segunda-feira, 25 de julho de 2011

O caso Portucale


O país mediático vive da (compra e) venda de escândalos. O problema surge quando a sociedade actual, que devora todo o tipo de escândalos, os começa a exigir em alturas de mar chão. Para continuar a vender, e porque não há escândalos, desce-se um escalão e é daí que surgem os "casos". São os casos que sustentam televisões, jornais e rádios. São os casos que suportam estratégias de publicidade comercial. De um ponto de vista mais amplo, podemos mesmo dizer que são os casos que alimentam o quotidiano das pessoas.
Se repararmos, as empresas, os clubes e os partidos com maior sucesso têm, todos eles, um caso mediático. Casa Pia, Escutas, BPN, Face Oculta, Apito Dourado, Submarinos, entre tantos outros, nenhum deles teve o tratamento necessário por parte de uma Justiça que, ela própria, apenas serve para suportar uma sociedade que vive em torno de casos, uns bem graves e carentes de punições duras, outros apenas fruto da imaginação de meia dúzia de semi-conspiradores.
Um desses casos, que não tem fim, que continua a prender os jornais e as televisões é o caso Portucale, que surge ligado ao Grupo Espírito Santo, a pessoas responsáveis do CDS/PP, num Governo de maioria PSD.
Este caso, que só existe por envolver dinheiro e política, é um caso político, dirigido, que volta ao de cima sempre que é preciso condicionar eleitores ou mesmo os envolvidos no processo judicial. Obviamente, a questão de proteger os ideais ambientalistas é meramente secundária, acessória face às intenções principais.
De facto, por aquilo que é de conhecimento público, foram abatidos alguns sobreiros. Mas não foram abatidos para fins políticos. Antes o foram para que, do investimento inicialmente feito, saia um retorno grande através da utilização dos campos de golfe (em que o poder político está estratégica e obviamente interessado) e da venda de mais de 350 unidades de habitação. A herdade dispõe de vários sobreiros, alguns possivelmente plantados após o abate, bem tratados.
Ou seja, esta não é só uma questão judicial. É também uma questão política. E temos, enquanto sociedade, representada pelos políticos e pelos juízes, de decidir de uma vez por todas o que mais nos interessa. Da minha parte, e apesar de ser sempre, a priori, contra o abate de árvores, entendo que deve prevalecer sempre o interesse colectivo. E o interesse colectivo é que haja grandes investimentos, com retorno, feitos por privados e geradores de riqueza para o país e de postos de trabalho, desde que, como aconteceu naquela herdade, não se comprometa, com excessiva onerosidade ambiental, o espaço.
Estarão, por esta altura, alguns dos leitores ainda pouco receptivos às ideias que acima expus. Mas eu concluo, dizendo que, a pouca distância dessa herdade, o Estado (sim, o Estado) abateu centenas ou milhares de sobreiros, para que, dentro de várias herdades, passasse uma auto-estrada que "vai de nada a coisa nenhuma" num investimento sem retorno, descaracterizando ambientalmente o espaço em causa.
Pergunto: como pode o Estado (pela via política) decidir abater sobreiros para construir uma auto-estrada e, ao mesmo tempo, querer condenar os privados (pela via judicial) que abateram alguns sobreiros, ali a cerca de um quilómetro, para fins que interessam ao próprio Estado (poder político)?
De uma vez por todas, tem de haver um entendimento. Porque os juízes aplicam a justiça em novo do povo e os políticos devem representar, também eles, o interesse do povo. Se os responsáveis pelo abate de sobreiros num local devem ser condenados, então os outros também terão de o ser.
Concluindo, há duas saídas para esta historieta que alimenta muita gente: ou se punem os responsáveis pelo abate na Portucale e, nesse sentido, tem de se destruir a auto-estrada, repondo-se os sobreiros que o Estado abateu e devolvendo as terras aos antigos proprietários, ou então enterra-se esta história e permite-se que, ali, se possa continuar o projecto, realizando-se mais dinheiro, ficando o Estado a ganhar pela via fiscal. Uma espécie de clique poderá desbloquear o processo e repor, ali, a economia a funcionar numa altura em que país necessita de investimentos.
Também se trata, aqui, de uma questão de "soberania", porque, numa fase em que chamamos investidores estrangeiros, vindos cada vez mais de ex-colónias portuguesas, podemos desbloquear um investimento português em terras portuguesas com um impacto local que pode voltar a impulsionar a região, perto de um local onde se prevê que, a médio/longo-prazo, possa ser construído (espero eu que seja por fases) o novo aeroporto de Lisboa.
Há apenas um "senão": o país, que devora e sobrevive à base de casos, perde um caso. Mas casos podemos arranjar. Investimentos e riqueza, sobretudo nesta altura, é que é mais complicado...
Não podemos continuar a rejeitar os investimentos e a riqueza para fins políticos e mediáticos.
E atenção: "Portugal não pode falhar!"

2 comentários:

zepovinho disse...

O seu "POST" está verdadeiramente de Parabéns, pela lucidez e frontalidade com que apresenta o assunto! E estou certo de que quem for também lúcido corrobora a sua opinião. Os tempos que vivemos são tempos de urgência nacional, de tudo ou nada... Terão de haver soluções de bom senso e de compromisso que devem contrapor fundamentalismos que por vezes não levam a lado nenhum como a tal Auto-estrada que no seu texto refere!!
Cumprimentos.

António Lopes da Costa disse...

E que honra esta de ter, aqui no meu blogue, um comentário do Zé Povinho! Mas é verdade: se o país quer andar para a frente, tem de arregaçar as mangas e dar margem a novos investimentos de privados, sobretudo aqueles que são de interesse público (por poderem ser rentáveis e de grande utilidade para a economia local).
Qualquer pessoa que passe por aquela zona, junto a Santo Estevão (Benavente), pode verificar tudo o que escrevi.
Cumprimentos