados que já estão aos populismos da Manta Rota e das viagens em turística, os militantes do PPD/PSD não esperam que o seu líder faça, hoje, um discurso onde fale apenas sobre o país.
Repetir a narração de factos, assim como a enumeração e caracterização das dificuldades sentidas pelos portugueses, é tempo perdido. Esta é a hora de agir, de apelar ao sentido patriótico dos cidadãos, ao seu trabalho, à sua iniciativa, ao seu empreendedorismo.
Também não é o lugar ideal para se anunciar novas medidas de combate ao défice, à dívida, à estagnação económica, entre outros problemas que os socialistas deixaram para que, agora, o PSD os resolva.
Espera-se, de Passos Coelho, um discurso diferente em que concilie o facto de estar como Primeiro-Ministro com a necessidade de falar internamente aos militantes do partido.
Desengane-se quem pensa que os desafios internos são menores por esta altura. Não são. Para o consenso em torno de medidas importantes que venham a ser tomadas, é sempre essencial que se tenha, em primeiro lugar, um partido unido e mobilizado, que confie em quem lidera o Partido e o País e nas suas capacidades de liderança.
Com quem conta, Pedro Passos Coelho, e para que conta?
Por que razão abdicou dos militantes empenhados e reconhecidos, apostando em "valores" desconhecidos e em independentes?
Qual é o sentido da militância quando, na hora da verdade, parece não existir essa confiança neles?
Como se irá voltar a unir um partido que continua partido?
São perguntas que Passos Coelho não pode ignorar, de que os militantes vão falando quase sempre de cabeça baixa e com os ombros caídos.
Será, certamente, essencial que se fale do país. Das dificuldades e dos sacrifícios que serão exigidos. Dos desafios e das metas a alcançar.
Será, igualmente, essencial que se fale da estratégia política do partido e das suas relações com outros partidos, nomeadamente com o parceiro de Governo e com o Partido Socialista do período pós-Sócrates.
Mas é vital que se fale do partido, que se fale para dentro, seja sob a forma de aviso, seja sob a forma de apelo à mobilização.
É que Pontal significa militância. E os militantes do PPD/PSD têm duas bandeiras: a do PSD e a de Portugal.
Sendo certo que hesitam em levantar e agitar uma, certo também será que têm menos força e convicção na hora de levantar e agitar a outra.
Neste tempo novo, de incerteza, esperemos que o líder fale também aos militantes. É que os militantes do partido estão fartos de servir apenas para bater palmas quando o líder fala para fora.
Terão de ser vistos, por Passos Coelho, como parte integrante de uma força de mudança, como transmissores de uma mensagem de optimismo e coragem junto da sociedade civil.
Mesmo em coligação, com o apoio de importantes agentes económicos, Passos Coelho não pode esquecer-se que os militantes do PSD são, como sempre foram, o primeiro e principal motor da mudança e do progresso em Portugal.

2 comentários:

luis cirilo disse...

Tem razão António.
Esquecer o partido,como tem acontecido,é meio caminho andado para perder o poder.
EM 2013 há autárquicas.
As mais dificeis da História do PSD por razões fáceis de perceber.
O povo não estará muito feliz nessa altura e largas dezenas de presidentes de câmara nossos não poderão recandidatar-se.
2013 exigirá um partido coeso,forte e motivado.
"Coisa" que sinceramente não vejo e julgo conhecer minimamente o PSD.
A não ser que Passos Coelho tencione ganhar as autárquicas com recurso a independentes, a desconhecidos,e a ex socialistas ou colaboradores do governo de Sócrates.
Como fez para o governo e "arredores".
Se assim for então está no caminho certo...

António Lopes da Costa disse...

É verdade.
Subscrevo as suas palavras de ironia e preocupação.
A menos que nos passemos a chamar por PID (Partido dos Independentes e Desconhecidos), há que falar aos militantes, do que interessa e os preocupa.
Se assim não for, o destino será fatal.

Um abraço