sábado, 16 de junho de 2012

Nós não desistimos.



O Patrício tem idade para ser meu avô. Vive no Algarve e a sua reforma, mesmo muito bem gerida, não chega para pagar as despesas de um português médio. Vai e vem de Lisboa de quinze em quinze dias, com excepção dos dias de semana em que também há jogo. Vai de norte a sul do continente e às ilhas. Vai com o futebol, com o futsal, com o andebol e com o hóquei. Vai à Alemanha, à Suíça, a Inglaterra. Vai a Donetsk, vai a todo o lado. Aterra em Lisboa de madrugada e segue, de comboio, em direcção a casa, no Algarve.
O Rúben é desempregado. Com uma poupança que juntou, foi em direcção a Kharkiv para ver o Sporting apurar-se para as meias-finais da Liga Europa, mas só comprou a viagem de ida, porque o dinheiro que tinha não chegava para ir e voltar. Acabou por regressar com a ajuda de outros sportinguistas, mas foi nessa incerteza que festejou o apuramento do clube do seu coração.
O Vasco acabou o seu curso e já trabalha. Para a sua idade e para o currículo que tem, não ganha mal. Mas não teve férias, com excepção de três dias que pediu pelo Natal, porque os dias que tinha foram utilizados para poder ir, com amigos, nas viagens do seu Sporting na Europa.
Não sei ao certo em que curso está, mas o Zé Maria ainda está na faculdade. Como tinha tido 9 na primeira frequência, precisava de ter positiva na segunda para não chumbar numa cadeira. Essa frequência foi marcada para o dia em que o Sporting jogou em Bilbao. O Zé Maria não hesitou em deixar essa cadeira para o ano que vem. Era “Dia Sporting”, arrumou a mochila e pôs-se a caminho.
O Francisco tem dinheiro suficiente para poder olhar com indiferença para o futebol. É casado, pai, tem sucesso na vida. Não perde um jogo. E num dia crítico em que estava em causa a honra e o futuro do seu Sporting, às seis da manhã, estava presente na defesa dos interesses do seu clube. Sem causar qualquer problema, caiu com violência numa carga policial. No fim-de-semana a seguir, já estava, outra vez, no estádio a apoiar a equipa.
O João tem menos dois anos que eu. Perdeu um sapato numa ida ao estádio da Luz. Não hesitou em seguir em diante. Viu o jogo e voltou a Alvalade, por cima de pedra, asfalto e terra batida.
O António, que sou eu, teve Gripe A. Com febre, bastante febre, tinha uma viagem marcada com o Henrique para ir ver o Sporting em Berlim, onde estava uma temperatura de vários graus negativos. Não hesitou em fazer a mala, apanhar boleia para o aeroporto e ir apoiar o Sporting no meio do “gelo” da capital alemã.
O Bruno trabalhava num café. Ganhava o salário mínimo, que era mais do que suficiente para sobreviver, que é o mesmo que dizer que tinha dinheiro para poder ir ver o Sporting a qualquer parte.  O problema é que não tinha férias, nem folgas. Trabalhava todos os dias desde as cinco da manhã nesse café, que já não me lembro se era em Espinho ou na Póvoa do Varzim. Sem bilhete, arriscou perder o trabalho para estar às cinco e meia da manhã em Lisboa para tentar arranjar um último bilhete que lhe permitisse ir até Madrid ver o jogo com o Atlético.
A Manuela vive em Loures e tem 51 anos, idade mais do que suficiente para ter juízo. A paixão que tem pelas modalidades amadoras e a forma tão pessoal como sente o Sporting fez com que criasse uma claque só para essas modalidades. Vai de norte a sul do país, quase sozinha, para motivar os atletas para a conquista de novas vitórias.
A Maria José fez agora 79 anos. A sua paixão pelo Sporting fez com que fosse escolhida para interpretar a marcha do seu clube. Com essa idade, mantém, no cabelo, uma madeixa pintada com a cor do sangue que lhe corre nas veias.
A caminho dos 90 anos, Maria de Lurdes, sócia do Sporting desde que nasceu, e como demonstração da devoção ao clube, atirou-se de pára-quedas. Foi a pessoa mais idosa a fazer queda livre.
O Gonçalo ainda não tinha a carta nem carro. Com uma mochila às costas, foi, debaixo de chuva, até Olhão para ver o Sporting.
O Nuno é um conhecido fotógrafo e já terá estado em quase todos os países do mundo. É autor de livros e também trabalha para a televisão. Leva o cachecol e a bandeira do Sporting até todos os pontos do mundo.
O Mustafa esteve preso durante alguns anos e poucos eram os dias em que poderia ter a mínima liberdade. Passava o Natal longe da sua família, por sua própria iniciativa, aproveitando os dias disponíveis para ver ao vivo os dérbis do Sporting.
O Dário é um jovem com 21 anos e pertence uma claque. Quando viu um jogador do Sporting dirigir-se à bancada onde estava, perdeu toda a racionalidade. Não conseguia pensar em mais nada, senão no sonho de agarrar a camisola do craque. Caiu ao fosso, partiu um braço. Mas continua a ser um dos leões presentes nos jogos do Sporting.
Não sei o nome, mas houve um sportinguista que, no festejo de um título, subiu um dos postes da ponte sobre o Tejo para, lá em cima, colocar uma bandeira do Sporting.
Houve também jovens que morreram, acidental ou criminosamente, por amor ao Sporting.
Todas estas são histórias reais e mostram que todos somos muito diferentes. Mas há uma coisa, uma paixão, um amor, que nos une. É uma união que faz superar todas as diferenças. Partilhamos o Esforço, a Dedicação, a Devoção. Partilhamos a Fé. Partilhamos as alegrias, as vitórias e as euforias. Partilhamos as tristezas, e muitas delas ainda estão por consolar.
Vivemos tempos difíceis, tempos muito difíceis. Mas nós não desistimos, nunca desistimos. E nunca vamos desistir.
Nunca vamos desistir.
Bom fim-de-semana. E viva o Sporting!

3 comentários:

Unknown disse...

Faltou falar da fantástica D. Maria de Jesus, proprietária do café Brasil, em Coimbra. Ainda se lembram que nessa casa o café manteve-se ao preço de 2.50 escudos até se quebrar o jejum de 18 anos em 2000?
Viva o Sporting!

Agostinho Costa
Vila Nova de Famalicão

Unknown disse...

Faltou falar da fantástica D. Maria de Jesus, proprietária do café Brasil, em Coimbra. Ainda se lembram que nessa casa o café manteve-se ao preço de 2.50 escudos até se quebrar o jejum de 18 anos em 2000?
Viva o Sporting!

Agostinho Costa
Vila Nova de Famalicão

moijeeu disse...

Que belo post.
Digno de sair no nosso jornal "Sporting"
Envie-o para lá. Todos os Sportinguista por esse mundo fora deverião lê-lo.
Parabéns

Ass: Leoa Ferrenha