quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Acordai.




Tenho vinte e quatro anos de vida e só conheço o Portugal democrático. Ainda assim, tenho memória, a suficiente para me lembrar que a vida foi barata durante muitos anos. Comia-se um hambúrguer por menos de metade do preço. As pessoas viviam bem, a cidade estava cheia de gente e, no mundo rural, havia movimento. Nesses primeiros anos, de ilusão para os portugueses, acho que me consegui iludir a mim próprio. A vida corria bem a toda a gente e, ao Estado, não parecia faltar o dinheiro para os grandes eventos da mudança de século, nem para as auto-estradas que nos ligam uns aos outros.
Se me perguntarem o que foi que mudou, entretanto, eu confesso que hesito em explicar. Sei quem governou durante um período considerável de tempo e sei o que fez. Sei também quem enriqueceu e quem, estrangulado pelo Estado, pede emprestado para poder comer.
Sei também que não há justiça. Que os protegidos estão bem protegidos. E que os desprotegidos podem não demorar um ano a morrer de fome. Conheço a conjuntura, mas permitam-me que não me sinta responsável.
Sim, está bem. Sou social-democrata desde que me conheço, militante do PSD desde que posso. Mas não me revejo neste excesso de austeridade. E não acredito, precisamente, porque sou social-democrata.
Não há país que sobreviva sem classe média. Não há sociedade que se desenvolva sem uma economia a funcionar. Não há caminho para o crescimento que possa ser encontrado num beco sem saída que nos força a andar para trás. Não acredito nesta receita, demasiado indigesta para que o povo, excessivamente sacrificado, a possa engolir.
Mais do que militante do PSD, sou social-democrata. E sou precário, como parte considerável dos jovens que não alinhou na debandada. Trabalho mais do que as oito horas diárias, que as quarenta horas semanais e, se for preciso, ainda me pedem para trabalhar ao fim-de-semana. Aceito isso, como é óbvio, porque preciso de viver e de ganhar, pelo menos, para poder almoçar com os meus colegas. Mas acho uma injustiça que se diga que é este governo que castra o futuro dos jovens.
Não alinho no bota-abaixo da esquerda radical, e também a há no PS, que quer proibir aquilo que não gosta e liberalizar o que é anti-natural e perturbador social. Por exemplo, quando se bateram para que um gay pudesse casar com outro gay esqueceram-se que os governos, dos partidos do centro, estavam a levar o país para um buraco demasiado fundo para que um jovem pudesse, em idade “útil”, pensar em casamento. Com um homem ou com uma mulher.
Não há partido que possa ser desresponsabilizado pelo estado em que nos deixaram o país. Não há. Da esquerda à direita, passando, logicamente, pelos governos de Cavaco a Sócrates. Sempre sem esquecer Guterres. E não contando com os que, quando nos tentavam levantar, foram empurrados porta fora. Mesmo assim, como acima justifiquei, não acredito que esta seja a cura para um país que se herdou doente. O povo sempre disse, e com razão, que, se não se morre da doença, morre-se da cura.
Só posso aceitar com intolerância a sugestão do primeiro-ministro para as pessoas da minha geração. Aceitaria, se dissesse que a culpa foi da geração dele. E, talvez, da que lhe antecedeu. Mas não aceito o convite, que obviamente retribuo, para fazer as malas.
Não me consigo, ainda assim, resignar. Mas não posso, nem quero, continuar a trabalhar para aquecer, para pagar a casa a quem não quer trabalhar e para pagar abortos, por exemplo.
Sei que este é um tempo extraordinário, de sobrevivência social, de sacrifício nacional, e, por isso, aceito algumas das sugestões que, noutro tempo e por princípio, nunca aceitaria. Por exemplo, aceito que, nesta altura, se considere a hipótese de legalizar, para tributar, a prostituição. As putas, se querem ser putas, que contribuam para nos tirar do pântano.
Este é um tempo extraordinário. Para nós, para o país e para o partido que lidera a coligação que nos governa. Sugiro, agora apenas como militante, que se faça um congresso extraordinário, aberto a todos os militantes, para que nos expliquem o caminho, para que nos expliquem onde acham que nos vão levar. Sei que, como eu, há milhares de militantes, trabalhadores, social-democratas, inconformados e inconformistas.  E, se o governante não ouve o governado, é porque não sente, ou nunca sentiu, as dificuldades por que passamos.
Como portugueses, queremos honrar os compromissos. Mas não podemos matar o país nesta espécie de tentativa de suicídio colectivo em que se traduz a proposta de Orçamento de Estado.
Não acredito no PS, que me faz pagar, todos os dias, dívidas que não são minhas. Não acredito na esquerda radical. Porque estiveram desatentos e porque não há nada que seja mais comunista do que tirar ao que tem para dar ao “pseudo-todo” que é o Estado.
O PSD existe, está vivo. Acredito, por isso, muito mais nas propostas alternativas que possam surgir internamente do que em meros slogans hipócritas e utópicos vindos daqueles que continuam a jogar ao toca e foge.
Acredito na social-democracia e estou convencido de que ainda há social-democratas no PSD. E é a esses que me dirijo com uma palavra. 
Acordai.

