terça-feira, 6 de dezembro de 2011

As coisas boas da vida


Escrevi este texto várias vezes. Nunca saiu bem. Há dias assim. Mas sinto que tinha, ainda assim, de contar esta história, partilhando-a com as mães e com as filhas, como o exemplo de alguém que dá valor às coisas. O texto inicial era gigante, ninguém o iria ler. O segundo era grande, as pessoas iriam perder o fio à meada. Escrevo-o pela terceira vez, contando apenas o essencial.
Tem oito anos, é a minha afilhada mais velha e chama-se Matilde.
Há um ano, disse-me, a mim e à família, que queria ter uma consola. Registei.
Entretanto, passaram centenas de dias de aulas, de trabalhos de casa feitos, de brincadeiras. Passou o Natal, passou o seu dia de anos. Passaram centenas de páginas de livros lidos, que a Matilde lê que se farta. Passou muita coisa.
Não sei quantas horas terá investido a estudar os preços das consolas e dos jogos. Não sei quantos dias terá perdido a imaginar-se com a sua consola. Não sei quantos sonhos terá tido em que aparecia a jogar na sua consola.
Comprou-a na quinta-feira passada com o dinheiro que juntou de uma semanada simbólica que a nossa avó lhe dá. Podia ter pedido ao pai, à mãe, aos tios, aos avós. Graças a Deus que não pediu ao padrinho. Teve a capacidade de esperar um ano inteiro para, sem pedir a ninguém, comprar a sua consola.
Sendo, para muitos, uma história banal, este feito da Matilde é, na minha opinião, um grande exemplo. Porque demonstra que é especial. Que tem a virtude de, com oito anos, dar o verdadeiro valor às coisas, não querendo depender dos outros, não pedindo nada a ninguém.
Mas o título falava das coisas boas da vida. Não falava desta história (que é apenas uma de muitas) que a Matilde me obrigaria, em razão dos actos, a ter de partilhar.
Passei a tarde e a noite do dia seguinte a jogar com a Matilde na sua consola, partilhando a alegria com ela, enquanto apreciava a felicidade genuína e espontânea que sentia naquele momento. Nem eu nem ela queríamos estar noutro lugar, a fazer outra coisa. E, quando desligámos a consola, depois de horas a fio a experimentar todos os jogos, quando saí de casa pensei que tinha estado a aproveitar uma das coisas boas da vida.
Parabéns, Matilde. E obrigado.

1 comentário:

maria disse...

Pois eu apetecia-me ler mais :(

Parabéns Matilde :)

Há um psicólogo que diz, a propósito de algumas atitudes que os adultos têm para com as crianças, que as crianças são apenas crianças, que não são mini adultos...concordo perfeitamente, mas ao ler esta história da Matilde, fico com dúvidas...a Matilde, que apenas tem oito anos, é ainda uma criança, teve uma atitude que muitos adultos não conseguem ter...

Que não se perca pelo caminho, que seja sempre assim :)

Se algum dia pensou em pedir a alguém, talvez tivesse pensado no padrinho, mas...eheh

Bjs aos dois :))