sexta-feira, 27 de julho de 2012

Portugal a arder


É difícil compreender como é possível que, perante as dificuldades que vivemos, estejamos todos, quase a entrar no mês de Agosto, a brincar ao Carnaval. De facto, estamos perante uma espécie de vírus carnavalesco que tem contagiado pessoas que vão desde os sindicatos aos jornalistas, passando necessariamente por outras classes profissionais, pelos portugueses comuns.
A postura dos sindicatos, olhados na sua generalidade, assemelha-se à postura do Bloco de Esquerda na altura em que foi formado. Em vez de defenderem os interesses dos trabalhadores, pelos quais se deveriam bater, os sindicatos de hoje vestem máscaras, reunindo meia dúzia de pessoas com alergia ao trabalho em teatros de rua.
A comunicação social vai atrás. Porque sempre adorou minorias, preferindo o espectáculo, por mais triste que seja, aos assuntos sérios. E quem devia colocar assuntos novos na ordem do dia continua preso a um homem chamado Miguel Relvas. É uma luta em vão. É um não-assunto. Que não diz respeito ao Governo, mas a uma pessoa e a uma Universidade.
Aliás, todas as tentativas de aglomerar um conjunto de pessoas para pedir a demissão de Relvas foram pífias. Quase tão pífias como as cenas tristes que os sindicatos (esses, sim, sem nenhum sentido de responsabilidade) têm encenado.
O que me enerva é aquilo que não consegue enervar os sindicatos, os jornalistas e aqueles radicais de esquerda que, por vestirem o seu fato, são responsáveis por construir opinião.
O país está a arder. E é importante perceber a razão.
Ora, na minha opinião, mais do que outras razões que dizem respeito aos tribunais, existem razões políticas que são causa de grande parte do Portugal que ardeu nesta época de incêndios.
Há meios que não foram accionados a tempo. Porque não havia dinheiro. Mas será que a falta de dinheiro justifica poupanças a este nível? O resultado está à vista de quem tem olhos e consegue ver.
E, claro está, já nos falam que há 100 milhões de euros para reflorestar. Os 100 milhões que não houve para desmatar, que não houve para acionar os meios de combate aos incêndios, que não houve para prevenir que o drama se repetisse.
Isto, sim, merece reprovação. Porque isto, sim, é política. E há responsáveis políticos pelos incêndios que assolaram o país.
Mesmo que não queiram falar disto, que não queiram chamar os bois pelos nomes, poderemos sempre discutir este tema a propósito dos debates que têm sido feitos sobre a troika, a Europa e a senhora Merkel.
De uma vez por todas, temos de apurar responsabilidades políticas e temos de levar este assunto aos locais onde deve ser discutido.
Não nos podemos esquecer que estamos numa União, que tem objectivos ao nível agrícola e ambiental. Temos de nos consciencializar disso e de reclamar pelos nossos direitos.
Mesmo em tempo de crise, trata-se, afinal, da integridade do nosso território. E é neste ponto que o dinheiro não pode faltar.

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