1 comentário:

miguel vaz serra....... disse...

Amigo António.
Tirando uma frase ou outra, concordo com o que escreves e apesar de não ser do PPD ( esse era o Partido que conheci antes da "mudança" para pior ) também acho que lá há muita gente com valor. Basta ter conhecido a obra da Senhora tua mãe para atestar isso mesmo.
Isto no entanto não tem saída por aí. Nem Passos nem NINGUÊM pode mudar nada com a fórmula UE ( União Europeia ). Pode ser o descalabro, mas só saindo do Euro Portugal se poderia endireitar a longo prazo. Lógico que se a fórmula UE mudar, então as coisas melhorariam sem necessidade de tal.
2014 vai ser um horror,António. 2013 será péssimo, 14 será de fome e miséria,roubo e alarme social.
Passos não tem força, nem carisma nem inteligência para se "fazer ouvir" na Europa. É um empregado de escritório a substituir o patrão....Muito boa vontade, coitado, mas "duro" como uma rocha.
Seguro então nem se fala. Acho que teriam que lhe mudar a fralda de 4 em 4 horas se fosse PM.
Já pensei em tantas possibilidades que cheguei à conclusão de que com Cavaco na PR é impossível fazer nada. Portas está farto e não perdoa a mentira de Passos. ( eu tb nunca lhe perdoaria ). Deixou-o ficar mal perante o País e o CDS.
Para não o acusarem de traidor, calou e manteve-se ( de momento ) no Governo, mas Passos matou a coligação com aquelas declarações que Borges o mandou ler quando Portas estava fora. Uma coisa é eu dizer-te que iremos falar de esta ou aquela possibilidade e outra é eu dizer que como te falei delas, tu concordas e portanto eu vou fazê-las sem te perguntar a tua última palavra sobre.
Foi isso que se passou!
Passos passou-se e afogou-se.
Mostra os poucos neurónios que tem.
Gaspar não tem a mínima noção do que é economia. Gere isto como se fosse uma Empresa e bastante pequena. Deve ter aprendido economia com o primo-direito em casa da tia, mãe de Francisco Louçã. Que família!!!!
É convencido e arrogante, altamente irritante.
Portas já há muito que o "fichou" e Passos sabe-o bem.
Ora nunca ia dar resultado.
Portas tem experiência de Governo. Barroso,Santana e agora. Pode ter muitos defeitos mas é perfeito no trabalho que faz, quanto mais não seja por mania, mas é!
O que lá está do novo PPD é uma cambada de miúdos que não sabem nem conseguem livrar-se das 3 décadas de lobis que Mário Soares, Cavaco e depois de forma quase mafiosa, Sócrates, deixaram enraizar.
Todos e ainda continuam a facturar. Basta ver-lhes as offshore.
Por isso repito.Não vale a pena queimar neurónios que nós não vamos nunca sair disto e sabes? Passos tem razão.....Faz as malas amigo!