segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Chamusca - Golegã


A competitividade, a concorrência e a rivalidade são três aspectos que fazem com que as coisas progridam. E quando falo em coisas refiro-me a tudo. Tudo. O partido que está no governo tem de conduzir bem os destinos do país, sob pena de ser substituído por um dos partidos da oposição. O jornal que não dá notícias com interesse perde os compradores para jornais concorrentes. As pessoas mudam de canal, se não virem novidades no telejornal. Se um clube não se reforçar bem e não tiver uma gestão desportiva rigorosa, vê o título fugir para um clube rival. Nós próprios, se não formos suficientemente bons naquilo que fazemos, somos substituídos pelos outros. Somos ultrapassados.
Não concebo, por isso, a vida sem essas rivalidades, que dela fazem parte. Nestes tempos novos, em que é preciso suar para "ganhar a vida", a ataraxia é meio caminho para a marginalização. E, chegado a esse ponto, é muito difícil recuperar.
Faz parte de mim defender, até aos limites, aquilo de que gosto. E, não tendo nascido nem vivido na Chamusca, sempre a olhei como a minha terra, como se fosse aquela onde estão as minhas raízes. Nesse sentido, vi sempre a Golegã, concelho vizinho, com aquele sentimento de rivalidade saudável, essencial para que um acabe por puxar pelo outro.
A Golegã, até há poucos anos, era a capital do cavalo e nada mais. Era conhecida apenas em virtude de realizar a Feira Nacional do Cavalo, que ainda é a principal atracção da vila. O Presidente da Câmara, José Maltez, eleito e reeleito pelo Partido Socialista, revolucionou positivamente o concelho. Aproveitando a notoriedade ganha com a realização da Feira, com a criação de cavalos e com o sucesso do seu mundo rural, hoje, a Golegã, é uma das "capitais do Ribatejo". Maltez não a descaracterizou. Aliás, são bem visíveis as estátuas e monumentos de homenagem ao passado local. Mas fez mais. Hoje, a Golegã, além da Feira de Novembro, tem outra em Maio. Na prática, tornou-se, efectivamente, na capital mundial do Puro Sangue Lusitano. Criou as condições e tem atracções durante todo o ano, como as feiras, as exposições, eventos desportivos, museus e por aí fora.
A Chamusca, a minha Chamusca, sendo, do meu ponto de vista, muito mais característica do que a Golegã e tendo muito melhores recursos que o concelho vizinho, parou no tempo. Na Chamusca, vila histórica à beira-rio, não há nada. Tinha ovos, mas não fez omoletes. Com os meios adequados para impulsionar o concelho, fechou-se para o mundo à boa moda comunista. Regrediu.
Com os meios adequados, que são únicos no país, não houve uma única política ou medida que tivesse em vista o impulso que o concelho precisa. Não há um museu, não há uma feira, não há uma exposição, não há capacidade de promoção das infraestruturas desportivas, não há nada.
As procissões, continuando dignas, estão cada vez mais tristes, contando com a participação das populações locais ou de gente que, por tradição, ali vai. A Ascenção, que é o grande motivo de interesse, perdeu o fulgor.
Isso reflectiu-se na economia local, controlada por algo que é obscuro e deseducado. Nesta terra de tradição multiplicam-se os crimes porque, como não há poder económico, também não há lei. Claro que acabou mal. O centro está deserto. As terras foram abandonadas. Por incrível que pareça, o próprio Café Central também fechou. E, assim, aqueles belos passeios construídos à beira-Tejo são uma terra de ninguém.
Feito o balanço do mandato do Presidente que cessará funções neste mandato, com a devida simpatia que me merece a pessoa, tenho poucas coisas boas para dizer.
Comparando com a Golegã, falamos do dia e da noite. E isso entristece-me.
A Chamusca precisa de voltar a ter vida. De pôr os olhos no que foi feito na Golegã. Fazendo-o, terá de sonhar alto, como sonhou Maltez e os nossos rivais da outra margem.
Se temos a Ascenção em Maio, as corridas de toiros deverão promover a lide de toiros criados pelas ganadarias locais. Se temos autênticas relíquias, pois que as juntemos, fazendo um museu, com uma exposição permanente e outras temporárias, alusivas aos temas que são características locais. Se temos alguns dos melhores campos do país, pois que se façam todos os esforços para activar a Cooperativa Agrícola. Se temos um campo de futebol com óptimas condições, pois que encontremos parceiros, promovamos torneios que tragam gente ao concelho, assim como com o pavilhão. Depois disto, que é o básico, há que puxar pela cabeça. Criar uma feira de gado (e por que não uma feira do cavalo em Julho ou Setembro?) com concursos que sejam importantes, "forçando" as pessoas a virem cá. Criar um festival alternativo de música, capaz de trazer jovens, aproveitando o espaço à beira-Tejo. Reactivar, na Chamusca, a rádio. Criar um evento de gastronomia, publicitando a restauração local. Criar condições favoráveis à criação de unidades hoteleiras. Realizar protocolos para que algumas peças de teatro possam vir à região, no nosso moderno Cine-Teatro.
Dizem-me que a Câmara não tem dinheiro. E a Golegã tinha? Então e as obras que foram feitas, que são bonitas, mas que, na prática, não servem a ninguém?
Gasta-se um dinheirão em excursões para fora quando se devia apostar no turismo, fazendo com que se fizessem excursões para cá!
Faça-se um esforço daqui para a frente. Invente-se e reinvente-se. Crie-se e recrie-se a Chamusca. Só dessa forma, as pessoas irão apreciar a vista dos nossos miradouros, admirar-se com a beleza da sintonia entre a charneca e o Tejo, surpreender-se com a dignidade das nossas Igrejas, fazer o trajecto até ao Castelo de Almourol.
Caso contrário, e voltando ao início, os chamusquenses podem continuar vergados, tristes, derrotados, inertes e humilhados perante a estrondosa vitória dos nossos vizinhos da Golegã.

2 comentários:

João disse...

A chamusca tem uma banda, que fica situada na freguesia da carregueria que tem muito poucas condições de funcionamento mas apesar de tudo continua a ser uma das melhores bandas filarmonicas do distrito.
Queremos fazer muito melhor, queremos formar mais e melhor mas isso implica custo, implica dinheira. Esse não temos.

António Lopes da Costa disse...

Caro João,

Obrigado pelo seu comentário, que, creio eu, acrescenta um argumento que, por lapso, não o trouxe e que tem relação com o texto: sabe qual é a percentagem que a CM Golegã investe na cultura? Daquilo que sei, cerca de 20%. Se não me engano, há três bandas filarmónias no concelho da Golegã.
Mas, do meu ponto de vista, nem tudo se deve à falta de dinheiro. Houve dinheiro mas foi gasto em coisas que, sendo bonitas, não servem a ninguém.
Há que ter capacidade para inovar, de mostrar o que esta terra produz. Temos de divulgar o que temos. E o que temos é bom. Nem sempre é preciso ter, logo, o dinheiro. Primeiro é preciso divulgar e trazer gente, gente que deixe dinheiro. E é assim que se desenvolve o concelho.
Com a simpatia que me merece o executivo camarário actual, a Chamusca está a degradar-se. Está a regredir a olhos vistos.
Não há dinâmica, não há nada. Este executivo, que está no fim de vida, não é um executivo de gestão, apesar de parecer.
Os chamusquenses devem pôr os olhos no que está a ser feito na Golegã, sentir o orgulho ferido e puxar, de uma vez por todas, com a mesma seriedade de sempre, a sua terra para a frente!

Um abraço