A pouco mais de um mês das
eleições autárquicas, os mares ainda estão calmos, porventura demasiadamente
calmos, tendo em conta o facto de estas serem as eleições que, pelo menos em
teoria, vão fazer uma verdadeira revolução no poder local.
Em tempos, escrevi, neste blogue,
que discordo, em absoluto, da forma adotada pelo PSD para a composição das
listas, tendo desaproveitado uma oportunidade única para renovar, renovar a
sério o poder local, abdicando dos dinossauros que marcaram um período em que o
mapa autárquico esteve pintado em tons de laranja, com saldo positivo e obra
feita.
A participação cívica e política
deve, no meu entendimento, pautar-se por uma lógica de meritocracia, de
reconhecimento público do trabalho desempenhado (fora do poder autárquico) pelo
candidato, sendo essas algumas das razões que me fazem defender a não
eternização nos cargos e a rotatividade que, a meu ver, é totalmente desejável
no sentido de preservar uma democracia plena e saudável.
A lei, quando não é totalmente
clara, é suscetível de ser interpretada, mas não podemos esquecer que a lei é
feita por homens, sendo redigida em resultado do pensamento maioritário – neste
caso, pensamento político – de vontades livres. Se é questionável o espírito do
legislador, não deveria ser, por uma questão de sensatez, igualmente
questionável aquela que deveria ser a sua vontade. A perpetuidade num
determinado cargo público (ainda que alternando o local) é ruinosa para a nossa
democracia e, pior do que isso, é um contributo enorme para abalar ainda mais a
confiança que os portugueses deixaram de ter nela.
O meu apoio, ou a falta dele, em
algumas candidaturas não se justifica por uma questão pessoal, nem por uma
questão partidária. É por uma questão de acreditar em determinados princípios
orientadores que possam contribuir para uma democracia mais saudável.
Aliás, como militante do PSD,
como social-democrata, revejo-me em muitas das ideias que Seara ou Menezes
partilham. Tendencialmente, em circunstâncias normais, votaria sempre num
candidato do PSD.
Porém, as razões que descrevi, e
os termos em que foram descritas, impedir-me-iam de apoiar os candidatos “salta-pocinhas”,
que, impedidos legalmente de se recandidatar à presidência de determinado
concelho, contornam a lei e candidatam-se a outras Câmaras Municipais, algumas
delas limítrofes da anterior, apenas afastadas por uma estrada, por um rio, por
uma ponte.
Nas circunstâncias em que se
apresentam estas candidaturas, se fosse eleitor em Lisboa, não votaria em Seara.
Se fosse eleitor no Porto, não votaria em Luís Filipe Menezes.
Apesar de não gostar da forma
demasiado populista como tenta ganhar cada voto, não hesitaria, perante as
candidaturas existentes, em votar no António Costa. De um ponto de vista
global, fez um trabalho positivo, apenas superado pelo empreendedorismo de
Santana Lopes. Costa demorou a arrancar, mas Lisboa está mais bonita, na antiga
Musgueira, nos jardins do Campo Grande, vai ficar mais bonita no Terreiro do
Paço e talvez até tenha ficado mais exuberante e funcional na Avenida da
Liberdade e na zona do Marquês. Reconheço, porém, que a oposição construtiva
que Costa teve foi um contributo fundamental, que ajudou a cidade a recuperar o
seu esplendor.
No Porto, a questão é diferente.
Votaria em Rui Moreira, pela outra explicação que acima já dei. Vem da
sociedade civil, de um grupo de pessoas com competência e capacidade, que
merece ser premiado. Além do mais, é do Porto.
Noutros municípios, votaria
claramente no PSD, como na Figueira da Foz, Albufeira, Benavente, Oliveira de
Azeméis, Braga, Guarda, Cascais, Vila Franca de Xira, Montemor, Santarém e, em
geral, em quase todos os outros.
Uma das exceções é a de Sintra. Penso
que Marco Almeida fez um trabalho notável, que me parece ser reconhecido pelos
sintrenses, merecendo a oportunidade de liderar os destinos da autarquia
durante, pelo menos, dois mandatos. Se fosse eleitor em Sintra, não hesitaria
em votar no movimento independente encabeçado pelo Marco Almeida.
Como Oeirense, reconheço que,
neste ano, a escolha se dificulta. Parecendo-me evidente que o candidato do PS
será esmagado nas urnas, a escolha resume-se à opção entre Moita Flores, do
PSD, e Paulo Vistas, no IOMAF.
Sendo militante do PSD, nunca
hesitei em pensar pela minha cabeça. Temos o direito, mas também o dever, de
ter convicções. Temos o direito a engraçar ou não engraçar, a rever-nos ou a
não nos revermos, temos até a possibilidade de apenas não ir com a cara. O que
digo é totalmente de uma perspetiva pessoal, mas, ainda hesitante, o tempo
começa a escassear-se. Por esse motivo, e pelo excecional trabalho que foi
feito em Oeiras, começa a ganhar força a probabilidade de votar no Paulo
Vistas.
Confesso que ainda não conheço (ou
não sei quais são) os candidatos à minha Junta de Freguesia, reservando essa
decisão para a altura em que os conhecer.
Distante da realidade do partido,
totalmente descomprometido perante qualquer candidatura, tenho sentido que me
tenho tornado cada vez mais livre. Confesso que, pela estima que tenho pelo
Marco Almeida, apenas a sua candidatura me deixa mais expectativas, sendo,
inclusivamente, bastante provável que eu participe nas suas ações de campanha,
contribuindo, com aquilo que puder, para a vitória que não tenho dúvidas que
ele merece, e que certamente acabará por conseguir.
Como social-democrata militante,
e apesar das considerações que repito neste texto, não deixo de desejar que o
PSD consiga vencer as autárquicas, por duas razões fundamentais: para preservar
a estabilidade na governação do país e para premiar o trabalho brioso que foi
desempenhado pelos autarcas social-democratas de norte a sul do continente e
nas ilhas.
1 comentário:
Amigo António
Não podia concordar mais contigo.
Jamais votaria Seara nem Menezes.
Basta ver o que fizeram pelas Câmaras de onde saíram.
Gaia tem uma dívida tão grande que nem se sabe se alguma vez se poderá pagar e comparando com a obra que se fez, não se entende onde terão ido parar tantos milhões.Bom, eu imagino, mas neste País nunca se investiga nada.
Em relação à lei das autarquias, para mim é mais clara que a água.
Se a lei quisesse criar uma excepção, ou seja, que se mudassem de Câmara já se poderiam candidatar, então a lei explicaria isso mesmo.Ora não está lá nada escrito nem dá hipóteses de leituras. Tu és um homem da lei,seguramente entendes o meu ponto de vista.
A lei foi escrita de forma geral e diz que nenhum Presidente de Câmara ou Freguesia pode candidatar-se mais que 3 vezes.Ponto final.
Se por acaso o T. Constitucional não fizer esta leitura, então acho que devemos baralhar a possibilidade de acabar com esse órgão. Já temos despesa que chegue para tachos políticos!!!
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