sábado, 9 de junho de 2007

O adeus do Ricardo Coração de Leão



Sá Pinto é o protótipo do jogador com amor à camisola, o que já não existe, nos nossos dias. Talvez por isso seja mal-amado entre vários adeptos de diversas equipas, sobretudo de equipas rivais.

Começou no Salgueiros mas rapidamente despertou a atenção dos dirigentes do Sporting. Em 1994 já vestia a camisola verde e branca, com o emblema do leão ao peito. Foi o jogador que mais gostei de ver jogar no meu clube, além, claro, dos talentos imensos que nascem e se desenvolvem todos os dias na nossa casa.

Mas hoje, dia 10 de Junho, o primeiro dia de Portugal que este blogue vive, não podia perder a oportunidade para homenagear um português diferente e um sportinguista como muitos - ele também é um fanático.

O Sá Pinto é um símbolo do Sporting e, talvez, o maior símbolo de sempre do clube. Ele representa todos os adeptos do clube, quando e onde quer que esteja.

No campo, hoje, normalmente, os jogadores correm o suficiente para merecer bons ordenados, mas o Sá Pinto comia a relva, lutava contra tudo e contra todos, puxava pelos adeptos, levava a equipa às costas, chorava e dava pontapés e murros na relva quando falhava "golos fáceis". Ele lutava pelo Sporting, a sua equipa, até ao último segundo. Se calhar, depois do jogo ainda lutava pela vitória do Sporting...


Sá Pinto é um jogador que nunca jogaria no Porto ou no Benfica. O Sá Pinto é um sportinguista exemplar. Sem dúvida que se a direcção do Sporting quisesse imortalizar o atleta com uma estátua nas imediações do Alvalade XXI, tal facto seria pouco para homenagear um jogador que só não fez mais no Sporting, claramente, porque não sabia.

Ninguém vai esquecer o episódio da agressão de Sá Pinto a Artur Jorge. Eu não esqueço. Sá Pinto marcou, com uma agressão, uma viragem no rumo da selecção nacional, em que os jogadores eram seleccionados por causa dos "lobbies" dos clubes. Não jogavam os melhores, mas os que os responsáveis dos clubes onde jogavam os atletas queriam que jogasse. Sá Pinto, da forma que sabia, expressou a sua revolta. E, enquanto português, acho que um jogador como o Sá Pinto devia ser convocado para todos os jogos da selecção.

O Sá Pinto não é uma estrela. Ele não trabalha em função do dinheiro. Luta, em função de um clube, de uma emblema, de uma camisola.

O Sporting podia estar a ganhar 10-0 que no 11ºgolo, o Sá Pinto o festejaria como se fosse um golo da vitória, marcado no último jogo dos descontos da 2ªvolta de uma meia-final da Liga dos Campeões. O Sá Pinto não é um homem vulgar. O Sá Pinto deve ser imortalizado. Todos os sportinguistas deviam conhecer quem foi Sá Pinto, a forma como jogava, as pessoas que arrastava consigo, a empatia com os adeptos do Sporting...Todos os sportinguistas deviam ver as imagens que eu vi ao vivo, no estádio da Luz, quando o Sporting ganhava por 3-1 ao Benfica e o Sá Pinto quando saiu, festejou a vitória connosco, com aquele seu estilo tão característico. Foi um momento único, que vivi no estádio, com milhares de Sportinguistas, em pé, aos saltos, a gritar pelo Sá Pinto. Nessa altura, os benfiquistas, que permaneciam no estádio perante tal domínio do Sporting, estavam desesperados, inquietos e tristes. Foram momentos inesquecíveis.
Ricardo Manuel da Silva Sá Pinto despede-se, em princípio, hoje dos relvados no estádio de Alvalade. É com algumas lágrimas que recordo os momentos que o Sá Pinto passou no Sporting, enquanto jogador e espero que possa continuar a estar em Alvalade enquanto sportinguista e, se possível, enquanto "empregado do Sporting". O Sá Pinto é uma referência para todos os sportinguistas e adeptos de futebol.
Enfim. Temos de aceitar o ciclo da vida. A idade pesa e o Sá Pinto, com 35 anos retira-se. É triste não podermos ver o Sá Pinto jogar sempre e é com emoção ou mesmo com lágrimas que o vemos despedir-se, no estádio que ele adora, do clube que adora, infelizmente, com uma camisola que não é a do seu clube. Quem sabe, um dia, volte a vesti-la...
Se muitos, de outras gerações, escolhem o Eusébio como "o rei", eu escolho Sá Pinto. E, basicamente, por 4 palavras: Esforço, dedicação, devoção e Glória.

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