
Eu tinha dito, há algum tempo, que a melhor altura para os benfiquistas era a que coincidia com a pré-época, período em que não há jogos e, como tal, o Benfica não perde.
Nessa altura, chegam as estrelas, de todos os cantos do mundo, a troco de dezenas de milhões de euros.
Este ano, veio o fora de série Aimar, que era vedeta de uma equipa da primeira liga espanhola, equipa que, curiosamente, desceu de divisão.
Como nos anos anteriores, o Benfica tem tendência para se reforçar muito. E para o mesmo lugar. Sendo assim, para o lugar de Aimar, o Benfica foi também buscar Carlos Martins. O tal que era indisciplinado, que foi metido no lugar, e bem, por Paulo Bento. O Carlos Martins que está no Benfica, além de bêbado e indisciplinado, é conhecido por ter sido a grande desilusão, a promessa adiada, a vedeta falhada. O próprio Scolari reconheceu isso.
Mas veio também um todo-poderoso Balboa, extremo de grande qualidade, de um universal Real Madrid, onde nunca conseguiu fazer mais do que alguns, poucos, quase nenhuns minutos.
Outro nome sonante é o de Reyes, que reforça, também ele, curiosamente, a parte ofensiva do meio campo da equipa. Conhecido por nunca ter conseguido vingar em parte alguma, chega a Portugal rotulado, como os outros, de super-estrela.
Só que estes três não vieram sozinhos. A estes junta-se um Moretto, de que todos tínhamos já saudades, um Ruben Amorim, contratado ainda na era Chalana, quando a cabeça de Rui Costa pensava em Erickson para treinador, e Jorge Ribeiro, mais ou menos nas mesmas condições.
Para o eixo do ataque, apesar de vários boatos e da ainda existente especulação, o único que veio tem por nome o de Urretaviscaya. Que se inclui no lote de jogadores completamente desconhecidos, fazendo par com Yebda.
Vimos apenas quem entrou. Vejamos quem saiu. Rui Costa, o maestro, Cebola, a estrela e Petit, o destruidor. Olhem só que três. Dir-me-ão que era o meio campo fundamental do Benfica, aquele que mais garantias nos dava. Etc.!
Mas a onda de esperança e euforia, de todos os anos, este ano foi ainda maior. O Benfica é sempre o campeão antes do campeonato começar. Mas quem ganha os troféus são o Porto, que venceu dois troféus nos últimos dois anos e o Sporting que venceu quatro no mesmo período, graças a duas supertaças (Sporting 1-0 Porto, Sporting 2-0 Porto) e duas taças de Portugal (Sporting 1-0 Belenenses, Sporting 2-0 Porto).
Começou o campeonato e, com ele, começou também o drama. E que drama. O Benfica voltou a competir. Voltou a não ganhar e, como no ano passado, perdeu, na estreia, dois pontos contra uma equipa que acaba de subir directamente da segunda liga.
O Benfica continuará à procura de uma equipa, de treinadores, de presidentes e, acima de qualquer outra coisa, da sua própria identidade.
Por exemplo, entre Vieira e Vale e Azevedo, para os benfiquistas, venha o diabo e decida. Quem diria que se sentisse mais saudades de Chalana ou de Fernando Santos quando o desejado, há precisamente um ano atrás, era um tal Camacho. Que abandonou o barco e fugiu para onde pôde. Enquanto era tempo…
Quantos treinadores, jogadores e dirigentes entraram e saíram do Benfica nos últimos anos? Para que serviu tudo isso? Se não se sabe o que se quer, como se pode saber como lá chegar? Ou mais fácil ainda. Se não se sabe como lá chegar, qual o critério de contratar e despedir pessoas?
O Benfica entrou num ciclo vicioso. Cujo resultado é não ganhar nada.
E que triste sina essa.
É drama a mais para o que o Benfica vale e, acima de tudo, para os títulos que esse clube ganha.