Tenho vinte e quatro anos de vida
e só conheço o Portugal democrático. Ainda assim, tenho memória, a suficiente
para me lembrar que a vida foi barata durante muitos anos. Comia-se um hambúrguer
por menos de metade do preço. As pessoas viviam bem, a cidade estava cheia de
gente e, no mundo rural, havia movimento. Nesses primeiros anos, de ilusão para
os portugueses, acho que me consegui iludir a mim próprio. A vida corria bem a
toda a gente e, ao Estado, não parecia faltar o dinheiro para os grandes
eventos da mudança de século, nem para as auto-estradas que nos ligam uns aos
outros.
Se me perguntarem o que foi que
mudou, entretanto, eu confesso que hesito em explicar. Sei quem governou
durante um período considerável de tempo e sei o que fez. Sei também quem
enriqueceu e quem, estrangulado pelo Estado, pede emprestado para poder comer.
Sei também que não há justiça. Que
os protegidos estão bem protegidos. E que os desprotegidos podem não demorar um
ano a morrer de fome. Conheço a conjuntura, mas permitam-me que não me sinta
responsável.
Sim, está bem. Sou
social-democrata desde que me conheço, militante do PSD desde que posso. Mas não
me revejo neste excesso de austeridade. E não acredito, precisamente, porque
sou social-democrata.
Não há país que sobreviva sem
classe média. Não há sociedade que se desenvolva sem uma economia a funcionar. Não
há caminho para o crescimento que possa ser encontrado num beco sem saída que
nos força a andar para trás. Não acredito nesta receita, demasiado indigesta
para que o povo, excessivamente sacrificado, a possa engolir.
Mais do que militante do PSD, sou
social-democrata. E sou precário, como parte considerável dos jovens que não
alinhou na debandada. Trabalho mais do que as oito horas diárias, que as
quarenta horas semanais e, se for preciso, ainda me pedem para trabalhar ao
fim-de-semana. Aceito isso, como é óbvio, porque preciso de viver e de ganhar,
pelo menos, para poder almoçar com os meus colegas. Mas acho uma injustiça que
se diga que é este governo que castra o futuro dos jovens.
Não alinho no bota-abaixo da
esquerda radical, e também a há no PS, que quer proibir aquilo que não gosta e
liberalizar o que é anti-natural e perturbador social. Por exemplo, quando se
bateram para que um gay pudesse casar com outro gay esqueceram-se que os
governos, dos partidos do centro, estavam a levar o país para um buraco demasiado
fundo para que um jovem pudesse, em idade “útil”, pensar em casamento. Com um homem ou
com uma mulher.
Não há partido que possa ser
desresponsabilizado pelo estado em que nos deixaram o país. Não há. Da esquerda
à direita, passando, logicamente, pelos governos de Cavaco a Sócrates. Sempre
sem esquecer Guterres. E não contando com os que, quando nos tentavam levantar,
foram empurrados porta fora. Mesmo assim, como acima justifiquei, não acredito
que esta seja a cura para um país que se herdou doente. O povo sempre disse, e
com razão, que, se não se morre da doença, morre-se da cura.
Só posso aceitar com intolerância
a sugestão do primeiro-ministro para as pessoas da minha geração. Aceitaria, se
dissesse que a culpa foi da geração dele. E, talvez, da que lhe antecedeu. Mas
não aceito o convite, que obviamente retribuo, para fazer as malas.
Não me consigo, ainda assim,
resignar. Mas não posso, nem quero, continuar a trabalhar para aquecer, para
pagar a casa a quem não quer trabalhar e para pagar abortos, por exemplo.
Sei que este é um tempo
extraordinário, de sobrevivência social, de sacrifício nacional, e, por isso,
aceito algumas das sugestões que, noutro tempo e por princípio, nunca
aceitaria. Por exemplo, aceito que, nesta altura, se considere a hipótese de
legalizar, para tributar, a prostituição. As putas, se querem ser putas, que
contribuam para nos tirar do pântano.
