segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O momento do ano - Sporting



O Sporting contou com vários treinadores, que montaram estratégias de jogo diferentes. Sempre tive a mesma opinião. Perdeu-se demasiado tempo para encontrar o parceiro ideal para Liedson quando, no meu entendimento, sempre acreditei que essa procura era sempre feita em vão. Nunca soube, se o problema era dos treinadores, que optaram por colocar dois avançados (Liedson e outro), se era dos companheiros encontrados para fazer "parelha" com Liedson, se era do próprio Liedson que, por ser diferente dos outros, remetia os companheiros para a sombra.
Essa é a dúvida que permanecesse num conjunto vasto de certezas, e uma dessas certezas era o empenho em jogo do Levezinho, que marcava, que defendia, que fintava, irritando os nossos adversários. Foi o símbolo de uma equipa que não conseguiu ser campeã nacional, mas que chegou a uma final europeia e venceu outras competições internas. Era o fio de continuidade de um jogo para o outro, de uma época para a outra.
Quando me disseram que iria sair do Sporting, para fins que, para agora, não interessam recordar, tive aquela sensação que se tem quando se perde um jogo decisivo nos últimos minutos. Se os adeptos estavam descrentes, aquele episódio determinaria o fim de um Sporting de muitos anos. Foi um sinal, difícil de aceitar, que poderia ser interpretado como a falência de gestão de um clube centenário que assumia o futebol como a sua montra principal. Era a assumpção de que o Sporting deixava de ser o candidato ao título que sempre foi, estando preso e sobrevivo por arames.
Por esse motivo, não fui a Alvalade no jogo da despedida. Sabia como iriam reagir os sportinguistas. Sabia como iria reagir o jogador. Se fosse, teria chorado compulsivamente, sentiria o orgulho sportinguista irremediavelmente abalado. Nesse jogo, estava na Chamusca, onde passei esse fim-de-semana e, desse jogo, vi apenas a primeira parte. Não consegui ver mais. 
E foi com algum esforço que evitei ligar a televisão em canais de notícias, ler as mensagens escritas no telemóvel, passar por papelarias que tivessem jornais à venda.
Só algum tempo depois pude ver as imagens que não demonstram mais do que aquilo que eu previa. Senti que fiz bem por não ter ido ao estádio, para a mesma cadeira de onde vi Liedson festejar golos atrás de golos. Como odeio despedidas, evito-as a todo o custo. E, tendo a consciência que se tratava da despedida definitiva do nosso artilheiro, fui cobarde e não compareci.
O que me afligia não era, todavia, a mera despedida. Sempre tive a opinião de que Liedson esteve em Lisboa durante demasiado tempo. Era, antes disso, a sua razão.
De qualquer maneira, enquanto sportinguista, esse foi o momento decisivo do ano. Nós não sabíamos nem podíamos prever o que nos traria o futuro. E foi por isso que doeu mais. 
Tempos depois e a frio, reconheço que poderia ter escolhido outros episódios como "momento do ano" do Sporting. Por exemplo, o dia das eleições, em que venceu uma lista que não apoiei e que tem feito um trabalho que supera as melhores expectativas; a contratação do portista Domingos para treinador; a reviravolta em Paços de Ferreira, que fez com que o meu coração saltasse como há muito não saltava. A partir daí, somam-se os bons momentos, muitas vitórias.
No fim de 2011, verifico que a despedida do Liedson foi o "pico negativo" entre o Sporting que era e o Sporting que viria a ser. Nesse dia, e por força dessa despedida, escreveu-se uma nova história, construiu-se um novo Sporting, muito mais parecido com aquele Sporting que era projectado e sonhado pelos primeiros sportinguistas. A despedida de Liedson foi o momento decisivo, o episódio determinante. Foi o momento do ano pelos piores, mas também pelos melhores motivos. Porque, nesse dia, virou-se uma página, fechou-se uma era, assumiu-se uma derrota de tal maneira monumental que empurrou candidatos para a presidência do Sporting, mobilizando sócios e adeptos chamados a reescrever uma história diferente.
Liedson está hoje na sua terra, com a sua família, onde se sente bem. É campeão nacional.
O Sporting, independentemente de se considerar que é, ou deixa de ser, candidato ao título, está de volta. Joga para a frente, tem uma equipa formada por grandes jogadores, tem um treinador que tem sido decisivo.
Depois da iminência de um divórcio definitivo, os sócios voltaram ao estádio, voltaram em massa e com alegria. De uma à outra parte, recuperaram-se os gestos de amor, de união e de força. Há um verdadeiro casamento entre o Clube e os sócios. Liedson torce, à distância, pelo seu Sporting. Os sportinguistas torcem, à distância, pelo Levezinho. Liedson, sem o Sporting, voltou aos títulos. O Sporting, sem o Liedson, voltou às vitórias.
Com a cara limpa das lágrimas, e saradas as feridas no nosso orgulho, ainda que escolhendo a despedida como o momento decisivo do ano, podemos, sem que o façamos na lógica de negar os factos, que, para todas as partes, foi mesmo melhor assim.

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