segunda-feira, 12 de março de 2007

O futuro da direita em discussão, em Lisboa








Dada a conjuntura e tendo em conta a minha enorme preocupação com o estado da direita e do meu Partido, em particular, resolvi ir a uma conferência promovida por Manuel Monteiro, onde se iria discutir o futuro da direita em Portugal e no Mundo. Isso, sim, é útil. O debate é muito importante para a resolução dos problemas.

Resolvi, dado que a comunicação social às vezes não mostra, ou melhor, mostra de uma forma algo manipulada o que, de facto, se diz, levar um bloco de notas e uma caneta, para aqui fazer um resumo do que ali se debateu.

Pedro Santana Lopes, Francisco Sarsfield Cabral e Paulo Otero foram os convidados de Manuel Monteiro e da Nova Democracia para uma conferência onde se discutia o futuro da direita.

O primeiro a falar foi Paulo Otero, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que começou por colocar três questões: quais os momentos históricos da direita em Portugal, quais os seus valores e se será reaccionária.
Em relação à primeira questão que colocou, o professor explicou que a direita apareceu em 1820, aquando da Revolução Liberal no nosso país, sendo a favor do rei, mas contra as cortes, sendo mais tarde contra as leis de 1822 e aparecendo ligada à Igreja Católica. Curiosamente, desde o seu início que a vida da direita está longe de um consenso. Em 1833 é formada uma noção ibérica, ligada ao problema da sucessão, tendo três palavras-chave: Deus, Pátria e Rei. Em 1936, ano em que decorre, em Espanha, uma Guerra Civil, Salazar caracteriza os ideais da direita, dizendo que há 5 pontos indiscutíveis: a autoridade, a Pátria, a família, a Igreja e o trabalho.
Com o 25 de Abril de 1974, a direita passa a ser vista pela negativa, “fora de moda”, refugiando-se na ideia de centro.
Hoje, os valores da direita baseiam-se, segundo Otero, na centralidade da pessoa humana viva e concreta
, sendo influenciada pelos ideais kantianos, pelo cristianismo e pelo existencialismo cristão. Foi também referido o ideal da supletividade do Estado, ou seja, a tentativa de fazer com que o primado esteja na pessoa, como um valor característico da direita.
Em relação à diferença entre direita e esquerda, o professor referiu que as grandes diferenças residem no facto de a direita adoptar uma moral judaico-cristã, considerando que a liberdade não era absoluta. Absoluta é a pessoa. Assim, a direita, normalmente, rejeitaria o aborto e a eutanásia, sendo a família um valor nuclear, definindo o casamento como o vínculo de duas pessoas de sexos diferentes. Outra diferença entre esquerda e direita está no apego à História, preferindo a Nação e a Pátria ao Estado.
Foi, também, referido o dogma da autoridade, visto que, segundo Paulo Otero, a direita prefere um modelo de orgãos singulares, onde o executivo tenha mais poder que o parlamento.
Em relação ao facto de se dizer que a direita é reaccionária e ultraliberal, Otero recorreu ao exemplo recente do aborto, dizendo que “a lei aprovada na Assembleia da República sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez é, essa sim, reaccionária”, concluindo que “nunca se viu nada tão reaccionário no século XXI como a lei aprovada pela esquerda sobre a IVG” e que, com esta lei, “a vontade passa a ter um poder tão grande ao ponto de condenar à morte”, sendo que “o mais forte passa a suprimir a vida do mais fraco”, o que vai contra os próprios ideais da esquerda.

Francisco Sarsfield Cabral disse que “a partir do 25 de Abril de 74 todos eram de esquerda”, sendo que, na altura, o Partido mais à direita que existia era de centro. Contudo, hoje, “a situação está normalizada”.
Disse Sarsfield Cabral que não existem grandes diferenças entre os dois maiores partidos: o PS e o PSD. Quanto ao governo de Sócrates, caracterizou-o como um governo que segue políticas de direita, pegando nos temas fracturantes, como o do aborto, para mostrar alguma diferença em relação à direita.
Esta intervenção de Sarsfield Cabral incidiu mais sobre os Estados Unidos do que, propriamente, sobre Portugal, dizendo que “o que acontece em Portugal acontece primeiro lá fora”, deixando para Santana Lopes, que “conhece melhor por dentro a realidade nacional”, a tarefa de caracterizar, criticar e propor um caminho para a direita portuguesa.

