terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Regime faliu


Não sei, ao certo, o que mais revolta os portugueses. Se serão as medidas anunciadas pelo Governo.  Ou a inércia do principal partido da oposição, de quem não se vê nem ouve qualquer reacção. Dizem que Seguro vai falar com Cavaco. Como se Seguro (ex-deputado de um partido que, durante seis anos, apoiou um governo liderado por José Sócrates) ou Cavaco Silva (Primeiro-Ministro e Presidente da República durante demasiado tempo) não personalizassem o autêntico falhanço governativo desde 1995.
Sei que se fala, há muito tempo, de justiça. De justiça social. Mas, seja porque não se quer, seja porque não é possível, o que se exige, agora, é que seja feita justiça. Em nome do povo, em nome dos sacrifícios por que todos passamos.
Se há que ter mão pesada relativamente a quem, fraudulentamente, não cumpre as suas obrigações fiscais, também a tem que haver relativamente aos que, culposamente, arruinaram as contas públicas dizendo que as estavam a equilibrar.
O país irá parar de vez. Em manifestações e greves que não darão em coisa nenhuma. Os partidos continuarão a discutir o sexo dos anjos. E, ainda por cima, nunca os partidos estiveram tão partidos como estão hoje. 
Portugal deve começar, já, a discutir a falência do regime. De um regime que convidou à incompetência e à corrupção. Que foi vivendo, dando a sobrevivência ao povo em troca da riqueza espalhada entre seitas. Esse regime faliu. E fez falir dezenas de milhares de empresas e o próprio Estado.
Ninguém vê, nos ânimos exaltados pelo descontentamento, solução. Não dá para a ver. Porque, como comecei por dizer, pior do que não haver alternativa é a alternativa ser ainda pior que a solução temporariamente existente.
À esquerda, o PC continua fechado na caixa de onde nunca saiu desde 74. O Bloco começou com os experimentalismos típicos de quem não sabe o que quer. E o PS, adormecido na inércia de Seguro, parece, neste silêncio confrangedor, assumir o falhanço que levou aos efeitos que todos já estamos a sentir. A sentir e a pagar.
Neste cenário e perante a revoltante imutabilidade deste regime, e sem contar com os radicalismos utópicos da direita e da esquerda anarquista, não há alternativa.
O regime faliu. E é isso que devemos discutir. 
Talvez valha a pena recuar até 2009, onde se falou da suspensão da democracia portuguesa, que nem chega a ser democracia.
Talvez valha a pena voltar a 74,75 e 76, onde se construiu uma teoria para Portugal que assentava no Estado de Direito, na separação dos poderes, na liberdade mas também na justiça. Uma teoria que nunca deixou de o ser. Porque nunca se praticou.
Talvez valha a pena recuar até antes de 74. Apesar das evidências anti-democráticas, nessa altura, ao que consta, os políticos não enriqueciam com a política. E o povo nunca viveu acima daquilo que podia.
Não há nada mais duro, e porventura mais cruel, do que assumir aquilo que, durante décadas, rejeitámos. Há que acabar com preconceitos e, conhecendo agora os erros dos dois regimes em que viveram boa parte dos portugueses vivos, há que voltar a discutir o Estado, voltar a discutir o regime.
Ou então vamos para a rua gritar, pedir aquilo que sabemos que não nos podem dar, como seres selvagens e ignorantes, como quem apenas assobia para o ar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Subscrevo...na íntegra! Bravo!

miguel vaz serra....... disse...

Parabéns António!!!!!!!!!
Está muito bem escrito e disseste tudo o que eles pensam mas não dizem nem fazem e sabes porquê?
Porque não importa como fica Portugal se o dinheiro deles não está cá....
Todos, mas todos, tem o futuro assegurado.
Estão a borrifar-se para o resto.
Odiaram MFL. Gozaram com ela à fartazana....Hoje TODOS lhe dão razão... Nem o povo sabe votar nem nunca o ensinaram....Não era conveniente..................