terça-feira, 13 de outubro de 2015

A democracia no caixote do lixo e o fim do mundo em cuecas


Sintetizemos: mais do que em pânico ou, pelo menos, com ansiedade e expectativa, o país está incrédulo. Primeiro, porque Costa não devia ter tirado o tapete a Seguro. Segundo, porque, tendo tirado, deveria ter ganho as legislativas com maioria absoluta. Terceiro, porque perdeu as eleições e não se demitiu. Tudo o resto já é demais e faz-nos demasiada confusão à cabeça.

No meio do caos, surgiu, porém, uma evidência: caíu a máscara ao meu homónimo. O homem do rigor e da confiança transformou-se no homem da desvergonha e da instabilidade. Nada nos chateia mais do que a evidência de alguém que perde a cara, que não tem palavra e que, colocando a democracia no caixote do lixo, depois de perder nas urnas, demonstra apenas que quer o poder pelo poder.

O que se está a passar em Portugal é, como diria Pires de Lima, uma obscenidade. Eu talvez fosse mais longe do que isso e, recorrendo à expressão utilizada pelo camarada Garcia Pereira, o que se fez aos portugueses foi uma traição. Uma traição à nossa história democrática, uma traição aos eleitores. E a ideia de que há uma maioria, em Portugal, que é favorável a um governo entre o Partido da Bancarrota e a esquerda extrema, antieuropeísta e radical é o maior embuste que alguma vez alguém tentou vender.

A interpretação dos resultados eleitorais é fácil de fazer: a coligação de governo ganhou de forma clara, mas perdeu votos e deputados, o que é natural devido às políticas que foi forçada a seguir. Mas ganhou. E só ganhou porque os portugueses, nas urnas(!), disseram que não queriam que fosse o PS a governar. A conjugação desses dois fatores teve como consequência, um aumento do número dos votos de protesto, canalizados, sobretudo, no Bloco de Esquerda. Qualquer outra interpretação que possa ser tida no aumento dos votos na extrema esquerda é uma tentativa, bizarra mas clara, de enganar os portugueses, tal como nos tentaram enganar com os outdoors, ainda espalhados pelas ruas, que nos diziam que “é o seu voto que decide”.

Este filme, que contou com a intervenção cultural de Carlos do Carmo e com a participação (ainda que apenas como figurante) de Sampaio da Nóvoa, tinha todos os condimentos para consubstanciar uma grande comédia, se não fosse o facto de se traduzir num suicídio do Partido Socialista, se não fosse o facto de afundar um país que despertava para o crescimento, se não fosse o impacto que vai ter na nossa carteira. 

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