Todos nós, nas nossas vidas, já
tivemos derrotas com que não contávamos. Refiro-me às situações em que, apesar
de estarmos bem preparados, entramos com o pé esquerdo e, na “hora h”,
escorregamos e metemos a pata na poça. São coisas que acontecem, que custam a
digerir, que nos tiram o sono e nos fazem ter outro tipo de preparação para os
episódios seguintes das nossas vidas.
A derrota com a Alemanha custa
ainda mais a digerir. E não pode haver bodes expiatórios quando foi evidente
que todos estiveram a um nível inexplicavelmente baixo face aos mínimos que poderíamos
expectar.
Analisadas bem as coisas, o que a
seleção nacional fez naquele terrível jogo de segunda-feira foi espelhar, ao
mais ínfimo pormenor, a verdadeira imagem do país. Portugal é aquilo. E não me
refiro apenas à falência de uma lógica de mais do mesmo.
Comecemos pelo princípio. A fase
de apuramento tinha sido muito turbulenta. E a escolha dos vinte e três
retrata, na perfeição, o que está a matar boa parte das empresas portuguesas.
Os jovens talentos foram preteridos. As ultrapassadas e influentes velhas
guardas continuam presentes, mas escondidas, simplesmente à caça dos prémios. A
estes somam-se dois ou três atletas com valor duvidoso, que estão apenas para
picar o ponto e fazer número.
O chefe, mister Bento, é, mais do
que os 23, o elo mais fraco. Esconde-se, não dá o corpo às balas e
desresponsabiliza-se, como se tivesse feito o que podia. Com medo de inovar e
de impor um espírito ganhador e de equipa, já tem o que queria. Refiro-me ao
seu contrato, milionário.
Por uma questão de respeito, delicadeza
e educação, não vou referir-me aos que estão acima de Bento e que chegaram às
funções da forma que é pública. Digo apenas que são responsáveis pela escolha
de Bento (que, olhando para o seu contrato, está para ficar), dos vinte e três
e do descalabro anunciado que ocorreu no jogo contra a Alemanha.
É tudo muito fraquinho. É o que
é. Mas o que, de diferente, poderíamos esperar? Que a coqueluche levasse a
equipa às costas? Que o guarda-redes nos defendesse de todos os erros? Além dos
jornalistas e dos vendedores de ilusões, só um tarado poderia exigir isso.
Esta seleção leva, ao Brasil, o retrato do que Portugal é hoje, dando, por isso, uma ideia de mediocridade. Mas oxalá que, na seleção, tal como no país, os poucos que têm valor saibam
ser profissionais e deixem, pelo menos, uma imagem digna, não daquilo que somos, mas do que poderíamos ser.
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