Este é um tempo extraordinário. Para
nós, para o país e para o partido que lidera a coligação que nos governa. Sugiro,
agora apenas como militante, que se faça um congresso extraordinário, aberto a
todos os militantes, para que nos expliquem o caminho, para que nos expliquem
onde acham que nos vão levar. Sei que, como eu, há milhares de militantes,
trabalhadores, social-democratas, inconformados e inconformistas. E, se o governante não ouve o governado, é
porque não sente, ou nunca sentiu, as dificuldades por que passamos.
Como portugueses, queremos honrar
os compromissos. Mas não podemos matar o país nesta espécie de tentativa de suicídio
colectivo em que se traduz a proposta de Orçamento de Estado.
Não acredito no PS, que me faz pagar, todos os dias, dívidas que não são minhas. Não acredito na esquerda radical.
Porque estiveram desatentos e porque não há nada que seja mais comunista do que
tirar ao que tem para dar ao “pseudo-todo” que é o Estado.
O PSD existe, está vivo. Acredito,
por isso, muito mais nas propostas alternativas que possam surgir internamente
do que em meros slogans hipócritas e utópicos vindos daqueles que continuam a
jogar ao toca e foge.
Acredito na social-democracia e
estou convencido de que ainda há social-democratas no PSD. E é a esses que me
dirijo com uma palavra.
Acordai.
1 comentário:
Amigo António.
Tirando uma frase ou outra, concordo com o que escreves e apesar de não ser do PPD ( esse era o Partido que conheci antes da "mudança" para pior ) também acho que lá há muita gente com valor. Basta ter conhecido a obra da Senhora tua mãe para atestar isso mesmo.
Isto no entanto não tem saída por aí. Nem Passos nem NINGUÊM pode mudar nada com a fórmula UE ( União Europeia ). Pode ser o descalabro, mas só saindo do Euro Portugal se poderia endireitar a longo prazo. Lógico que se a fórmula UE mudar, então as coisas melhorariam sem necessidade de tal.
2014 vai ser um horror,António. 2013 será péssimo, 14 será de fome e miséria,roubo e alarme social.
Passos não tem força, nem carisma nem inteligência para se "fazer ouvir" na Europa. É um empregado de escritório a substituir o patrão....Muito boa vontade, coitado, mas "duro" como uma rocha.
Seguro então nem se fala. Acho que teriam que lhe mudar a fralda de 4 em 4 horas se fosse PM.
Já pensei em tantas possibilidades que cheguei à conclusão de que com Cavaco na PR é impossível fazer nada. Portas está farto e não perdoa a mentira de Passos. ( eu tb nunca lhe perdoaria ). Deixou-o ficar mal perante o País e o CDS.
Para não o acusarem de traidor, calou e manteve-se ( de momento ) no Governo, mas Passos matou a coligação com aquelas declarações que Borges o mandou ler quando Portas estava fora. Uma coisa é eu dizer-te que iremos falar de esta ou aquela possibilidade e outra é eu dizer que como te falei delas, tu concordas e portanto eu vou fazê-las sem te perguntar a tua última palavra sobre.
Foi isso que se passou!
Passos passou-se e afogou-se.
Mostra os poucos neurónios que tem.
Gaspar não tem a mínima noção do que é economia. Gere isto como se fosse uma Empresa e bastante pequena. Deve ter aprendido economia com o primo-direito em casa da tia, mãe de Francisco Louçã. Que família!!!!
É convencido e arrogante, altamente irritante.
Portas já há muito que o "fichou" e Passos sabe-o bem.
Ora nunca ia dar resultado.
Portas tem experiência de Governo. Barroso,Santana e agora. Pode ter muitos defeitos mas é perfeito no trabalho que faz, quanto mais não seja por mania, mas é!
O que lá está do novo PPD é uma cambada de miúdos que não sabem nem conseguem livrar-se das 3 décadas de lobis que Mário Soares, Cavaco e depois de forma quase mafiosa, Sócrates, deixaram enraizar.
Todos e ainda continuam a facturar. Basta ver-lhes as offshore.
Por isso repito.Não vale a pena queimar neurónios que nós não vamos nunca sair disto e sabes? Passos tem razão.....Faz as malas amigo!
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