segunda-feira, 8 de julho de 2013

Seja, então, o tempo novo!


Quando foi divulgada, nos órgãos de comunicação social, a notícia da demissão de Paulo Portas, tive a clara percepção de que o país, finalmente, caíra no precipício.
No decorrer de um plano de assistência financeira, tive a sensação de que o país, após dois anos de políticas de empobrecimento, não tinha soluções. Pensava, aliás, que Portugal se confrontava com o pior de todos os mundos, numa conjuntura particularmente adversa, em que, perante a, na altura, provável queda do Governo, tinha a pior oposição desde que Portugal se democratizou, tendo, simultaneamente, o pior Presidente do Portugal democrático.
Compreendi os motivos que levaram à carta de demissão de Portas que, imprudentemente, foi tornada pública. Revi-me na forma como entendeu ter chegado o tempo para uma mudança de políticas, mais orientadas para o crescimento económico, de forma a dar um novo impulso às famílias e empresas, eventualmente descendo alguns impostos, sem comprometer os objetivos propostos e as receitas fiscais.
Uma pessoa engole um sapo. Engole dois. Engole até três, quatro, dez, vinte ou cem. Fá-lo com a consciência de que, a cada sapo engolido, contribuía para a solidez de um governo que, caso caísse, levaria Portugal para uma situação semelhante à grega, em que, numa fase de desespero, se mostrava ingovernável aos olhos dos portugueses e dos credores.
Não acredito que Paulo Portas tivesse a certeza absoluta de que a sua saída seria irrevogável. Pelo contrário. Creio que sabia que colocaria a batata quente nas mãos de um Presidente que, rapidamente, a iria passar para uma Assembleia da República sem propostas ou para um Primeiro-Ministro forçado a ceder. Terá sido esse o contexto em que Portas escreveu ao Primeiro-Ministro, sem conhecimento de mais ninguém, nem mesmo do próprio partido que liderava e lidera.
Numa altura em que o risco é total, há que jogar todas as cartas. E foi isso que Portas fez, desiludindo, pelo menos momentaneamente, aqueles que votaram em si.
O governo demorou tempo a remodelar-se, nas políticas, nos ministros. Era tarde para que surgisse, novamente, com a cara lavada, com uma nova energia para uma segunda fase do mandato em que, a um ano da saída da Troika, se começa a discutir o Portugal pós-Troika.
Não sei, se Portugal assistiu, na semana passada, a uma brincadeira de miúdos, a que muitos chamaram de garotos. Não sei. Pelo menos, pareceu.
Partilhei o nervosismo que assolou a casa de quase todas as famílias portuguesas. Partilhei o sentimento de condenação perante aquilo que considerei ser a imprudência de Portas, a falta de flexibilidade e diálogo de Passos e a inação permanente de um Presidente da República, que não ajudei a eleger, e que nunca exerceu, pelo menos de uma forma inequívoca e visível, os poderes que lhe estão legalmente confiados, incluindo na Lei Fundamental.
Hoje, tenho uma percepção diferente. Como teria sido com outro que não Portas? Como teria sido com outro que não Cavaco?
Sem Portas, Portugal estaria sem governo, com um governo minoritário ou com um governo maioritário mas sem comunhão de ideias.
Sem Cavaco, Portugal estaria a caminho de eleições (estando, pelo menos durante dois meses, sem governo) ou com um governo de iniciativa presidencial numa coligação alargada ao Partido Socialista, o que, em caso de fracasso, poderia pôr em causa o fraco, mas necessário, sistema partidário existente.
Talvez Portas tenha agido bem. Talvez a inação de Cavaco tenha, finalmente, dado frutos. Hoje, em vez da ansiedade, temos esperança. Numa maioria refrescada, num governo onde todos estão em sintonia, numa política diferente que permita, ao país, dar uma nova resposta perante as dificuldades.
O tempo novo chegou a Portugal. E oxalá que, daqui em diante, se ponha o interesse nacional à frente de um compromisso que nos tem levado à miséria, castrando o nosso futuro. Renegoceie-se a dívida, peça-se o perdão de parte dela, ressuscitem-se os portugueses, dando-lhes um pouco mais de ar.  
A partir de agora, apenas pedimos, e mesmo por favor, que sejam responsáveis.

E nunca se esqueçam que, sem dinheiro e sem economia, não se pagam dívidas. 

1 comentário:

miguel vaz serra....... disse...

Amigo António
Comungo das tuas palavras em 99%.
No meu caso Portas não me desiludiu,aliás dei-lhe pelo pedido de demissão os Parabêns bem conscientes de que não havia outra alternativa para a actitude contínua de Pedro Passos Coelho.
Quando me dizem que Portas teve que engolir agora um sapo enorme,rio.
Engoliu milhentos no passado mas desta vez devolveu um Javali gordo imenso que Passos teve que engolir de uma só vez e sem engasgar!!!!
Ganhou Passos mesmo que não tenha consciência disso, ganhou o País.