A intervenção mais aguardada era a do ex.-Primeiro-Ministro Pedro Santana Lopes, que começou por explicar a importância que aquele auditório tinha para ele, visto que Santana havia estudado Direito naquela mesma Universidade.
Começou por explicar o motivo de ter aceite o convite, elogiando Manuel Monteiro pela coragem de se mostrar como um político profissional.
Em relação ao que haviam dito Francisco Sarsfield Cabral e Paulo Otero, Santana Lopes disse que era importante separar casamento de união de facto e concordou com ideia de dar uma maior importância à memória, ao património e à Pátrias, apesar de pensar que se deve dar relevância ao Estado, enquanto regulador.
No que diz respeito à distinção esquerda-direita, Santana atribuiu à esquerda a responsabilidade por, hoje, quase não conseguirem distinguir os seus ideais, dizendo que nos nossos dias “ninguém acredita nas nacionalizações”. Continuou, num tom irónico, achando “interessante ver os socialistas a pensar em que lado de uma OPA estão”, porque isto significa, no fundo, perguntar em que lado do capitalismo acham mais certo estar.
Foi muito objectivo na caracterização do trabalho e da popularidade da direita e dos seus líderes desde o 25 de Abril, dizendo que todos os lideres de direita falharam, exceptuando Cavaco Silva e Francisco Sá Carneiro. Ele próprio falhou. Balsemão falhou. Marcelo Rebelo de Sousa falhou. Até Durão Barroso, Manuel Monteiro e Paulo Portas falharam. Na esquerda, todos os líderes acabaram por triunfar, deixando o exemplo de António Guterres, que, apesar de tudo, governou durante 6 anos. É neste contexto que nasce a necessidade de se restaurar o equilíbrio.
Mas o grande momento estava guardado para o fim, quando Santana disse que é impossível pensarmos em partidos unidos se tiverem diferenças ideológicas tão grandes, acrescentando que é totalmente diferente uma pessoa ser movida pelas suas convicções de outra que é movida pelos seus interesses particulares. Continuou dizendo que é natural assumir essas diferenças e essas fracturas.
Disse também o actual deputado que “a política não pode ser uma passerelle” e que as eleições são cada vez mais “fulanizadas”, dizendo também que cabe à direita repor a procura dos valores e das ideologias. Aliás, Santana chegou ao ponto de dizer que “Portugal está perto da Coreia do Norte e da Rússia, pois há várias notícias que correm na net e nas quais todos falamos, mas que não saem cá para fora”.
Santana trouxe mais ideias, ao revelar acreditar que as pessoas querem seriedade, estabilidade, honestidade e poder de decisão, o que pode ser interpretado como uma crítica à liderança de Marques Mendes ou até à postura de José Sócrates. Outra ideia é a valorização da diferença.
Pedro Santana Lopes acabou esta sua intervenção em grande ao dizer que “quem gosta de política, gosta do poder e da oposição, gostando de lutar nos dois lados”.


E já agora, falo do que o Marcelo disse sobre isto.
Em primeiro lugar, Marcelo não estava no auditório, logo não viu o que lá foi dito. O que sabe vem de um resumo que as televisões fizeram sobre as declarações destas pessoas. A minha teoria quanto a isto é que quem não estava, quem não sabe, não fala.
Em segundo lugar, julgo que Marcelo não percebeu a ideia da conferência. Não foi uma tentativa de Santana revelar que a divisão da direita pode culminar com o aparecimento de novas organizações ou partidos, mas um debate muito útil sobre a actualidade, o passado e, sobretudo, o futuro da direita no panorama político nacional e mundial.
Por último, no meu entender todos os partidos, organizações ou, simplesmente, opiniões de pessoas são muito úteis para a democracia, independentemente dos resultados que alcançam nos actos eleitorais. Ao dizer “falar para 6 ou 7 gatos pingados”, Marcelo estava a referir-se a várias mulheres e homens que ali estavam na qualidade de pessoas livres, verdadeiramente interessadas pela causa pública. Pior do que isso, é ridicularizar um partido, a Nova Democracia, simplesmente por ser menor (ter um menor peso, digo!) e por ter alguns ideais distintos dos seus. Isso não é respeito, tolerância nem útil para melhorar o futuro da direita. Isso não é democracia. E não me revejo nisso.

3 comentários:

Luis Cirilo disse...

António só um pequeno comentário:
desde quando o prof.Marcelo se preocupou com o rigor do que diz e com a confirmação factual das suas teorias ?
ele constroi a tese em função do que lhe dá jeito dizer e depois ,com os contorcionismos mentais que se conhecem,adequa a realidade ao seu pensamento.
È o verdadeiro artista...

Anónimo disse...

das duas uma: ou eles(m&m etc) ou eu.
porque com eles à frente nao vamos a lado nenhum e nao ha uniao.
e comigo o psd é de luta, de combate, de forte oposicao ou mesmo de governo.
escolham

tens dito e bem dito, continua.

Anónimo disse...

Parece é que o Marques Mendes já está a fazer as listas de Deputados. Vamos correr com o Sócretino.