segunda-feira, 4 de março de 2013

Manifestando-me,


É verdade que estava muita gente, mas é mentira que tenham estado perto de um milhão de pessoas. O problema, que se realça, é que há gente, muita gente, que não foi à manifestação porque não pôde ir. O transporte sai caro, como caro também sai comer e beber num sábado em Lisboa, no Porto ou noutra cidade qualquer. Não tenho dúvidas de que boa parte das pessoas que censura as medidas deste Governo não foi à manifestação. Ficou em casa a fazer contas. Aos medicamentos, ao empréstimo, aos alimentos. A fazer contas à vida.
De qualquer forma, o que realço, também, é que não houve qualquer medida, qualquer alternativa, que tivesse saído das algumas centenas de milhar de pessoas que se manifestaram. Querem ter mais dinheiro, mas não sabem como. Querem outras medidas, mas não sabem quais. Querem fazer cair um governo, mas não sabem que outro o pode substituir.
Revejo-me em todas as frustrações dos manifestantes, partilho o mesmo sentimento de desentusiasmo, bem como as dúvidas. Mas não quero outro governo, não quero um programa de governo genericamente diferente do que está a ser implementado, não quero mudar por mudar, à pressa, e para qualquer outra coisa.
A verdade é clara. O país tem compromissos para cumprir e dívidas por liquidar. Tem de os cumprir, tem de as liquidar. A alternativa, que é aquela que indicam os manifestantes, é pior. É não pagar a dívida, como sugeria Sócrates numa conferência. É mandar embora a Troika. É mudar o governo.
O que significa isso?
Não pagar agora é não receber emprestado amanhã. E talvez valha a pena fazer o exercício de nos pormos no papel do credor, que emprestou mas precisa do dinheiro. Do dinheiro, e de todas as condições, em que acordou emprestar. As dívidas são para se gerir, mas têm de se pagar. Os compromissos, se é que os temos, são para se cumprir, como parte de bem, como pessoa de confiança.
Mandar a Troika embora, tal como sugerem os desempregados e pensionistas, é fazer com que, no dia 20 do mês seguinte, os funcionários públicos deixem de receber o seu salário. É deixar de pagar pensões. É, isso sim, enforcar, de vez, o Estado Social e as empresas, desde as pequenas e médias aos grandes grupos económicos.
Mudar o Governo, neste momento, só pode querer significar uma de duas coisas.
Uma, é dar a maioria absoluta ao PS, que nos desgovernou durante quase década e meia, com dois anos de interregno. É confiar naqueles que nos trouxeram até aqui, até ao memorando, até à perda de soberania, até às medidas que acordaram, passando pela fome por que passam milhões de pessoas que, por não ter dinheiro, nem sequer pode vir ao Terreiro do Paço cantar a música da revolução militar e, inerentemente, comunista.
A outra, é dar a maioria relativa ao PS. Que pode fazer com que o fenómeno italiano se verifique em Portugal, assumindo-se como um país ingovernável. Ou governável, caso o PS encontre parceiros de coligação, situação em que o Bloco de Esquerda seria chamado para funções executivas. Com todas as consequências que daí, necessariamente, advêm.
Digo, com tudo isto, que o protesto é legítimo. Digo, aliás, que também protesto. Pela pesada herança que o país me deixou. Pela castração dos sonhos. Pelo sacrifício e pelas contas que tenho de fazer. Mas o sentido de responsabilidade aborta qualquer ideia de que, neste momento, existam reais alternativas às deste governo. Não existem. Ou, se existem, são piores.
Com dificuldades, muitas dificuldades, espírito de sacrifício patriótico, mas com esperança, muita esperança, proponho que, coletivamente, nos nossos negócios, nas nossas empresas, na nossa vida, continuemos a puxar o país para a frente. Por Portugal e pelos portugueses. Sobretudo, pelos portugueses de amanhã. Dobraremos as Tormentas e transformá-la-emos em Boa Esperança.
Acredito muito nos portugueses e não tenho dúvidas de que, como sempre, vamos ser capazes.

2 comentários:

miguel vaz serra....... disse...

Amigo António.
Sempre critiquei, critico e criticarei até à exaustão os mentirosos e incluo Passos Coelho no rol.
Chegou ao poder com uma lista de promessas que deram esperança aos eleitores que o lá meteram
( eu não )e depois não fez UMA ÚNICA COISA que prometeu.
Mais.Fez muitas que disse jamais fazer.
Um mentiroso é isso mesmo.MENTIROSO.
E eu não tolero mentirosos.
Se encontrou uma situação distinta do que pensara, se viu que não podia seguir o programa de governo do PSD apresentado, demitia-se e ia a eleições outra vez mas desta com a verdade. Como fez Manuela Ferreira Leite e por isso não ganhou.
Isso era ser homem.Um político de verdade.
Por isso não lhe tenho o mínimo respeito.Porque não o merece.
Não pelas políticas ERRADAS, nefastas que nos levarão à maior recessão de todos os tempos e à maior taxa de desemprego jamais vista em Portugal, mas por ser um grandessíssimo mentiroso!!!Tal como era Sócrates.
No entanto, dou-te TODA a razão quando escreves o que escreves, tomei até a liberdade de transcrever para o facebook.
Deixo aqui algo que vai de encontro à nossa visão.

"«O PS governou o País durante sete anos.
Ao fim desses sete anos, o PS foi obrigado a pedir um empréstimo à troika para pagar as despesas do Estado: salários de funcionários públicos, pensões, subsídios, etc.
O PS negociou livre e autonomamente esse empréstimo.
O PS comprometeu o País a pagar uma taxa de juros específica; comprometeu o País a reembolsar esse empréstimo num prazo específico; e comprometeu o País a baixar o défice do Estado a um ritmo específico. Essa taxa de juro, esse prazo de reembolso e essa meta de défice são uma obrigação de todo o País, mas foram uma decisão apenas do PS.
Nove meses depois de ter assinado esses compromissos e seis meses depois de ter perdido as eleições, o PS já estava a exigir que o novo Governo conseguisse a taxa de juro, o prazo de reembolso e a meta do défice que o PS não conseguiu da troika - como se isso fosse a coisa mais simples e evidente do mundo. E foi isso que o PS repetiu insistentemente nos últimos dois anos: o Governo PSD/CDS tem a obrigação de melhorar as condições negociadas pelo PS.
Esta semana, soube-se que isso vai acontecer.
O mérito, claro, é do PS».

(Editorial, "Sábado", n° 462, 7/Março/2013, p. 7)"

o cusco....... disse...

A troika ainda cá está..Pois é...
Como se nota a diferença entre o "estar de costas" "do" Gaspar e o de frente de o
Dr. Paulo Portas!!!!!
Diz o invisível de Belêm que foi ele que salvou o Governo quando Passos mentiu,humilhou e enganou Paulo Portas há uns meses atrás...
Não mister, não foi o senhor que fez NADA, aliás, o senhor NUNCA faz nada.
Quem salvou o Governo foi o
Dr. Portas porque achou que merecia, ainda assim, a pena...............Resta saber por quanto tempo....