segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Talvez.


A política é um assunto sério.

E, para mim, quando se vota, não se vota num economista, num orador, num poeta.

Vota-se num projecto, nas ideias de um partido ou de um candidato.

Em eleições presidenciais vota-se numa pessoa. E vota-se nessa pessoa, tendo em conta o seu trajecto, político e profissional, tomando em consideração a conjuntura actual e o perfil do candidato.

Nessas eleições vota-se num chefe de Estado e num garante da Constituição.

Eu não acredito em nada que seja construído sem pilares muito fortes. Não acredito numa sociedade sem valores. E menos ainda acredito num país que não veja no seu chefe de Estado um condutor político, um defensor dos pilares e dos valores.

Portugal vive também uma crise profunda a vários níveis, com responsáveis identificáveis internamente.

Dizem-me que Cavaco Silva terá sido um grande Primeiro-Ministro, que governou o país durante uma época de grande estabilidade e desenvolvimento. É possível que tenham razão. Mas não estamos a votar para Primeiro-Ministro, mas para Presidente da República.

Avaliando o seu mandato ou um pouco mais do que isso, não posso dizer que Cavaco Silva tenha feito nada de particularmente positivo para o meu partido. Acho, até, que terá sido determinante para que Sócrates chegasse a Primeiro-Ministro. E o célebre incidente, nunca explicado, das escutas garantiu a reeleição deste.

Também não posso dizer que Cavaco tenha correspondido aos que confiaram nos seus ideais políticos e sociais e nos seus valores. Na prática, uma presidência de Alegre teria tido os mesmos resultados.

Na sua acção enquanto chefe de Estado, ficou também aquém das expectativas. Poderia ter sido parte central numa solução de estabilidade ou, pelo menos, de diálogo, para bem do país.

Durante o seu mandato, os seus conhecimentos de economia não valeram de nada ao país, porque não tiveram efeitos. E discordo daqueles que dizem que o Presidente da República está limitado nesse aspecto.

Reconheço, porém, que não vi, em Cavaco, más intenções. Pelo contrário. Cavaco percorreu largos milhares de quilómetros para desenvolver o país, falou alto e em bom som. Disse quase tudo o que poderia ter dito. Fê-lo com coragem e frontalidade, mesmo que tivesse, como ouvintes, o Papa Bento XVI ou Barack Obama.

Mas foi completamente inconsequente.

E, assim sendo, até ao final do próximo mês de Janeiro, estou numa situação muito complicada. Porque depois de ter feito um esforço enorme para me motivar com a ideia, serei o único, dentro de um certo círculo de pessoas, que tem ainda muitas dúvidas. Vou ter de votar por exclusão de partes. Provavelmente, vou votar em alguém porque confio ainda menos nos outros candidatos. Porque não acredito nas ideias deles.

Talvez tenham razão quando dizem que o que interessa são as intenções. Ou talvez não tenham. Talvez tenha de votar nas intenções. Porque a política é um assunto sério. Talvez. Talvez. Mas ainda não decidi. Ainda não me convenci. Mas, na certeza de que Cavaco vencerá as eleições, resta-me desejar-lhe as melhores felicidades para um segundo mandato onde terá de ser muito mais consequente. Sob pena de me dar razão, a mim que estou ainda no campo do “talvez”.

1 comentário:

João Santos disse...

Pois é, já somos dois.